17/06/2013

Paraná: MPF/Guaíra verifica as péssimas condições de vida de indígenas na região de Guaíra e Terra Roxa

 

Depois de visita técnica, procuradores instauraram 45 procedimentos administrativos e um procedimento investigatório criminal, além de requisitar a instauração de dez inquéritos policiais

 

Prestes a completar um ano de atuação na cidade de Guaíra-PR, o Ministério Público Federal tem atuado de forma incisiva na defesa da população indígena da região noroeste do Estado do Paraná. Com este enfoque, os procuradores da República Lucas Bertinato Maron e Henrique Gentil Oliveira realizaram visitas técnicas aos quase 1.800 indígenas que residem em 13 aldeias nos municípios de Guaíra e Terra Roxa, entre os dias 4 e 7 de junho.

 

Como resultado dos elementos coletados nestas visitas técnicas, o MPF instaurou 45 procedimentos administrativos, promoveu a instauração de um procedimento investigatório criminal e requisitou a instauração de dez inquéritos policiais a fim de garantir à minoria indígena a possibilidade de respeito ao princípio da Dignidade da Pessoa Humana.

 

 

Desrespeito – Durante as visitas foi possível averiguar diversas situações de desrespeito às mínimas condições de vida dos integrantes da comunidade indígena (etnia guarani). Em muitas aldeias, a única fonte de água disponível para beber vem de mananciais impróprios para o consumo humano, muitas vezes contaminados por agrotóxicos e fertilizantes. Foi possível verificar que, dentre as 13 aldeias visitadas, apenas em três há fornecimento de água potável aos moradores.

 

 

Além disso, a falta de acesso à educação na língua materna foi apontada como outro grande desafio a ser superado. Apenas em uma das aldeias foi construída uma escola modular, com condições mínimas de aprendizagem em sua língua materna. Fora isso, a educação regular junto à rede pública permite o convívio entre índios e não-índios, o que poderia possibilitar interações interculturais harmônicas. No entanto, em razão do clima hostil instalado na região, a convivência tem ocasionado episódios de racismo e intolerância, com relatos de agressões psicológicas por parte de alguns colegas de turma não-indígenas, que os acusam de querer “tomar” a cidade. De resto, há relatos de que alguns professores impediram o acesso de índios à merenda como forma de castigo.

 

Ainda neste sentido, atitudes racistas têm sido praticadas por alguns dos munícipes. Nas redes sociais, sites e jornais é possível verificar que há bolsões de repúdio à presença dos índios na cidade. Nas visitas técnicas foi relatado ao MPF que empresas de médio porte teriam demitido todos os empregados de etnia guarani de uma só vez, como forma de represália aos indígenas por estarem postulando a demarcação de terras.

 

 

A falta de emprego e de alimento das comunidades indígenas, bem como as péssimas condições de moradia e vida, tem provocado, inclusive, a adoção de atitudes extremas por alguns dos índios. Nos últimos seis meses, dois indígenas cometeram suicídio, o que mostra que todo o clima de animosidade existente na região tem trazido resultados desastrosos para o povo guarani, que, por sua condição de hipossuficiência, é a mais vulnerável vítima do contexto conflituoso.

 

Veja aqui os relatórios das visitas técnicas:

Aldeia Indígena Tekohá Araguaju

Aldeia Indígena Tekohá Guarani

Aldeia Indígena Tekohá Jevy

Aldeia Indígena Tekohá Karumbey

Aldeia Indígena Tekohá Marangatu

Aldeia Indígena Tekohá Mirim

Aldeia Indígena Tekohá Nhemboete

Aldeia Indígena Tekohá Pohã Renda

Aldeia Indígena Tekohá Porã

Aldeia Indígena Tekohá Porú

Aldeia Indígena Tekohá Tajy Poty

Aldeia Indígena Tekohá Taturi

Aldeia Indígena Tekohá Yhvy

 

Fonte: Procuradoria da República no Paraná
Share this: