29/04/2013

Xavante de Marãiwatsédé reafirmam mortes de crianças, apesar de desmentido de secretário

Por Renato Santana,

de Brasília (DF)

 

Crianças Xavante. Foto: Marcy Picanço/Arquivo CimiO povo Xavante da Terra Indígena Marãiwatsédé, noroeste de Mato Grosso, recebeu com indignação a declaração feita pelo secretário de Saúde do município de Alto Boa Vista (MT), desmentindo a informação da morte de três crianças na comunidade.

 

Juraci Rezende Alves desafiou, no último dia 25, qualquer cidadão a mostrar os corpos dos jovens Xavante. “As crianças que morreram são, inclusive, netas do cacique Damião Paradzane. Nossas crianças estão morrendo há anos”, afirma padre Aquilino Xavante.  

 

As declarações do secretário ocorreram durante sessão da Câmara dos Vereadores de Alto Boa Vista. Alves encaminhou notificação extrajudicial para veículos de imprensa que noticiaram os óbitos, exigindo a retirada da informação do ‘ar’.

 

Prontamente o secretário foi rechaçado publicamente pela enfermeira da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), órgão do Ministério da Saúde, Lúcia Oliveira Nunes, que o convidou a ir ver as covas. Há dois anos a profissional atua em Marãiwatsédé.

 

Tais mortes se refletem em problemas antigos. Conforme Aquilino e Lúcia, os indígenas preferem ser atendidos pela rede hospitalar de Bom Jesus do Araguaia, mais distante da aldeia, do que em Alto Boa Vista.  

 

Os sintomas apresentados pelas crianças mortas são diarreia, vômito e desidratação. Suspeita-se de que o quadro é motivado pela contaminação de agrotóxicos na água; dezenas de crianças – entre um e cinco anos – apresentam exposição a tais sintomas por conta da falta de acesso a atendimento adequado de saúde.

 

“Nos atendem mal e pouco fazem pela nossa saúde. Muito triste ver tanto sofrimento, as mulheres chorando durante toda noite. Isso é o que está acontecendo, independente do que pensa o secretário”, disse Aquilino. A preocupação é que mais mortes ocorram; três outras crianças estão em estado avançado de desnutrição.  

 

Caso a caso; cova a cova

 

As mortes negadas pelo secretário ocorreram este ano nos dias 7 de março: Edinalva Xavante, de dois anos; no dia 17 de março: Leomar Xavante, de 1 ano e dois meses; e no dia 23 de março: Elza Xavante, de 1 ano e dois meses. As crianças são netas do cacique Damião, mas se somam a quase uma centena morta entre 2011 e este ano. São pequenos e pequenas vítimas de diarreia, vômito e desnutrição, além de outras moléstias de ordem infecciosa.

 

Em 2010, de 200 crianças Xavante nascidas, 60 morreram por falta de assistência à saúde. Nos quatro primeiros meses de 2011, 35 crianças Xavante morreram em decorrência de desnutrição, doenças infecciosas e respiratórias.    

 

O indígena Wanderley Daduwari Xavante declarou que as lavouras das fazendas existentes em Marãiwatsédé, desintrusadas pelo governo federal entre o final do ano passado e início deste ano depois de determinação do STF, eram regadas a agrotóxicos.  

 

“Os adultos sentem dores de cabeça, dores pelo corpo, ficam doentes. O veneno corre em nossas águas e está na terra, porque as fazendas eram vizinhas do lugar que então ocupávamos. Se é ruim para os adultos, imagina para as crianças”, disse Wanderley.

Fonte: Assessoria de Comunicação - Cimi
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