05/03/2013

Eis-me aqui Senhor, envia-me!

Estamos em tempo de quaresma, tempo de conversão, ano da fé, refletindo o tema da CF – Fraternidade e Juventude. Dentro deste contesto religioso, estamos vivendo em nossa sociedade, especificamente no Mato Grosso do Sul frente às diferentes realidades de opressão que estão acontecendo, um clima propício para parar e pensar em nossa atitude de fé e conversão. Convido a todos e todas, a meditar o verdadeiro jejum recomendado pelo Isaías. 

 

Assim fala o Senhor Deus: Grita forte, sem cessar, levanta a voz como trombeta e denuncia os crimes do meu povo e os pecados da casa de Jacó.

 

Buscam-me cada dia e desejam conhecer meus propósitos, como gente que pratica a justiça e não abandonou a lei de Deus. Exigem de mim julgamentos justos e querem estar na proximidade de Deus:

 

′Por que não te regozijaste, quando jejuávamos, e o ignoraste, quando nos humilhávamos?’ – É porque no dia do vosso jejum tratais de negócios e oprimis os vossos empregados.

 

É porque ao mesmo tempo que jejuais, fazeis litígios e brigas e agressões impiedosas. Não façais jejum com esse espírito, se quereis que vosso pedido seja ouvido no céu.

 

Acaso é esse jejum que aprecio, o dia em que uma pessoa se mortifica? Trata-se talvez de curvar a cabeça como junco, e de deitar-se em saco e sobre cinza? Acaso chamas a isso jejum, dia grato ao Senhor?

 

Acaso o jejum que prefiro não é outro: – quebrar as cadeias injustas, desligar as amarras do jugo, tornar livres os que estão detidos, enfim, romper todo tipo de sujeição?

 

Não é repartir o pão com o faminto, acolher em casa os pobres e peregrinos? Quando encontrares um nu, cobre-o, e não desprezes a tua carne.

 

Então, brilhará tua luz como a aurora e tua saúde há de recuperar-se mais depressa; à frente caminhará tua justiça e a glória do Senhor te seguirá.

 

Então invocarás o Senhor e ele te atenderá, pedirás socorro, e ele dirá: ‘Eis-me aqui’.

 

Recentemente ouvimos e vimos falar do assassinato de um jovem que pescava peixe em um açude, para saciar a fome quando foi brutalmente assassinado por um fazendeiro. O mesmo confessou o crime e até agora nada foi feito. O fazendeiro permanece solto enquanto a Polícia Civil conduz as investigações e elabora o inquérito. Seis dias depois do assassinato, homens armados atacaram o acampamento da retomada indígena, que está localizado próximo ao açude onde mataram Denilson que passou a ser chamada de Tekohá Pindo Roky.

 

Diante de mais um fato ocorrido e de tantas outras violações de direitos que vem acontecendo contra as comunidades indígenas, como religiosa não poderia deixar de manifestar o meu sentimento de dor, compaixão e indignação por ver diariamente este povo como ovelha sem pastor. Vulnerável à beira da estrada, nos fundos de fazendas, nas praças, nas ruas da cidade, nas escolas e nas igrejas, enfrentando todo tipo de discriminação e violação de direitos.

 

Esta semana, junto à equipe do Cimi, como missionária, estive em vários acampamentos, terras indígenas, junto a comissões que visitavam as comunidades, cada uma manifestando seu gesto de solidariedade, compromisso e compaixão pelo povo. Isto mexeu profundamente com meu ser cristão e me veio este texto de Isaías. Isto confirmou em mim o que é viver o verdadeiro jejum, penitência. E aí estamos juntos aos povos indígenas, derramando nosso suor na luta pela defesa de suas vidas. Ao mesmo tempo aprendendo tanto com eles. Apesar do sofrimento e da dor que passam, seus rostos estão sempre alegres. Manifestando gestos de acolhimento, sensibilidade e, sobretudo muita resistência. Lutando para que o dia da paz, justiça e libertação aconteça e possamos todos, independente de etnias, classes sociais ou crenças, vivenciar o Bem Viver para sempre!

 

Que a justiça seja feita. Para que todo este sangue derramado ao longo desses anos não seja em vão, mas que brote cheios de esperança e vida nova!

 

Amém! Awere! Axé! Porã!

 

Ir. Joana Aparecida Ortiz

Franciscana Aparecida

 

Fonte: Ir. Joana Aparecida Ortiz / Cimi Regional Mato Grosso do Sul
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