Avante Xavante de Marãiwatsédé
Finalmente a volta da terra, da mata e animais restantes. A destruição passou. Aliás, está passando. Enquanto os grandes gananciosos, escudados atrás de alguns iludidos pequenos produtores, ali fizerem a sua trincheira de guerra, a destruição continuará. Quem sabe os mesmos búfalos da FAB (Força Aérea Brasileira) que na década de 60 tiraram os Xavantes de seu território, possam se redimir, levando agora os fazendeiros invasores para bem longe. E o INCRA poderia se apressar em desapropriar alguns latifúndios da região para reassentar os pequenos trabalhadores rurais. Assim se apressaria a justiça e o cumprimento da Constituição.
Argumentos falazes
Há poucos dias vi estampado na mídia manchetes raivosas e mentirosas dizendo que mais de sete mil pessoas seriam jogadas na miséria com a sua retirada da terra indígena Xavante de Marãiwatsédé.
“Aproximadamente 700 índios xavantes poderão ser donos de um latifúndio já ocupado e beneficiado por cerca de 7.000 pessoas… Até o dia 6 de dezembro, aproximadamente 7.000 pessoas terão que desocupar a gleba Suiá-Missú, localizada entre os municípios de Alto da Boa vista, Bom Jesus do Araguaia e São Félix do Araguaia“ (Rui Prado – Justiça Injusta).
A referida matéria destila argumentos falazes, como disse Dom Luciano, por ocasião da CPMI, contra o Cimi, em 1988.
Os números são mentirosos. Conforme levantamento do IBGE, não chega a 2.500 pessoas a população que vive nessa área, incluindo índios e não índios.
Ao afirmar que índios e “não índios viviam em harmonia” e que os “índios são entraves econômicos”, a mídia repete os mesmos jargões mentirosos como nos tempos da ditadura militar, quando os índios Kaingang e Guarani, do sul do país, começaram a expulsar os milhares de invasores de seus territórios. Certamente havia harmonia entre os grandes invasores e aqueles que estavam sendo iludidos com a promessa de legalização das terras que estavam sendo invadidas. E quem sabe existia a harmonia de cemitérios, entre os índios assassinados e os deportados para centenas de quilômetros de seu território originário. Lembro-me bem que o discurso dos invasores na década de 70 era de que se tirassem os “brancos” das terras indígenas, estes morreriam de fome e abandonariam suas terras para acompanhar os que estavam sendo retirados. Mais de 30 anos depois, vemos os povos indígenas do sul em suas terras em grande parte recuperadas, construindo, com dificuldade, com dignidade seus projetos de autonomia e bem viver.
A volta da vida
“Os animais não podem sofrer mais com tanta destruição da natureza. Quando a terra for devolvida para nosso povo, a floresta vai viver novamente. Vão voltar animais e plantas. Nossa mãe vai ficar muito forte e bonita como sempre foi. É assim que vai ser” (Cacique Damião Paridzane – dezembro de 2012).
As palavras carregadas de sabedoria e profecia, são a certeza de que algo de novo e melhor acontecerá para todos, Xavante e a natureza. Porém, as ameaças e os riscos continuam a rondar as terras indígenas e seus projetos de vida e autonomia. Será preciso solidariamente lutar por transformações profundas em nosso modelo de sociedade para dar concretude aos sonhos do cacique Damião
Dom Pedro, amigo dos Xavantes, dos posseiros e dos pobres
O profeta da vida, da transformação e da vida, na mira do latifúndio. Os mesmos interesses que na década de 70 o acusavam de comunista e instavam o governo militar a expulsá-lo do país, voltam agora à carga com ameaças, “acusando-o” de responsável pela devolução da terra aos Xavante e a retirada dos não índios. Uma iniqüidade. Pedro volta às catacumbas, à sua trincheira de luta, pela justiça, solidariedade e esperança.
Representantes dos Xavante e Bororo, foram levar seu apoio às comunidades Kaingang e Guarani, do sul do país, em 1976. Hoje esses povos prestam seu apoio e solidariedade aos Xavante de Marãwatsédé, na luta pela retirada de todos os invasores de seu território.
Egon Heck
Povo Guarani Grande Povo