28/09/2012

Candidatos deixam eleitores indígenas em situação precária em Atalaia do Norte

Por J.Rosha,

de Manaus (AM)

 

Korubo do Vale do Javari: assédio de candidatos prejudica ainda mais vida das comunidades. Foto: J.Rosha/cimiAté o próximo dia sete de outubro, por ocasião das eleições municipais, a cidade de Atalaia do Norte (localizado a oeste do Estado do Amazonas, na fronteira com o Peru, a 1.136 quilômetros de linha reta de Manaus), deverá receber em torno de mil eleitores da terra indígena Vale do Javari. Eles são Mayoruna, Matis, Marubo, Kanamari e Kulina e vem de localidades distantes e de difícil acesso, nas cabeceiras dos principais rios que formam a bacia do rio Javari. Muitos foram incentivados por candidatos, ávidos de assegurar suas vagas na Câmara Municipal e Prefeitura. 

 

A informação foi apresentada pelo coordenador regional da Funai local, Bruno Cunha de Araújo Pereira. Ele abordou o assunto durante reunião realizada naquela cidade nos dias 26 e 27 de setembro, promovida pela Associação Indígena Matis – Aima, da qual participaram representantes da Fundação Nacional do Índio – Funai, Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do javari, Distrito Sanitário Especial Indígena – Dsei, Conselho Indigenista Missionário – Cimi. Centro de Trabalho Indigenista – CTI e Secretaria Municipal de Saúde. 

 

De acordo com o coordenador da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari – Univaja, Jáder Comapa Franco, um dos candidatos a prefeito estaria incentivando o deslocamento dos indígenas para Atalaia do Norte para o dia da eleição. “O problema é que eles vem para a cidade e ficam nas canoas, na margem do rio, sem nenhum proteção e em condições precárias”, diz Jáder Comapa. “Ontem deu uma chuva forte e eles perderam grande parte da alimentação que trouxeram”, disse o coordenador da Univaja. 

 

Os líderes das organizações indígenas sediadas em Atalaia do Norte dizem que a cidade não tem estrutura para acolher os eleitores que vem das aldeias. “Não tem água potável. Eles apanham água diretamente do rio que, devido ás chuvas, virou lama. Quem sofre mais são as crianças”, destaca Jáder Comapa. 

 

Na semana passada aconteceu reunião com indígenas, representantes dos órgãos de assistência e autoridades para buscar soluções. Na ocasião, foi criada uma comissão encarregada de, entre outras coisas, providenciar condições para o retorno das famílias indígenas às suas aldeias. A comissão tem finalidade também de orientar os eleitores indígenas para que estes não sejam induzidos a “vender” o voto no dia das eleições. 

 

Integrantes da equipe do Conselho Indigenista Missionário – Cimi informaram que no último dia 24 nasceu uma criança Kanamari dentro de uma das canoas às margens do rio Javari. A equipe deu apoio à família levando a criança para a Casa de saúde Indígena – Casai, para vacinação e outros cuidados. 

 

Sem proteção

 

Apenas um funcionário da Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari, da Funai, permanece na base localizada nas confluências dos rios Ituí e Itacoaí devido a falta de recursos, disse aos indígenas o coordenador da Frente, Fabrício Amorim. A Base tem a responsabilidade de proteger a terra indígena contra invasão de madeireiros, pecadores e caçadores e também garantir a integridade física dos indígenas sem contato com a sociedade envolvente.

 

 A terra indígena do Vale do Javari tem o maior número de povos isolados e sem contato – ao todo, são 13 povos, de acordo com dados oficiais. Destes, os mais conhecidos são os Korubo, também chamados de “caceteiros” por causa das bordunas que eles portam com frequência.

 

“Nós vamos deixar passar esse período eleitoral para buscar providências junto à Funai e aos outros órgãos do Governo Federal”, disse Jader Comapa.

Fonte: Cimi Regional Norte I - Assessoria de Comunicação
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