Xikrin e Juruna ocupam barragem de Belo Monte, no Pará
de Altamira, Pará
Desde quinta-feira, 21, indígenas dos povos Xikrin e Juruna afetados pela Usina Hidrelétrica de Belo Monte ocupam um terreno de construção da barragem. Eles decidiram pela ocupação para manifestar insatisfação com o desrespeito de seus direitos e o não cumprimento das condicionantes, em especial relativas aos indígenas.
Com organização própria e contando apenas com seus recursos, eles ocuparam uma ensecadeira que está sendo construída no Sítio Pimental, que visa permitir a construção da obra. A manifestação é pacífica, e eles exigem a presença de representantes do Governo Federal e da Norte Energia, construtora da usina.
Os Xikrin da Terra Indígena Trincheira-Bacajá e os Juruna da Terra Indígena Paquiçamba chegaram à ensecadeira pelo rio, vindos de suas aldeias que ficam à jusante da barragem. A região que sofrerá com a seca em área chamada pela Norte Energia de Vazão Reduzida do Xingu. Embarcações partiram também de Altamira, onde alguns indígenas chegaram por estrada vindos das aldeias mais distantes, e de onde partiram indígenas que permaneciam ou residem na cidade.
São esperados os Arara da Volta Grande do Xingu e representantes de todas as terras indígenas na região, vindos dos rios Iriri e do Xingu, a montante de Altamira, além dos citadinos. Hoje de manhã lideranças Parakanã partem para se reunir aos que já se encontram acampados na ensecadeira.
Os índios estão insatisfeitos com a situação, já que as condicionantes que deveriam anteceder as obras não estão sendo devidamente cumpridas em suas terras e
O PBA, em seu componente indígena, deveria estabelecer e efetivar os programas de compensação e mitigação dos impactos já sentidos na região pelos indígenas. Com a demora na entrega aos Xikrin dos Estudos Complementares do Rio Bacajá, que por ora apenas foram apresentados nas aldeias. Tais estudos permitiriam um melhor dimensionamento dos impactos neste rio e para os Xikrin, além da garantia de programas de compensação e mitigação destes impactos, em especial pela seca que preveem que o rio sofrerá com a construção do empreendimento.
Além do mais, o PBA é desconhecido pelos indígenas, que pedem mais e melhores apresentações. Reclamam também da demora em definir a situação fundiária das terras indígenas Wangã, Paquiçamba e Juruna do Km 17 e de Cachoeira Seca, a fora a indefinição no sistema de transposição da barragem e o temor de que eles fiquem isolados de Altamira, cidade onde estão os principais serviços que lhes atendem – saúde, educação, escritórios da Funai. Ainda afirmam que não foi autorizada a construção de mais estradas como alternativa ao transporte fluvial, atualmente utilizado pelos indígenas e que será dificultado pela transposição da barragem e pela seca (vazão reduzida) do leito do rio.
A ocupação protesta contra a alta do investimento necessário e anterior à obra em infraestrutura nas aldeias impactadas, como, por exemplo, para garantir a captação de água potável nas aldeias da Volta Grande do Xingu, nas quais a água do rio, até então consumida pela população, já se encontra barrenta e insalubre devido à construção. Quem quiser apoiar esta iniciativa ou conhecê-la melhor, pode entrar em contato com Ngrenhdjan Xikrin, pelo e-mail [email protected].
Leia abaixo a íntegra do manifesto escrito pelos indígenas Xikrin:
MANIFESTO DOS XIKRIN DO BACAJÁ
Parem com isso, deixem o rio correr. Deixem que nossos barcos andem pelo rio. Parem com isso, deixem o rio correr para as crianças banharem e beberem de sua água. Se fizerem a barragem o rio vai ficar ruim, a água não vai mais ser boa. O rio vai ficar seco, por onde vamos navegar?
Deixem o rio correr para a gente ir para o mato caçar para nossos filhos e netos comerem, para que no rio que corre bem a gente pesque, saia cedo para pescar para nossas crianças comerem.
Nossos Estudos mal foram completados e vocês estão falando da barragem, não gostamos disso. O PBA nem saiu e vocês já estão começando a fazer a barragem, não gostamos disso. Nós queremos que a barragem de Belo Monte pare de vez!
Texto produzido pelos homens reunidos na aldeia do Bacajá, Terra Indígena Trincheira-Bacajá, com assessoria na tradução da antropóloga Clarice Cohn.