Equação dramática: Rio+20 – Eco92 = 0
Para os povos indígenas essa equação é muito real, pois nas últimas décadas o avanço do modelo neoliberal, do agrohidronegócio sobre seus territórios tem deixado um rastro de destruição e morte. E o que é mais grave: tudo sob o olhar complacente, quando não omisso, dos governos. Inúmeras denúncias de graves violações dos direitos dos povos indígenas foram feitas neste espaço da sociedade civil mundial. Talvez o que mais tenha sido denunciado é a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte.
A delegação do povo Xavante, da Terra Indígena de Marãiwatsédé, juntamente com aliados, fez uma série de atividades, debates e entregou aos representantes do governo uma carta endereçada à presidente Dilma. No documento pede a urgente retirada dos invasores das terras do povo Xavante.
“Nesses 20 anos que se passaram, Marãiwatsédé se transformou na Terra Indígena mais desmatada da Amazônia brasileira, envergonhando todo o nosso país com a devastação criminosa que produtores de soja e de gado estão ainda fazendo na nossa terra sagrada. Vinte anos também não foram suficientes para que a Justiça brasileira tivesse a força necessária para fazer valer a decisão que respeita a Constituição Federal e os povos indígenas, tomada por unanimidade e determinando a retirada dos invasores, pois todos entraram em nossa terra ilegalmente, de má fé”.
O cacique Damião termina a carta com um apelo: “Estou lutando há 46 anos. Eu era criança quando o governo retirou minha comunidade nos aviões da FAB em 1966. Desde aquela época estamos lutando para voltar e retomar nossa terra. Estou cansado. Mas não vou desistir. Nunca”.
Yanomami
Davi Yanomami está no Aterro do Flamengo à espera de seus companheiros indígenas para entregar o documento dos Povos Indígenas do mundo, aos chefes de Estado e ao governo brasileiro. Aproveito para perguntar-lhe como avalia a participação dos povos indígenas na Cúpula dos Povos: “É um pingo d’água”, responde. “Um pingo apenas, mas importante”. Não deixou de externar certa decepção, pois não foram ouvidos pelas autoridades. “Na Eco 92 vieram autoridades ouvir nossos problemas, mas aqui nem isso aconteceu”.
Apesar de terem seu território demarcado há 20 anos, a falta de políticas de proteção efetiva permite constantes invasões de garimpeiros ao território Yanomami.
Guarani-Kaiowá e povos indígenas do Mato Grosso do Sul
Outra situação dramática, denunciada em vários espaços e momentos na Cúpula dos Povos, foi a dos Guarani-Kaiowá, em especial, e dos povos indígenas do Mato Grosso do Sul. “Estamos em guerra, pois os invasores declararam essa guerra há séculos”, afirmam em carta dirigida à presidente Dilma e aos povos e nações do mundo. Nela fazem uma série de exigências aos três poderes do país, como única forma de poderem sobreviver conforme garante a Constituição Federal e acordos e legislações internacionais. A situação de violência é gravíssima em decorrência da não demarcação das terras.
TIPNIS – Bolívia
É uma das situações mais grave hoje enfrentada pelos povos indígenas no continente. A organização dos povos indígenas do oriente boliviano está em marcha para
Documento dos Povos Indígenas do mundo aos chefes de Estado
Finalmente a delegação dos povos indígenas do Mundo pôde entregar seu documento ao ministro Gilberto Carvalho, que veio representando a presidente Dilma, que não teve tempo em sua agenda para os povos indígenas.
Vimos em uma só voz expressar perante os governos, corporações e a sociedade como um todo o nosso grito de indignação e repúdio frente às graves crises que se abatem sobre todo o planeta e a humanidade (crises financeira, ambiental, energética, alimentar e social), em decorrência do modelo neodesenvolvimentista e depredador que aprofunda o processo de mercantilização e financeirização da vida e da Mãe Natureza.
Defendemos formas de vidas plurais e autônomas, inspiradas pelo modelo do Bom Viver/Vida Plena, onde a Mãe Terra é respeitada e cuidada, onde os seres humanos representam apenas mais uma espécie entre todas as demais que compõem a pluridiversidade do planeta. Nesse modelo, não há espaço para o chamado capitalismo verde, nem para suas novas formas de apropriação de nossa biodiversidade e de nossos conhecimentos tradicionais associados.
Finalmente, não são as falsas soluções propostas pelos governos e pela chamada economia verde que irão saldar as dívidas dos Estados para com os nossos povos. Reiteramos nosso compromisso pela unidade dos povos indígenas como demonstrado em nossa aliança desde nossas comunidades, povos, organizações, o conclave indígena e outros.
A SALVAÇÃO DO PLANETA ESTÁ NA SABEDORIA ANCESTRAL DOS POVOS INDÍGENAS.
Egon Heck
Povo Guarani Grande Poro – Cimi 40 anos
Cúpula dos Povos, Rio de Janeiro, 22 de junho de 2012