Xingu +23: pare Belo Monte
Paralelamente aos primeiros dias da Rio+
A abertura do evento aconteceu no dia 13 de junho, dia de Santo Antônio, na comunidade batizada com o nome do santo, ou pelo menos no que sobrou dela, pois a vila foi destruída para a construção da hidrelétrica. A data era, por um lado, especial, pois era o dia do padroeiro da vila, celebrado há muitos anos naquela comunidade; e, por outro, muito triste, pois seria a última celebração feita na comunidade.
Emoção sintetizada no depoimento do Sr. Élio Alves da Silva, antigo morador da comunidade, e que deu início ao encontro. Élio lembrou os antigos moradores da vila que não estavam mais lá, suas alegrias em uma vida simples de luta de muitas décadas, testemunhada pelas mangueiras antigas, que cobriam os bancos, o altar e o estandarte montados ali para a celebração. “Criei meus filhos à custa do Xingu. Foi o rio mais rico que conheci. Mas hoje pescadores não conseguem mais pescar. Cada dinamite que explode parece que tem uma coisa explodindo aqui dentro do meu peito”, disse ele. Que completou contando que, se quisesse visitar algum dos seus antigos vizinhos, não teria como, pois todos se mudaram não se sabe para onde, com uma indenização em dinheiro que nem de longe paga o trabalho que tiveram por lá.
Vidas destruídas, uma comunidade dilacerada. E não pôde completar seu discurso, pois a emoção lhe encharcou os olhos e travou a garganta. Além dos pequenos agricultores que lá estavam, acompanharam o evento estudantes, jornalistas, índios da região do Xingu e Munduruku, da região do Alto Tapajós, também ameaçados pela construção de barragens naquele outro rio, para nos lembrar de que este não é um problema só do Xingu, mas de toda a região amazônica, ameaçada pelo modelo de desenvolvimento econômico imposto para a nossa região. Além de um casal de ativistas turcos, que enfrentam problemas similares causados pela construção da hidrelétrica de Ilisu, no rio Tigre, para nos lembrar de que este também não um problema só da Amazônia, mas mundial.
O ponto alto do encontro foi um protesto iniciado na madrugada do dia 15 – cerca de 300 manifestantes, às 5 horas da manhã, dirigiram-se ao canteiro de obras de uma ensecadeira de Belo Monte, barragem provisória de barro de pedras, que cortou o rio e que havia sido construída recentemente próxima à comunidade de Santo Antônio. Munidos de pás, enxadas e picaretas, abriram um caminho estreito de
Enquanto na Rio+20 discute-se o conceito vago de “Economia Verde”, o novo termo da moda, tão vazio de significado quanto o antigo e já desacreditado “Desenvolvimento Sustentável” dos anos 90 (vazio porque mal nascido, já apropriado pelo agronegócio brasileiro, fortemente representado na Conferência das Nações Unidas, cinicamente se auto-intitulando “verde”), a Xingu +23 tinha um recado bem claro para passar para o mundo: essa sandice de barrar todos os rios do planeta a todo custo tem que parar, começando por Belo Monte no rio Xingu!
Leia também:
Rio+20 e a matriz energética brasileira – Parte II
Vídeo:
“Mensagens do Xingu ao presidente do BNDES Luciano Coutinho”.
Rodolfo Salm, PhD