03/04/2012

Povo Jaminawá realiza encontro histórico e exige demarcação de suas terras no estado do Acre

O povo Jaminawá realizou encontro histórico, em Sena Madureira, nestes dias 02 e 03 de abril. Provenientes de acampamentos que se localizam às margens dos rios onde estão as suas terras, cerca de 70 líderes debateram profundamente sobre as estratégias a serem adotadas pelo povo no intuito de que as mesmas sejam finalmente reconhecidas e demarcadas pelo Estado brasileiro.

 

Os Jaminawá reivindicam há anos que o governo brasileiro, por meio da Fundação Nacional do Índio, Funai, instale processo para demarcação das terras Cayapucá, Estirão e São Paulino, no rio Purus, Guajará, no rio Yacco, e Caeté, no rio Caeté. Destas, apenas em relação à terra Cayapucá foi constituído Grupo Técnico, na década de 1990, para identificação e delimitação. Até o momento, porém, quase 20 anos depois, ainda não foi realizada a aprovação e a publicação do relatório circunstanciado produzido pelo referido GT.

 

Após um dia de intensas conversações internas e estudo sobre a legislação brasileira que fundamenta os direitos do povo, na manhã desta terça-feira, 03 de abril, com pinturas corporais e cantos rituais, os Jaminawá receberam, no encontro, representantes de órgãos públicos. Na pauta, cobranças por informações e iniciativas no sentido de que seus direitos sejam efetivados. Embora convidada e ansiosamente aguardada, a representação da Funai não compareceu. Isso causou grande revolta junto aos Jaminawá, uma vez que a questão fundiária, de responsabilidade do órgão indigenista, é a temática central e de maior expectativa por parte das lideranças indígenas presentes.

 

Francisco Martins Jaminawá, líder do grupo acampado às margens do rio Purus e que reivindica a demarcação da terra Estirão, localizada no município de Santa Rosa do Purus, viajou cinco dias de barco descendo o rio para chegar ao encontro. “É muito longe onde vivemos. Gastaremos oito dias para subir o rio e voltar para nossa aldeia. Lá nós não temos posto de saúde. Não temos escola. Não temos agente de saúde indígena, não temos agente de saneamento. Não temos água tratada. Bebemos água do rio. Nossa aldeia foi alagada. Perdemos todas nossas roças, nossos animais. Viemos para discutir sobre a demarcação de nossa terra. Vivemos lá há 30 anos. Meu pai está enterrado lá. A área onde vivemos precisa ser demarcada porque está sendo invadida por não-índios. Viemos para falar com as autoridade da Funai. Estou muito revoltado porque eles não vieram para escutar. É uma grande falta de respeito com nós. Vamos levar documento até Brasília e só vamos voltar de lá quando a Funai criar Grupo para fazer a identificação de nossas terras”.

 

Para o líder da terra Cayapucá, Dimas Jaminawá, “o encontro marca um momento definitivo da unidade e da luta do povo pela retomada de nossas terras. Não deixaremos de lutar pela nossa terra. Nós esperamos que o governo federal tome as providências imediatamente para demarcar as nossas terras. Já fazem muitos anos que pedimos a demarcação das nossas terras e até agora não sabemos como está o relatório das equipes que passaram em nossas aldeias para fazer os estudos”.

 

Acampada, há três anos, nas praias do rio Yacco, na área urbana de Sena Madureira, Vitória Jaminawá precisou abandonar às pressas os barracos onde vivia com a família devido ao alagamento ocorrido no mês de fevereiro. Emocionada, Vitória relatou que não vive em Sena Madureira porque quer: “Nós vivíamos na aldeia com toda a família. Aí veio os não-índios e cortaram nossas casas com motosserra, queimaram as nossas casas, mataram nossos animais a tiro. Precisamos sair para não morrer também. Não quero morrer logo, mas não dá para sustentar família grande vivendo num terreno da cidade. Precisamos voltar para a terra, fazer a roça para manter os filhos. Precisamos demarcar a nossa terra”.

 

Sena Madureira, AC, 03 de abril de 2012.

 

Cleber César Buzatto

Secretário Executivo do Cimi.

 

Fonte: Cimi - Conselho Indigenista Missionário
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