Manifesto de Repúdio às atrocidades praticadas contra os Povos Indígenas – Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, Brasil
“Meu avô morreu (filho de Laranjeira) morreu assim e meu pai também. Querem nos tirar daqui novamente. Querem matar mais? Se é para morrer atropelado, de suicídio, morremos resistindo – morremos dentro de nosso tekoha” (Faride, liderança Guarani Kaiowá de Laranjeira Nhanderu).
O genocídio praticado contra os povos indígenas nos Estados de Mato Grosso (MT) e Mato Grosso do Sul (MS) prossegue em passos largos! As violências avolumam-se sistematicamente. Repudiamos a letargia dos governos estaduais e federal frente aos processos de identificação, demarcação e revisão de limites dos territórios tradicionais destes povos. Tais governos vêm cedendo, constantemente, as pressões promovidas pelo setor ruralista não efetivando os direitos constitucionais destes povos.
Denunciamos o cenário estarrecedor vivido por três povos em destaque: os Guarani (MS), os Xavante – Terra Indígena Marãiwatsédé e os Tapirapé – Terra Indígena Urubu Branco (MT).
“Tekoha”, palavra na língua do povo Guarani para referir-se a terra tradicional, não se pode traduzir para os conceitos da sociedade não indígena. Numa aproximação, poderíamos dizer lugar onde se convive, se mantém a relação com os demais e com os antepassados, onde a vida se multiplica na relação cosmológica que vai além do físico, do visível e do palpável. Contrapondo, violentamente, a esta forma de relação com a terra, os promotores do latifúndio e do agronegócio
Circunstâncias semelhantes são sofridas pela etnia Tapirapé da Terra Indígena Urubu Branco. O conflito ocorre em virtude da permanência de invasores na área norte do território indígena, que continuam a depredar impunemente a área. As ameaças são constantes contra as lideranças deste povo tendo, inclusive, ocorrido um atentado ao cacique.
A saga destrutiva promovida, secularmente, nos territórios indígenas pelo Estado brasileiro, visto como “terra de ninguém”, é também praticada na morosidade do seu papel de executor da justiça, assim como, na distinção feita ao alocar prerrogativas a alguns invasores sobre o inalienável direito de viver dos povos indígenas. A dominação privada dos bens, para o chamado desenvolvimento, configura-se, na prática, como excludente e elitista, que sobrepõe interesses econômicos individuais aos interesses coletivos, destruindo a biodiversidade e impedindo o acesso a terra para viver e produzir e a manutenção de modos de vida singulares.
Se este mesmo Estado é, em tese, a materialização da representação de seu povo, não atende, efetivamente, os anseios deste. Assim, para que o Estado contemple a maioria “marginalizada”, os signatários deste manifesto solicitam agilidade no processo de demarcação das terras guarani (MS), assim como, presteza em cumprir a lei nos casos conflitivos vividos pelos Xavante e Tapirapé (MT).
Lutamos por um Estado de todos nós,
que considere os Direitos Humanos e da Terra,
e mantenha viva e digna a luta de Marçal!
MARÇAL -TUPÃ GUARANI
Luiz Augusto Passos
Empresta o sangue que dança nas chamas
da liberdade que amanhece em ti!…
Marçal, Marçal, és profeta de um novo canto
De uma terra livre, sem quebrantos,
Que é compromisso dos que estão aqui!
Marçal, Marçal, tua morte só apressa o dia
Em que o alto preço desta covardia será
Cobrado pelos Guarani!
Cuiabá, 08 de março de 2012.
Assinam:
Associação Brasileira de Homeopatia Popular
Associação Brasileira de Saúde Popular (ABRASP / BIO SAÚDE)
Associação de Defesa dos Direitos do Cidadão, ADDC
Associação Internacional de Investigadores
Associação Rondopolitana de Proteção Ambiental, ARPA
Associação Terra Indígena Xingu
Comitê Metropolitano Xingu Vivo para Sempre
Centro Burnier Fé e Justiça
Centro Acadêmico de Biologia – CABio da UNEMAT Nova Xavantina
Centro de Cultura Luís Freire – PE
Centro de Direitos Humanos João Bosco Burnier – Várzea Grande
Coletivo de Comunicadores Populares (Campinas)
Centro de Pastoral do Migrante
Coletivo Educador de Ribeirão Preto – Ipê Roxo
Coletivo Jovem de Meio Ambiente de Arenápolis-MT
Coletivo Jovem de Meio Ambiente de Cuiabá
Coletivo Jovem de Meio Ambiente de Várzea Grande
Coletivo Jovem Kairós do Mato Grosso do Sul
Comissão do Povo Chiquitano de Cáceres
Comissão Pastoral da Terra, CPT-MT
Comitê-Sul-mato-grossense para Rio +20, MS
Conselho Indigenista Missionário, CIMI-MT
Conselho Nacional do Laicato do Brasil/Mato Grosso
Entidade Nacional de Estudantes de Biologia – ENEBio/ Centro-Oeste
Entidade Nacional de Estudantes de Biologia – ENEBio/ Nova Xavantina
Escritório de Direitos Humanos da Prelazia de São Félix do Araguaia, MT
Estudantes do Doutorado em Educação da UFMT (turmas 2011, 2010 e 2009)
FASE regional MT
Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente de Desenvolvimento, FORMAD
Fórum de Direitos Humanos e da Terra de Mato Grosso, FDHT-MT
Fórum de Lutas das Entidades de Cáceres, FLEC
Fórum da Amazônia Oriental – FAOR
Grupo Cultural e Ambiental Raízes
Grupo de Estudos e Pesquisas
Grupo de Estudos
Grupo de Pesquisa de Educação, Estudos Ambientais e Sociedade
Grupo de Pesquisa de Movimentos Sociais e Educação, GPMSE-UFMT
Grupo de Trabalho de Ecopedagogia da Faculdade de Educação – GRUTEUSP, USP
Grupo de Trabalho de Mobilização Social, GTMS
Grupo Pesquisador
GT 22 – Educação Ambiental da ANPEd
Instituto ACESSO – MS
Instituto Ambiental do Maranhão
Instituto Brasil Central – IBRACE, GO
Instituto Caracol, iC
Instituto de Ecologia e Populações Tradicionais do Pantanal (ECOPANTANAL)
Instituto Gaia, MT
Instituto Indígena Maiwu
Instituto Socioambiental ÓIKOS – ISÓIKOS
Laboratório de Educação e Política Ambiental – OCA/ESALQ/USP
Mandato Coletivo
Movimento Articulado de Mulheres da Amazônia
Movimento de Combate a Corrupção Eleitoral – MCCE-MT
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, MST-MT
Movimento Nacional de Direitos Humanos
Organismo Vivo
Pastoral do Migrante
Projeto 10 por hora, MT
Projeto Arte na Terra, SP
Rede Aguapé de Educação Ambiental
Rede Axe Dudu
Rede de Comunidades Tradicionais do Pantanal
Rede de Educação Ambiental de Mato Grosso do Sul, REAMS
Rede Lusófona de Educação Ambiental, REDELUSO
Rede Mato-Grossense de Educação Ambiental, REMTEA
Rede Paulista de Educação Ambiental, REPEA
Rede Sul Brasileira de Educação Ambiental, REASUL
Revista Sina
Sociedade Fé e Vida
Tercer del Ferran Clua, Barcelona, Espanha