19/01/2012

Informe nº998: Moléstia sem identificação atinge outras áreas indígenas no Acre

Renato Santana

de Brasília

 

Ninawá Huni Kuin chegou a Rio Branco (AC), na manhã desta quinta-feira (19), com duas crianças indígenas doentes. Ambas apresentando os mesmos sintomas – diarreia, febre e vômito – que levaram à morte outras 12 dos povos Huni Kuin (Kaxinawá) e Madjá (Kulina), do Alto Rio Purus, entre dezembro de 2011 e janeiro deste ano.

 

Os dados passaram pelo Pólo Base de Saúde e as suspeitas são de uma epidemia de rotavírus – sem confirmação dos órgãos governamentais, que trabalham com oito mortes, sendo que as outras quatro ainda estão em análise. Diarreia aguda é a causa registrada nos atestados de morte.

 

As crianças levadas para tratamento especializado na capital acreana comprovam – independente de ser rotavírus ou não – que tal problema de saúde atinge outras áreas indígenas do estado, pois as crianças são de povos e regiões distintas aos óbitos registrados. Para os indígenas, a origem da doença está na água consumida.    

 

“O ministro (da Saúde, Alexandre Padilha) fala com base em opiniões terceirizadas. Nenhum agente de saúde foi até as aldeias. Não vão por falta de estrutura há tempos”, afirma Ninawá, presidente da Federação do Povo Huni Kuin e integrante do Conselho Distrital de Saúde do Alto Rio Purus. Ele segue: “Não é só na área do (Alto Rio) Purus que isso acontece, mas em outras regiões, áreas de fronteira”.

 

Conforme o ministro declarou para a Agência Brasil de notícias, com base nas informações da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), não há confirmação das mortes por rotavírus. Entretanto, Padilha afirmou que não é a primeira vez que se registram casos de morte por diarreia aguda na região.

 

Ninawá diz ser revoltante ouvir do ministro tal declaração, porque “primeiro ele não confirma as mortes; depois diz que os casos (diarreia aguda) são comuns. Enquanto ninguém toma providências, já que todos sabem do problema”, ataca a liderança indígena.

 

Entre 2010 e 2011, cerca de 400 indígenas acamparam na porta da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) – há quase um ano em fase de transição para a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) – durante nove meses exigindo melhoras na assistência à saúde indígena no Acre.

 

“Entregamos para as autoridades um documento com as reivindicações. Uma delas envolvia a parte de saneamento básico. Pedimos prevenção, muito mais que obras. Estipulamos prazos, mas até agora sequer recebemos um retorno”, declara Ninawá.

 

Abandono

 

De acordo com o indígena, os agentes do Pólo Base do Alto Purus – núcleo de apoio à equipe multidisciplinar que encaminha os casos das aldeias para os hospitais e vinculado ao distrito sanitário – não conseguem cumprir suas funções por falta de estrutura.

 

“O papel deles é de estar nas comunidades fazendo trabalho de prevenção e isso não acontece. O pessoal não vai por falta de condição. Com isso, indígenas ficam sem medicamentos, vacinas e morrem de doenças que poderiam ser curadas com facilidade”, denuncia Ninawá.

 

Um barco maior é utilizado pela equipe. As voadeiras são para casos emergenciais, mais graves. Pacientes de média e alta complexidade são tratados apenas em Rio Branco, pois Santa Rosa – maior município da região do Purus – não tem estrutura. “Por isso digo que o ministro possui informações irreais, longe do que está acontecendo na comunidade”, explica o indígena.

 

Ninawá como representante indígena na área da saúde afirma ter presenciado outros casos que ilustram a situação do setor no Acre. Do Alto Enviara, presenciou indígenas Axaninca trazendo crianças doentes de canoa para a cidade que não conseguiram chegar vivas para o tratamento. “Eles desistem e voltam para a aldeia e não registram as mortes. Então, falamos agora de 12, mas pode ser muito mais”, lamenta.

 

Hepatite

 

Povos infectados com hepatite também foram identificados pelo Conselho Distrital de Saúde. A situação mais grave está entre os Janinawá. A Associação de Portadores de Hepatite da região constatou que mais de 60% da comunidade está infectada com algum tipo de hepatite.

 

“Falta educação na área da saúde, ou seja, prevenção. A própria condição da equipe multidisciplinar do Pólo Base, com a transição da Funasa para a Sesai que nunca acaba, acabou prejudicando as ações da equipe. Os agentes precisam ir para a comunidade. Mas com os problemas estruturais, a equipe fica só na cidade”.

Fonte: Assessoria de Comunicação - Cimi
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