Belo Monte: “Sempre vamos ser contra”
Hoje, segunda-feira, 24 de outubro, chegaram cerca 250 representantes indígenas em Altamira, para reunir-se com pescadores, ribeirinhos, pequenos agricultores, e outros atingidos pela usina de Belo Monte, como moradores dos bairros que seriam alagados, caso a usina seja construída.
Vários movimentos sociais contrários à hidrelétrica, como sindicatos e grupos de estudantes, juntaram-se ao encontro, que se realiza nos dias 25 até 28 de outubro. Em total, o seminário “Territórios, ambiente e desenvolvimento na Amazônia: a luta contra os grandes projetos hidrelétricos na bacia do Xingu” reúne entre 600 e 800 pessoas.
‘Vimos para debater os problemas causados por Belo Monte na nossa terra”, explica Adalton Arara, uma liderança do povo Arara. Os Arara moram na Volta Grande, o trecho do rio Xingu que ficaria seco, com Belo Monte. “Sempre vamos ser contra. Sabemos o que vamos sofrer. Nada muda, a luta é a mesma, com as mesmas palavras”.
Uma grande magoa são as constantes promessas por parte do governo e Norte Energia, que nunca são cumpridos. “Eles só vem enganando a gente. Por exemplo, eles inventaram que fizeram as oitivas indígenas com a gente. Talvez isso seja o maior impacto: que eles mentiram na nossa cara”.
Outros impactos da usina seriam os problemas de transporte com o constante baixo nível da água, a extinção de peixes e a morte de muitas espécies de árvores. “Há muitas árvores que precisam ficar na água por um tempo, para sobreviver. Por exemplo, a saroba, ela precisa ficar com os pés na água, senão ela morre. Precisamos muito dela, para fazer remédios contra doenças. Sem ele vai morrer muita gente”.
Invasões
“Nossa comunidade inteira está contra Belo Monte”, diz Takuja Assurini, liderança do povo Assurini. As angustias são por uma parte semelhante às dos Arara, como o desaparecimento de peixes e quelônios. Por outra parte, temam outro tipo de impacto da usina. “É possível que muita gente vá subir o rio, para procurar terra. Há pessoas que vão perder suas terras e também a população de Altamira cresce demais. Até agora nunca tivemos problemas de invasores na nossa terra.” Ele não acredita muito na promessa das autoridades de instalarem um posto de vigilantes na área. “Se tiver, só vão vigiar o rio, não o interior da nossa terra”.
Enrolados
A jovem Njrenhdjãm Xicrín, da aldeia Pykajakà, tem outro motivo para participar do encontro. “Vim para aprender mais sobre a usina, apreender a questionar, para poder informar nosso povo e correr atrás dos nossos direitos.” Os Xicrín têm sido ignorados na questão de Belo Monte. “Até agora sempre falavam que os Xicrín não seriam atingidos.” Assim, nem todos eram contra a usina. Uma das condicionantes da Licença Prévia visava corrigir o erro. Porém, esse estudo complementar só vai ficar pronto em 2012. “Achamos muito injusto que começaram a obra, antes de terminarem os estudos sobre quais seriam os impactos”.
De fato, ela conta, as autoridades nem a Norte Energia visitaram os Xicrín para explicar o que é uma usina hidrelétrica. “Não sabemos o que é uma barragem. Em geral, os Xicrín reclamam que há muito enrolação, muitos têm o sentimento que estão sendo enrolado”.
Durante os três dias do encontro, os Xicrín, Assurini e Arara, junto com os demais grupos atingidos, indígenas e não-indígenas, terão a oportunidade de compartilhar experiências, avaliar impactos e decidir como querem continuar a luta contra o Belo Monstro que os ameaça.