19/10/2011

Mãos Unidas, corações solidários

Por Egon Heck

Voluntários e funcionários da organização espanhola Manos Unidas (Mãos Unidas), o que em Guarani se poderia traduzir por Jopoi – mãos unidas, abertas para a reciprocidade -, estiveram no Brasil visitando as populações que apoiam no Brasil. Entre as ações apoiadas estão algumas ligadas a meninos e meninas de rua, quilombolas, sem terra e povos indígenas, entre outros.

Enquanto os indignados de seu país se agitavam em enormes concentrações e mobilizações de protesto contra o sistema consumista, capitalista, concentrador e excludente, seis voluntários e funcionários da organização estavam conhecendo a outra face do mesmo sistema. Em duas semanas no Brasil, puderam ter uma ideia aproximada do sofrimento causado por uma das mais pungentes economias mundiais. Ouviram de seus interlocutores o porquê de a 8ª economia do mundo produzir tanta miséria, fome e sofrimento, quando poderia ser um país de grande justiça e igualdade social.

Em visita a quatro comunidades indígenas no Mato Grosso do Sul: Guyrá Kambi’y e Yta’i, no município de Douradina, e Panambizinho e Passo Piraju, no município de Dourados, puderam sentir de perto um pouco do sofrimento que cerca dos Kaiowá Guarani do estado. Sofrimento advindo da fome, preconceito e violência de que têm sido vítimas constantes.

“Queremos conhecer a realidade de vocês para apoiar a construção de um mundo mais justo”, disse Cristovão, que há 25 anos trabalha para na administração da entidade e agora está tendo a oportunidade de conhecer parte da população beneficiada pelos projetos de Manos Unidas. “Tem muita injustiça. Vocês vivem num país rico, mas injusto. Tinha muita vontade de conhecer vocês. Com todo esforço vamos continuar com vocês. Muita coragem, pois irão conseguir seus direitos”, afirmava ao conversar com os indígenas.

Dos índios, por sua vez, ouviram inúmeras vezes a pergunta: “por que não demarcam nossas terras?”.  Ao que os membros da delegação responderam prontamente: “a demarcação das terras é um direito dos povos indígenas e uma obrigação do governo brasileiro. De nossa parte, Manos Unidas tem apoiado amigos e aliados da causa indígena, como o Cimi, para que com vocês possam cobrar que esse direito, existente em leis do país e em tratados internacionais, seja garantido.

Antônio, historiador, lembrou que “o povo Guarani tem um potencial moral e ético muito grande. Vocês são um povo de muitíssimas possibilidades. A guerra contra os Guarani não é de agora, são mais de 250 anos”, disse ao fazer referência às guerras de Portugal e Espanha contra as reduções Guarani e o assassinato de Sepé Tiaraju, em 1801.

Manos Unidas: 50 anos de luta e solidariedade

Manos Unidas é uma grande rede de voluntários que procura sensibilizar a população espanhola para a solidariedade com os mais pobres e necessitados do mundo. Para tanto organizam eventos e campanhas sobre as diversas realidades e pedem a contribuição da população para organizar a solidariedade.

“Apoiamos vocês e queremos tê-los sempre no coração. Vosso sofrimento é nosso também”, disse Gloria, que se mostrou muito sensibilizada com a luta e a situação dos acampamentos do povo Guarani espalhados por diversas estradas de Mato Grosso do Sul.

Sergio falou da importância de estar construindo esse conhecimento e solidariedade. “Vamos fazer chegar até nosso governo a realidade de vocês, e ele, certamente, vai ajudar a causa Kaiowá Guarani”. Depois lembrou que infelizmente nada acontece sem pressão e muita união.

Relatos do sofrimento e da esperança

Nas quatro aldeias visitadas, todos fizeram questão de falar sobre suas lutas para conseguirem suas terras e poderem continuar suas vidas do jeito Kaiowá Guarani. “Estamos que nem boi no curral de fazendeiro”, desabafou Carlitos. Falou da falta de liberdade, da escravidão em que vivem. Ouviram denúncias sobre a precária situação do atendimento à saúde, da fome, quando atrasa a cesta básica, das doenças que vêm pelo consumo de água envenenada. “Estamos oprimidos na mão do governo, da Funai e de outras instituições. Estamos oprimidos por parte da política. Estamos silenciados. Hoje somos o restante do massacre”, disse Ezequiel.

“Queimaram toda nossa cultura tradicional. Caçar e pescar são parte de nossa vida. Nós amamos essa terra. Queremos essa terra de volta”, disse a liderança Joel.

Ao falarem de suas lutas e sofrimentos, sempre concluíam manifestando sua esperança de conquistarem seus direitos, especialmente à terra.

A delegação de Manos Unida também insistiu na importância do encontro para se conhecerem e reconhecer que os Kaiowá Guarani são os donos destas terras, e que mais dia menos dia terão suas terras de volta.

Cimi 40 anos – Equipe Dourados
Povo Guarani Grande Povo, 18 de novembro de 2011

Fonte: Cimi Regional MS
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