Carta da Tríplice Fronteira Bolívia/Peru/Brasil
Amazônia para o Bem Viver e não para o lucro e para a morte!
A Amazônia, em geral, e a tríplice fronteira Bolívia/Peru/Brasil, em particular, tiveram seu território reordenado de forma mais profunda a partir do último quarto do século XIX. Esse processo de territorialização e re-territerritorialização esteve/está subordinado a satisfazer as demandas de matérias-primas requeridas pelo processo de acumulaçao capitalista em nível internacional. Depois da borracha natural como matéria-prima mais buscada, nos últimos 50 anos a “cesta de produtos” vem aumentando: minerais, hidrocarbunetos, madeiras nobres, pecuária extensiva e monocultivos.
Objetivando acelerar esse tipo de exploração, desencadeou-se, no período recente, a construção de grandes projetos de infraestrutura, como rodovias, hidrelétricas e hidrovias, que compõem a “denominada “Iniciativa para Integraçao Regional Sul Americana” (IIRSA). Além de intensificar a expropriação de povos indígenas, ribeirinhos e camponeses e agravar a miséria e a violência rural e urbana, esse processo tem provocado, no seu rastro, forte destruição ambiental.
Ao contrário das promessas de emprego e melhoria de vida, a “integração sul-americana” posta em marcha por governos nacionais e locais tem resultado em desintegração de territórios e dos povos que neles vivem, além de agravar a destruição ambiental. Aumentam rapidamente a delinquência e o narcotráfico, e a vida está ameaçada por todos os lados. Para agravar ainda mais a situação, o aprofundamento da mercantilização da natureza, embutido na chamada “economia verde” (especialmente a instituição do pagamento de serviços ambientais e REDD), longe de resolver, tende a aprofundar a espoliação, também na Amazônia Continental.
A “VIII Gran Marcha Indígena por
Em razão disso, nós, lideranças indígenas e camponesas, movimentos sociais da Bolívia, Peru, Brasil e organizações de apoio, por ocasião do II Seminário Internacional de Formação, realizado no período de
Assumimos a proposta de:
– Lutar para garantir o direito à terra, sem a qual não há Bem Viver e do qual dependem todos os outros aspectos da nossa vida: nossa cultura, tradições, costumes, culinária e rituais;
– Aprimorar nossas formas de mobilização, superando as fronteiras, para repercutir nossas lutas, mudar o quadro de mal viver e denunciar a criminalizacão das nossas lideranças;
– Desenvolver ações de impacto para fazer valer as nossas reivindicações em prol de políticas públicas de qualidade conforme o nosso Bem Viver;
– Fortalecer o Bem Viver enquanto visão contrária ao capitalismo, considerando eixos comuns de luta, a Mãe Terra e a Vida Plena, em sintonia e somando com as experiências de outros povos, segmentos e movimentos sociais de cada país, da América Latina e do Mundo.
Saímos desse seminário tendo bebido da espiritualidade presente na memória ancestral e na vida dos povos indígenas, seringueiros e ribeirinhos e do Evangelho de Jesus de Nazaré e, por isso, fortalecidos na decisão de descolonizar a vida e a história. Juntamente com todos os povos sofridos da Amazônia presente em nossos países, queremos caminhar na busca do Bem Viver, colaborando, assim, com a construção de um mundo justo.
Cobija, Bolívia, 30 de Setembro de 2011
Participantes do II Seminário Internacional de Formação “Sonhos e realidade frente ao modelo de desenvolvimento”.