Informe nº 984: Eleita a nova diretoria do Cimi
Por Cleymenne Cerqueira
de Luziânia (GO)
Votação aconteceu hoje a tarde durante a XIX Assembléia Geral da entidade
Consenso entre os missionários, a escolha da nova diretoria do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) se deu de forma tranqüila hoje à tarde (6), durante a XIX Assembléia Geral da entidade, que acontece até sábado no Centro de Formação Vicente Cañas, em Luziânia (GO). Dom Erwin Kräutler, bispo da Prelazia do Xingu, no Pará, foi reeleito e dará continuidade ao seu primeiro mandato, iniciado em 2007. A vice- presidência será ocupada por Emília Altini, missionária do Cimi em Rondônia. Já o secretariado Executivo da entidade, com sede em Brasília, ficará a cargo do gaúcho Cléber Buzatto.
Dom Erwin foi eleito com a quase totalidade dos votos (90 dos 91). A indicação para a continuação de seu mandato já se fazia internamente em todos os regionais, quando missionários e missionárias da entidade pensavam na permanência de um bispo que há muito acompanha a questão e as lutas dos povos indígenas. Dom Erwin é um defensor ativo e altivo da luta contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Vivendo na região por muitos anos, sabe bem as dificuldades e sofrimentos enfrentados pelos povos da região, que agora se vêem expulsos e ameaçados por nefasta obra.
De acordo com ele, é essa justamente uma das principais dificuldades a ser enfrentada nos próximos anos. A omissão do governo e o avanço do modelo neoliberal sobre os territórios e o modo de vida indígena. Sem acesso à saúde, educação, segurança e a um pedaço de chão, esses povos vivem entregues à própria sorte, sob barracos de lonas em beira de rodovias estaduais – situação encontrada em Mato Grosso do Sul e do Rio Grande do Sul. Sofrem ainda ataques e violências, como incêndios, espancamentos, seqüestros e mortes.
Sem a demarcação de suas terras tradicionais e o direito de ter onde plantar e criar seus filhos são tratados como mendigos e empecilhos aos grandes projetos do governo. Valem menos que os campos de soja, eucalipto e cana-de-açúcar. Os povos indígenas do país enfrentam um grave momento de violência, criminalização e usurpação de direitos, sendo estes os principais desafios a serem enfrentados para que se tenha de fato uma sociedade democrática, justa e pluricultural.
Já Emília Altini reagiu com surpresa quando ouviu os primeiros chamados a assumir a vice-presidência do Cimi. Refeita do susto e encorajada pela fé e vivência junto aos povos indígenas, disse sim ao seu chamado. A catarinense, que desde 1980 vive em Rondônia, afirma que assumi assim o compromisso de estar a serviço da causa indígena e da autonomia desses povos. “É um grande desafio, mas me sinto encorajada pela força dos povos indígenas e pela certeza na ação militante profética do Cimi”, afirmou.
Tendo trabalhado maior parte do tempo com a educação escolar indígena e atuado junto ao povo Karitiana, se coloca a disposição para compreender melhor as questões nacionais que se relacionam com esses povos e a busca pela garantia de seus direitos. Disse que será mais um amparo, força e alicerce para a atuação conjunta com os regionais da entidade, contribuindo assim para melhorar a conjuntura indígena no país, bem como defender o Cimi em sua atuação contrária a tudo que leva à morte e à negação de direitos. “É preciso priorizar a vida e não a morte. Priorizar o protagonismo e a autonomia desses povos. Esse é meu principal papel”, disse.
O novo secretário executivo, Cléber Buzatto, conheceu o Cimi no ano 2000, quando a entidade, os povos indígenas e setores da sociedade contrários às falsas propagandas do governo, viveram um projeto em busca de Outros 500, ou seja, outros 500 anos do Brasil, sem violência, omissão e usurpação de direitos. Vivendo em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, e estudante de Teologia, recebeu um convite para conhecer a entidade e a realidade de sua atuação profética e missionária. Se apaixonou pela missão. Ingressou no Cimi neste mesmo ano. Atuou então no Regional Sul, junto aos povos Guarani, Kaingang e Xetá, até 2009, quando veio para Brasília colaborar com as atividades do Secretariado Nacional.
Para o missionário, os próximos quatro anos serão momentos de dar continuidade às ações e à história do Cimi junto aos povos indígenas do país. A entidade, que foi criada em 1972 como um organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tem por objetivo fortalecer o processo de autonomia desses povos na construção de um projeto alternativo que vá na contramão do modelo neoliberal.
“A atuação é desafiante e as lutas são muitas. O Cimi apóia esses povos no enfrentamento das lutas por suas terras, pela garantia de seus direitos e para que tenham poder de decisão e atuação sobre seus territórios. Nesse sentido somos desafiados todos os dias pelos grandes empreendimentos do projeto desenvolvimentista brasileiro que invadem, usurpam e destroem as terras indígenas. É preciso enfrentar ainda a criminalização das lideranças indígenas e do movimento indígena como um todo, hoje tão em voga no país, além de conseguir aliados por essa causa do Reino, que é de todos nós e fortalecer essas ações junto a outros setores da sociedade”, afirmou Cléber.
As ações do Cimi são fundamentadas no respeito à alteridade indígena em sua pluralidade étnico-cultural e histórica. Por isso, é imprescindível o apoio as suas formas tradicionais de vida, ao seu protagonismo. É preciso respeitar o Bem Viver desses povos, inclusive e, sobretudo, daqueles povos com pouco ou nenhum contato com a sociedade. Para Cléber, isso só será possível com o enfrentamento ao atual modelo econômico e social no país. “O Bem Viver é um projeto de construção coletiva para todos nós, que exige ações individuais, mas sobretudo mudanças estruturantes que devem partir de princípios éticos, como respeito ao ser humano e à natureza, aos seus direitos”, concluiu.
Tempos de fé e esperança
Com votação em massa e abraçados pelos missionários e missionárias da entidade, a nova diretoria do Cimi inicia um novo tempo. Tempo de fé e esperança. Tempo de profecia por acreditar que um novo reino é possível e que é na força dos pequenos e oprimidos que se delineiam os caminhos para a almejada transformação social. O Bem Viver dos povos indígenas é inspiração, exemplo. É possível seguir em frente, firme e confiante de que novas relações de amor, respeito, justiça e solidariedade serão construídas.
Conselho Fiscal
Foram escolhidos também hoje à tarde os novos membros do Conselho Fiscal da entidade. O missionário Guenter Francisco Loebens, do Regional Norte I, continua no grupo que agora terá como reforço os missionários Claudemir Monteiro, do Regional Norte II, e Virgínia Miranda, que atua no Regional Rondônia.