Deixem o povo Yanomami viver em paz
O povo Yanomami, através da Associação Hutukana denuncia a tentativa absurda do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO) de reativar a Floresta Nacional do Amazonas (Flona), criada em 1989, como tentativa de descaracterizar o território deste povo. Na época pretendia-se favorecer a exploração garimpeira, que tinha tomado de assalto a terra indígena. Essa Flona, que permite o desenvolvimento de atividades econômicas no seu interior, se sobrepõe, quase em sua totalidade, à terra indígena Yanomami. O ICMBIO, mediante a constituição de um Conselho Consultivo da Flona, constituído por entidades governamentais e da sociedade civil, pretende desenvolver o manejo dos recursos naturais da área, ou seja, da terra indígena Yanomami.
Essa é uma forma ardilosa e cínica de desrespeito ao povo Yanomami, que tradicionalmente maneja de forma autônoma o seu território e tem assegurado constitucionalmente o usufruto exclusivo das riquezas nele existentes e a sua posse permanente inalienável, indisponível e imprescritível. Ardilosa, porque pretende se valer de um ato arbitrário, praticado contra o povo Yanomami com a criação da Flona do Amazonas em 1989, para explorar economicamente a terra indígena e cínica porque tenta fazer política de proteção ambiental a revelia dos direitos do povo Yanomami, numa região que teria sido totalmente devastada pelo garimpo ilegal, se não fosse a luta e resistência desse povo, que contou com amplo apoio da sociedade brasileira e da comunidade internacional. Na época, em decorrência do garimpo, morreram mais de dois mil indígenas Yanomami.
“Deixem-nos em paz” – reage de forma indignada a Associação Yanomami Hutukara diante de mais esse absurdo. E não é para menos. A terra indígena é entendida como a “Casa da mãe Joana”. Sem mais nem menos, de uma hora para outra, o ICMBIO se arvora o direito de gerir um patrimônio, que por direito é do povo Yanomami.
Assusta que situações desse tipo se reproduzam nos dias atuais. Parece que a mente do administrador público ainda está de tal maneira impregnada com a perspectiva colonialista que não se dá conta que estamos em outra época e que as leis do país, em relação aos povos indígenas, mudaram drasticamente há muito tempo.
Espera-se que de forma imediata sejam tomadas as medidas necessárias para coibir mais essa violência que está sendo praticada contra o povo Yanomami e seu patrimônio.
Manaus, 06 de setembro de 2011.
Guenter Francisco Loebens
Cimi Norte I