05/09/2011

Cimi completa 30 anos de atuação em Rondônia

Conselho Indigenista Missionário chegou ao Estado no início de um ciclo econômico e vê com preocupação os impactos de mais um ciclo, tocado pela construção de obras de infraestrutura, que ameaçam territórios tradicionais.

 

Ana Aranda

 

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), entidade ligada à Igreja Católica, completou 30 anos de atuação em Rondônia. O início dos trabalhadores, em 1981, coincidiu com a implantação de um novo ciclo econômico e a chegada de uma  leva de migrantes que provocou um avanço significativo da colonização sobre os territórios indígenas. ” Durante a sua trajetória de trabalho, o Cimi buscou incentivar a organização dos indígenas para a defesa de seus direitos e também para que mantenham sua cultura e religiosidade”, informa a coordenadora da entidade, irmã Emília Altini.  O Cimi/RO conta com 13 missionários, que atuam nos municípios rondonienses de Porto Velho, Ji-Paraná e Guajará-Mirim, e Humaitá, no Amazonas. Os missionários atendem cerca de 12 mil índios de 55 etnias, que vivem em Rondônia, no sul do Amazonas e no noroeste do Mato Grosso.

 

Grande parte dos povos que vivem na região conta com associações ou outras entidades representativas, as quais estão articuladas por meio da Comissão do Movimento Indígena, que por sua vez está articulada a entidades nacionais e internacionais. Empobrecidos e dependentes, os indígenas passam por sérias dificuldades de sobrevivência e têm seus territórios tradicionais ameaçados pelas obras de infra-estrutura – usinas hidrelétricas e rodovias – tocadas com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), “a exemplo da UHE de Santo Antônio, cujo reservatório atinge territórios de perambulação de índios isolados”, lembra Emília Altini. “É mais um ciclo econômico que ameaça os territórios tradicionais”, lamenta ela.

 

A missionária Maria Petrolina Neto explica que os índios hoje necessitam de dinheiro. “O modo de vida tradicional destes povos era nômade. Eles ficavam em uma região por determinado tempo  e se mudavam quando a caça e outros recursos escasseavam, para dar tempo para a natureza se recompor naturalmente. Hoje  eles não têm como fazer esta itinerância, porque vivem em espécies de ilhas, rodeados por áreas colonizadas, e por isso precisam produzir para se alimentar e também para ter uma fonte de renda”.

 

A adoção de projetos de desenvolvimento sustentável nas aldeias, segundo a missionária, esbarra na falta uma política consistente voltada para os indígenas e também de investimentos, além do fato de que os indígenas não são ouvidos sobre as medidas tomadas pela Funai e outros órgãos. “Os projetos implantados partem do princípio de que os índios vivem em coletividade e não é assim. Cada família teria que ter direito a explorar a sua própria roça, o seu próprio tanque de piscicultura etc., como acontece com os não-índios. Além disso, muitas vezes os índios são incentivados a produzir, mas não têm como levar os produtos ao mercado consumidor”, explica a missionária.

 

As dificuldades de produzir alimentos e de acesso a serviços de saúde, educação e assistência social está provocando o êxodo de indígenas para as cidades, onde eles buscam uma vida melhor e passam a viver de forma miserável nas periferias.  “De certa forma, os problemas continuam os mesmos. Mudaram a forma e a estrutura dos órgãos governamentais, mas a política de atendimento aos indígenas continua a mesma – integracionista e com a adoção de medidas em que os índios não são ouvidos”, considera irmã Emília Altini.

 

Assembleia

 

Os integrantes do Cimi/RO iniciaram hoje um encontro de avaliação dos trabalhos realizados no Estado e participam de uma assembleia, de quatro a seis de setembro, no Centro Arquidiocesano de Pastoral (CAP), em Porto Velho, com a participação de religiosos e representantes de povos indígenas.

 

 

Fonte: Ana Aranda - Amazônia da Gente
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