20/07/2011

9ª Romaria da Terra e das Águas de Rondônia

Evento, que contou com participação de diversos povos indígenas do estado, foi realizado dia 10 de julho, no distrito de Iata, em Guajará-Mirim

Foi realizada no último domingo, 10 de julho, a 9ª Romaria da Terra e das Águas de Rondônia. O evento, que teve como tema “A água e o verde, vida do planeta”, aconteceu no distrito de Iata, em Guajará-Mirim.

As Romarias da Terra e das Águas de Rondônia acontecem desde 1986, sendo que este ano foi organizada pelas dioceses de Guajará-Mirim, Ji-Paraná, Porto Velho e pelo Sínodo de Amazônia da Igreja Luterana no Brasil (IECLB).

O distrito de Iata foi escolhido para sediar a Romaria porque corre o risco de desaparecer com a construção de uma hidrelétrica na Cachoeira de Ribeirão, município de Guajará-Mirim, apesar de sua importância histórica para o estado de Rondônia.

O evento contou com a participação de diversos povos indígenas do estado, entre eles os: Oro Waran, Oro Waran Xijein, Arikapu, Oro MOn, Cujubim, Djeoromitxí, Tupari, Kassuá, Aruá, Kithaulu (Nambikwara), Wayoró, Oro Nao, Canoé e Makurap. Todos assinantes do documento final do encontro, onde refletem sobre sua espiritualidade a partir dos elementos da natureza, como terra, água, ar e floresta.

O documento final reflete de forma clara a relação que os povos indígenas têm com o meio ambiente e seus elementos, onde afirmam estar toda sua história de vida. Para eles, a Terra é mãe; a água vida; o ar vida e saúde e a floresta sua riqueza, economia e futuro, bem como a morada de seus ancestrais e fonte de seus rituais.

Eles também refletem, contudo, os problemas enfrentados com a ação predatória do homem, como as queimadas, exploração ilegal de madeiras, minérios e outros recursos naturais. Fora toda essa leva de preocupações, os povos indígenas também se declararam contra os empreendimentos – hidrelétricas, estradas, entre outros -, que impactam seus territórios.

Como forma de driblar todas essas investidas, eles acreditam no fortalecimento de suas culturas e tradições, bem como na transmissão desse conhecimento ás futuras gerações.  

Leia documento final na íntegra:

Terra, Água, Floresta, Ar, Vida para os Povos Indígenas!

Nós representantes dos povos indígenas Oro Waram, Oro Waram Xijeim, Arikapu, Oro Mon, Cujubim, Djeoromitxí, Tupari, Kassupá, Aruá, Kithaulu (Nambikwara), Wayoró, Oro Nao, Canoé e Makurap refletindo sobre nossa Espiritualidade a partir dos elementos naturais e sagrados: a Terra, a Água, o Ar e a Floresta, neles estão toda a nossa história de Vida.

A Terra é uma mãe para nós. Nós somos os donos da terra. Às vezes os brancos falam que são os donos, mas é mentira. Nós é que somos sempre daqui. Precisamos da terra para viver com os nossos filhos e netos.

Água é vida, sem água ninguém vive. É como o leite da nossa mãe. É nossa sobrevivência, fonte e garantia de nossa continuidade.

A floresta é nossa economia, nossa vida, nossa riqueza, nosso futuro e é a morada de nossos ancestrais e fontes de nossos rituais (erva medicinais, a caça, as frutas e outros). Dela temos o ar puro que respiramos.

O ar é vida e saúde e unidade entre os seres vivos – os vegetais, as pessoas e os animais.

A terra está ameaçada por invasores, pelos impactos ambientais, poluição e desmatamentos das florestas. As nossas águas vêm sofrendo com as grandes usinas hidrelétricas e PCHs. Somos contra essas Usinas principalmente a do Ribeirão que atinge a nossas terras e a Vida dos povos indígenas sem contato. Quem sofre somos nós e também os peixes: piranha, pacu, surubim e traíra. Essa é a nossa preocupação e a preocupação de nossos pajés. 

Outras preocupações é o desmatamento, as queimadas, os projetos de plano de manejo, as barragens, os grandes agricultores, fazendeiros, madeireiros, garimpeiros, o projeto de crédito de carbono em nossas terras, o agrotóxico, rodovias, pescadores e outras formas violentas que ameaçam e destrói nossa floresta.

Por isso, pedimos a todos e a todas que se unam numa só luta em defesa de nossas terras e águas fonte de vida para todos nós.

Para as nossas futuras gerações vamos repassar nossas culturas, costumes, ervas medicinais, tradições, rituais, mitos e artesanatos e principalmente a língua materna, o resgate de nossas línguas maternas e todos os ensinamentos de nossos antepassados. Não deixar pessoas estranhas empatar as culturas indígenas e pajelança, a falar das comidas tradicionais, das histórias e sim dizermos que temos orgulho de sermos indígenas. Por que nós indígenas somos fortes e lutamos pelos nossos direitos. Que daqui para os outros anos, nossas crianças cresçam com força e dignidade com os outros irmãos. Unir o nosso fortalecimento para juntos continuarmos as nossas tradições e o nosso respeito e de ser o que somos Brasileiros indígenas.

Não deixar que as religiões (igrejas) tomem de conta de nossas pajelanças. Lutar pelos nossos direitos para que os governantes venham respeitar as futuras gerações e para que não sofram o que a gente vem sofrendo até os dias atuais, pois hoje os brancos vêm impondo dificuldades para os povos indígenas, buscando o passado que eles mesmos queriam exterminar a 500 anos atrás e que não conseguiram, pois estamos aqui resistindo e persistindo e que essa força seja repassada para o futuro.

Fonte: Cimi Regional Rondônia
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