Bispos do Tocantins alertam autoridades para a violência contra agricultores e camponeses
Os bispos da Província Eclesiástica de Palmas (TO) emitiram uma nota na qual expressam suas preocupações com o estado de tensão que vivem os pequenos agricultores e assentados do interior do município de Palmeirante (
“Nós bispos, informados da realidade desta dramática situação, cientes do descaso das autoridades que tornaram possível tal conflito, vimos manifestar nossa solidariedade com as famílias injustamente perseguidas. Afirmamos que são elas as legítimas destinatárias do Programa de assentamento. Apoiamos sua determinação em defender seus recursos naturais e florestais contra a cobiça da grilagem. Parabenizamos o evangélico serviço pastoral prestado às famílias pelos agentes da CPT, eles também em situação de risco”, diz um dos trechos da nota.
De acordo com o bispo de Tocantinópolis, dom Giovane Pereira de Melo, o além do descaso dos agressores contra os pequenos camponeses, o que mais impressiona é a falta de ação do estado, seja pelos poderes municipal, estadual, até mesmo federal. “Por isso, como representantes da Igreja, pedimos em nosso comunicado que sejam prontamente apuradas as atividades criminosas e incriminados seus mandantes; que seja realizada a retirada dos grileiros instalados na área; que seja imediatamente efetivada a regularização do projeto de Assentamento Santo Antônio, onde as famílias possam encontrar de fato o um lugar tranquilo para se cultivar a terra”, disse.
Para o presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Caridade, Justiça e a Paz, da CNBB, dom Guilherme Antônio Werlang, os bispos do Tocantins agem como “pastores e profetas e denunciam a violência contra os pequenos por parte dos "lobos" que continuam devorando o rebanho do Senhor e assumem verdadeira postura de pastores vigilantes sobre o rebanho que lhes foi confiado”.
Leia a íntegra da nota dos bispos do Tocantins abaixo:
Agricultores ameaçados de morte no Tocantins
Enquanto nosso país se depara com uma onda estarrecedora de matanças dirigidas contra camponeses e ambientalistas em luta pela partilha da terra e pela preservação da floresta, aqui no Tocantins, no interior do município de Palmeirante (
Segundo fatos recentes apurados pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), que tem acompanhado esses grupos nos últimos anos, tendo inclusive e constantemente levado essa situação ao conhecimento das autoridades, o conflito que se instaurou no Assentamento Santo Antônio – Bom Sossego remete ao ano 2003 quando, na criação do assentamento, 10 lotes do Programa Nacional de Reforma Agrária foram desviados da sua destinação em benefício de 3 fazendeiros, com a culposa anuência verbal de funcionários do INCRA. De lá para cá, na tentativa de reaver os lotes assim grilados e barrar a retirada de madeira da reserva legal do assentamento, 10 famílias, regularmente cadastradas pelo INCRA, têm feito gestões junto às autoridades (Ministério Público Federal, INCRA e Ouvidoria Nacional, Naturatins) e, enquanto não se resolve o impasse, ocupam parte da área
De forma repetida – outubro e dezembro de 2010, abril e maio de 2011 e, de novo, neste início de junho – um grupo de 8 pistoleiros armados, a serviço dos grileiros e madeireiros instalados na região, tem espalhado o terror entre essas famílias, dentro do assentamento e dentro do acampamento: incêndio de barracos, tiroteios noturnos, pessoas estranhas perambulando à noite com lanternas, ameaças de morte. Acionada, a Polícia Militar de Colinas (TO) foi até o local e encontrou evidências de tiroteio nas proximidades do acampamento.
Informações recentes dão conta de que os pistoleiros estariam planejando a morte de 5 pessoas entre acampados e assentados.
Apegados na promessa do Deus da Vida, nós bispos, informados da realidade desta dramática situação, cientes do descaso das autoridades que tornaram possível tal conflito, vimos manifestar nossa solidariedade com as famílias injustamente perseguidas. Afirmamos que são elas as legítimas destinatárias do Programa de assentamento. Apoiamos sua determinação em defender seus recursos naturais e florestais contra a cobiça da grilagem. Parabenizamos o evangélico serviço pastoral prestado às famílias pelos agentes da CPT, eles também em situação de risco.
Confiantes na primazia da justiça e do direito, denunciamos a omissão das autoridades responsáveis: que sejam prontamente apuradas as atividades criminosas e incriminados seus perpetradores e instigadores; que seja imediatamente realizada a desintrusão dos grileiros instalados na área; que seja imediatamente efetivada a regularização do projeto de Assentamento Santo Antônio e que nele as famílias possam encontrar de fato o "bom sossego".
Rezamos ao Deus da Vida, Deus de Jesus Cristo e Pai dos pobres, para que a terra que d’Ele recebemos torne-se realmente terra de irmãos.
Assinam os bispos do Estado do Tocantins – Província Eclesiástica de Palmas: Arquidiocese de Palmas, dom Pedro Brito Guimarães; diocese de Tocantinópolis, dom Giovane Pereira de Melo; diocese de Miracema, dom Philip Dickmans; prelazia de Cristalândia, dom Rodolfo Luís Weber e diocese de Porto Nacional, dom Romualdo Matias Kujawski.
Palmas, 9 de junho de 2011,
25 anos do assassinato do Pe. Josimo Tavares, mártir da luta pela terra.