Yvy Akañiré – Terra Sagrada Panambizinho
Por ocasião da audiência pública e do seminário realizado por iniciativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre a demarcação das terras indígenas Kaiowá Guarani, o exemplo mais utilizado para dizer que os índios não precisavam e nem queriam mais terra, foi a Terra Indígena Panambizinho, no município de Dourados. “Vejam essa terra, da melhor qualidade, outrora rico celeiro de alimentos, agora transformada em quiçaça (capoeira, tomada de colonião e broquearia)”, adornou o governador Puccineli.
Por ironia do destino e cinismo da história, enquanto isso era dito, um grupo de lideranças e jovens da aldeia estavam coletando sementes e mudas de arvores nativas na área de Pirakuá, para levar adiante um projeto de reflorestamento da terra devastada do Panambizinho. Foram mil e duzentos hectares demarcados para os índios, dos quais restavam apenas
No editorial do jornal O Progresso estava estampado o pensamento da elite do agronegócio “A tese que os índios precisam de mais terra é facilmente derrubada pelo exemplo clássico da Aldeia Panambizinho,
O líder Valdomiro, ao ser indagado sobre a vida hoje no Panambizinho desabafou: “Hoje estamos felizes com a terra, mas muito tristes porque até as descargas do presídio caem dentro do rio, do qual usamos a água. O que os colonos nos deixaram é “osso puro”. Não temos nem lenha e não cobramos nada. Ainda pagaram muito para eles. Hoje não temos as frutas porque os colonos furaram a raiz das plantas, colocaram veneno e mataram. O governo pagou para eles, então eles não podiam deixar tudo estragado”.
Trazer a mata e a vida de volta
É neste contexto, que no dia da audiência pública e do seminário promovido pelo CNJ, a escola e as famílias desta terra indígena realizaram um esforço concreto, desenvolvendo um processo lento de reflorestamento e produção de alimentos. Através do projeto Yvy Akaniré, que significa terra sagrada, membros do Cimi e ex- membros do Ará Verá, estão há oito meses fazendo uma caminhada com a comunidade. Foram realizadas inúmeras conversas, reuniões, intercâmbios com a comunidade de Tey Ikue (Caarapó) e busca de sementes e mudas de árvores nativas na aldeia de Pirakuá, na fronteira com o Paraguai, onde existem ainda mais de mil hectares de mata.
Enquanto esse esforço acontece, numa terra já demarcada, outras em processo de regularização continuam sendo agredidas conforme inúmeras denúncias das comunidades indígenas de Nhanderu Marangatu e Jatawari.
Mais árvores e menos cinismo
Árvores nossas de cada dia
Que a vida que vos anima
Nos ensine a respeitá-las
Assim como queremos
Ser respeitados e amados!
Que vossas vidas nos ensinem
Que nossas vidas dependem das vossas
E que os espíritos das florestas,
Sobreviventes travem a batalha
Em pé, apesar dos códigos
De ironia e do cinismo,
Que autorizam mais destruição!
Que se calem os dentes afiados,
Das moto-serras e dos machados,
Manchados com vossa seiva sagrada!
Malditas multinacionais da madeira,
Que continuem a vos pregar
Na cruz das gordas contas bancárias,
E vos consideram simples
Objetos de ganância!
Maldita mentalidade,
Que considera, que em pé,
Irmados, formando florestas,
Vós sois sinal de atraso,
Estorvo para o progresso,
E não ninho de vida,
Mercado de alimentos
E remédios, sombra,
Espaço de vida abundante!
Daí-nos hoje, em vosso dia,
O bom senso,
Do caminho do retorno,
De mais árvores plantadas,
Cuidadas e respeitadas!
Amém.