11/05/2011

Assembléia da CNBB e os índios

Indígenas e missinários do Cimi em Mato Grosso do Sul manifestam alegria pela nomeação de dom Dimas Lara Barbosa para arcebispo de Campo Grande

Por Egon Heck

Como vem acontecendo nas últimas décadas, a questão indígena foi colocada de forma contundente, em toda sua dureza e violência, pelo presidente do Cimi, dom Erwin Krautler, nesta 49ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), realizada entre 3 e 13 de maio, em Aparecida (SP). Em seu pronunciamento, mais uma vez teve destaque a dramática situação nos Guarani Kaiowá:

“O Estado de Mato Grosso do Sul tem sido recordista em violências contra os povos indígenas. Ali as comunidades indígenas são obrigadas a viver em beira de estrada, são frequentemente expulsas de seus acampamentos, têm suas barracas e pertences queimados e seus líderes assassinados. Cerca de 50% dos assassinatos de indígenas ocorre naquele estado. De acordo com recente informação do Ministério Público Federal (MPF), na terra indígena de Dourados, constituída de três mil e seiscentos hectares, nos quais vivem, em situação de confinamento, mais de 12 mil indígenas, o índice de homicídios é 800% maior que a média nacional. Esta prática de violência contra os povos indígenas no Mato Grosso do Sul, especialmente em relação ao povo Guarani Kaiowá, não deixa de ser um genocídio.

A omissão em relação ao intenso processo de violências enfrentadas pelos Guarani Kaiowá é talvez o elemento mais significativo da falta de interesse do governo federal pelos povos indígenas. Os abusos contra este povo têm sido denunciados pelo Cimi e por outras organizações de defesa dos direitos humanos e indígenas no Brasil e em nível internacional. Entretanto, mesmo assinando um Termo de Ajustamento de Conduta, no qual a Funai se comprometeu, em 2008,  em realizar os estudos de identificação e delimitação de terras de ocupação tradicional indígena naquele estado, até o presente momento o órgão indigenista está omisso. “A demarcação das terras poderia evitar a morte de centenas de pessoas do povo Guarani Kaiowá”.

Dom Erwin em diversas ocasiões tem reafirmado que a situação dos Guarani Kaiowá é das mais graves que ele já viu em toda sua vida. Comovido por essa realidade e está cobrando providências das autoridades responsáveis, em todos os lugares por onde está passando.

Dom Dimas, novo arcebispo de Campo Grande

Os Guarani e seus aliados ficaram muito felizes com a nomeação do novo arcebispo de Campo Grande, dom Dimas Lara Barbosa. O então arcebispo esteve em março do ano passado em Mato Grosso do Sul, quando visitou junto com o Cimi diversos acampamentos do povo Guarani no cone Sul do estado. Naquela ocasião, juntamente com dom Erwim, pôde sentir um pouco da dor e injustiça de que são vítimas os mais de 40 mil indígenas deste povo. Nesta ocasião se comprometeu de levar essa realidade à igreja e também às esferas do governo (presidente da República, Ministro da Justiça…) e pedir providências urgentes, especialmente com relação à demarcação das terras. Também se comprometeu a dar visibilidade a essa realidade, promovendo um debate a respeito nas emissoras católicas de TV.

Dom Dimas voltou a Dourados, pouco tempo depois, para pregar durante um retiro para o clero local. Esse conhecimento da grave situação e dos conflitos existentes nessa região certamente serão parte de sua ação de pastor em Campo Grande e no regional Oeste 1 da CNBB. Isso ele manifestou em seus primeiros pronunciamentos e entrevistas à imprensa regional.

Fonte: Cimi Regional MS
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