02/05/2011

Documento da II Aty Guasu de Arroyo Korá, município de Paranhos – Apoio ao Ypo’i.

Estamos comemorando dois anos de trabalho do conselho do Aty Guasu!

Nós lideranças tradicionais e políticas, nhanderu e nhandesi, caciques, professores, agentes de saúde, reunidos no 2ª Aty Guasu, realizada entre os dias 27 e 30 de abril na Terra Indígena Arroyo Korá, no município de Paranhos, nos reunimos dentro do espírito e exigências da Grande Nação Guarani, reunida recentemente em duas importantes assembléias, em Assunção e aldeia Jaguati, no Paraguai.

Assumimos assim e reforçamos as considerações e exigências feitas nesses dois encontros, destacando que:

“Para o Guarani seu território é o lugar onde viviam seus ancestrais e onde se articulam a biodiversidade, a cultura e a espiritualidade. O território e tudo que nele existe são direitos fundamentais aos quais não renuncia e nem renunciará a Nação Guarani porque é parte de sua existência, de sua identidade, de sua vida física, cultural e espiritual”. Diante disso, as comunidades e povos Guarani exigem a demarcação e o respeito a todas as terras e territórios Guarani nos quatro países que participaram dos encontros em território paraguaio: Bolívia, Brasil, Paraguai e Argentina.

Nós Guarani Kaiowá do Mato Grosso do Sul, queremos dizer mais uma vez que nosso direito às nossas terras continua desrespeitado, gerando uma situação de violência sobre nossas comunidades, o que nos leva a uma situação que nós entendemos como a declaração de morte de nosso povo. Isso é um crime contra a humanidade, é um genocídio. Por isso exigimos novamente providências imediatas dos três poderes para cumprirem suas obrigações com relação às nossas terras. Não queremos continuar sendo objetos de migalhas, enquanto pessoas e grupos nacionais e internacionais, como a indústria da soja e da cana, continuam ocupando e acumulando riquezas com os bens retirados de nossas terras.

Exigimos a conclusão e publicação urgente dos relatórios de identificação de todas as nossas terras. Não entendemos porque até agora não demarcaram nossas terras. Queremos que o Supremo Tribunal Federal julgue logo os processos que suspenderam a homologação da Terra Indígena Nhanderu Marangatu em 2005, Arroyo Korá em 2009 e Yvy Katu em 2011. Que a Funai  demarque logo as terras Indígenas Takuara e Jatayvary. Que a Justiça julgue o quanto antes as ações que estão impedindo a continuidade e conclusão das terras que estão em regularização.

Nesta Aty Guasu reafirmamos a importância de fortalecer a nossa cultura, nossas lideranças tradicionais, nhanderu e nhandesi, para que todas as lideranças lutem no mesmo sentido pelos nossos direitos, nosso jeito de ser, se organizar e viver.

Queremos rechaçar a grande interferência de muitos municípios nas escolas indígenas, substituindo nossos professores por não índios e impondo calendário e currículo que não respeita e fortalece nossa cultura. Conclamamos os professores indígenas que lutem para não deixar nossas escolas retrocederem e voltarem a ser instrumento de dominação e destruição da nossa cultura. Que os professores assumam e participem  sempre mais do movimento da Aty Guasu. Ficou decido ainda que o Aty guasu acompanhe o movimento dos professores no repasse do recurso e nas decisões do território étnico educacional do MS.

Na assembléia foi decido que tenha formação continuada para os agentes de saúde indígena kaiowá Guarani.

Consideramos muito importante o esforço das mulheres e dos jovens de se articularem parra participar melhor e com mais força no Movimento Guarani Kaiowá, especialmente na luta pela terra e pela nossa autonomia. As kuña-mulheres tiveram um papel muito importante nesta Aty Guasu, damos toda a força para a realização de uma Aty Guasu das Kuña. Esperamos que isso possa acontecer em breve. Também vimos com grande preocupação a situação cada vez mais difícil dos nossos jovens. Por isso saudamos e vemos com esperança a articulação que eles estão fazendo, inclusive de realizar uma Aty Guasu dos Jovens.

Queremos que sejam respeitadas todas as decisão tomadas no Aty Guasu.

Quanto à política indigenista queremos dizer que apesar da intenção de melhorar a proteção de nossos direitos e assistência sem tutela, lamentamos que a burocracia esteja muitas vezes piorando a situação, ao invés de melhorar conforme anunciado. Vamos continuar pressionando a Funai e o governo para que nossos direitos sejam assegurados, conforme garante a Constituição.

Nos unimos a todos os nossos  irmãos indígenas, povos originários, em solidariedade e apoio em suas lutas e resistência por manter sua terra, sua identidade e sua cultura.

Aty Guasu, Arroyo Korá, 30 de abril de 2011

Fonte: Cimi Regional MS
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