É preciso fortalecer os trabalhos da base
Conclusão foi apresentada por lideranças indígenas participantes de evento em Luziânia, Goiás
Situação de violência sofrida pelo povo Tupinambá, do sul da Bahia, mapeamento da situação dos povos quanto à criminalização de suas lideranças, empreendimentos em terras indígenas e processos de identificação e demarcação dos territórios tradicionais. Temáticas que nortearam os trabalhos desenvolvidos nesse segundo dia do Encontro Nacional dos Povos Indígenas em Defesa da Terra e da Vida, realizado no Centro de Formação Vicente Cañas, em Luziânia (GO), entre 29 de abril e 1º de maio.
Os cerca de 200 participantes, 180 dos quais representantes de 69 povos indígenas do país, divididos em três blocos de grandes regiões – norte, nordeste e leste, sul e sudeste – realizaram, durante o dia, discussões para definir os principais problemas vivenciados por suas comunidades, entre eles os relacionados à posse da terra e ao processo de criminalização da luta e de lideranças do movimento indígena.
De acordo com a coordenação do evento, o objetivo do encontro é fazer com que a base do movimento indígena leve às suas organizações os relatos sobre a real situação de suas comunidades. “É preciso que nós, juntos, construamos um novo caminho para o movimento indígena. Estão tomando decisões sem informação da realidade da base e nossas organizações e o governo precisam saber o que estamos sofrendo em nossas comunidades”, disseram.
O encontro também é uma oportunidade de discutir e fazer reflexões que contribuam com o fortalecimento da base que, de acordo com os participantes, é de onde parte e continua a luta. “Queremos fortalecer as lideranças da base que estão levando tiros em suas aldeias. O trabalho aqui é real, quando se discute o que está verdadeiramente acontecendo em nossas terras. Outras pessoas não falarão do que está acontecendo lá, em nossas casas”, afirmaram.
Desafios
Estão entre os principais desafios enfrentados pelos indígenas da região norte: falta de identificação e demarcação de seus territórios tradicionais; monoculturas de cana de açúcar, soja e eucalipto, bem como o uso de agrotóxicos nessas plantações; invasão de madeireiros, caçadores, pescadores e garimpeiros; precariedade no atendimento a saúde indígena; preconceito e desrespeito aos indígenas; biopirataria e tráfico de drogas na região; construção de hidrelétricas e pequenas centrais hidrelétricas nas terras indígenas.
Já nas regiões sul/sudeste e nordeste, onde a situação se repete, as lideranças apontaram a falta ou demora nos processos de identificação e demarcação das terras indígenas; invasão de não indígenas nos territórios já demarcados; pressão política para fragilizar a luta das comunidades, além de ameaças e violências sofridas; criminalização e encarceramento de lideranças; construção de grandes empreendimentos, como hidrelétricas, rodovias, parques industriais e florestais, linhas de transmissões; monoculturas transgênicas e plantio de eucalipto.
Ao final do dia, os membros da coordenação finalizaram os trabalhos, chamando atenção para a pauta de discussões que será tratada durante o 8º Acampamento Terra Livre. Evento que será realizado entre 2 e 5 de maio, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, e reunirá cerca de 800 lideranças indígenas.
“Teremos a nossa pauta de reivindicações a ser apresentada no Terra Livre. É preciso ter um povo consciente, um povo que saiba o que está fazendo e o que acontece em sua região, podendo assim elaborar documentos e cobrar ações do governo. É preciso conscientização para termos uma terra livre”, concluíram.
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