O TSUNAMI DA FOME NAS ALDEIAS DO MATO GROSSO DO SUL
”Se é para salvar o planeta deve ser sério. E primeiro terá que salvar os milhares de Indígenas que estão sendo massacrados em nosso estado. Eles, os Povos Indígenas sejam de que tribo forem, são originais e não serão jamais peças de atração exótica.” (Silvio da Silva – CRB/MS)
Por Egon Heck
“Este ano a Funai ainda não entregou cesta básica. São quase três meses de fome e espera”. O clamor chega das diversas aldeias e acampamentos indígenas do Mato Grosso do Sul, e em especial dos Guarani Kaiowá que vivem na região de Dourados. O grito da fome como ondas gigantes vai se propagando pela região.
Em carta encaminhada ao Ministério Público Federal de Dourados e Funai, o Conselho da Aty Guasu manifesta sua preocupação frente a tal situação: “Nosso povo está passando muita fome, não por culpa nossa, mas porque tiraram nossas terras, acabaram com nossa possibilidade de produzir nosso alimento, e agora estamos nos braços da fome e da dependência”.
Eles denunciam que nenhuma cesta básica foi entregue este ano e que a dificuldade em conseguir alimento faz com que muitas crianças percam peso, o que gera o risco de nova mortandade por desnutrição, como já registrado em anos anteriores. Eles concluem o documento, pedindo providências urgentes. “Se não vier com urgência, nós do Conselho da Aty Guasu vamos fazer um documento e espalhar no mundo inteiro dizendo que querem que a gente morra de fome”.
Diversas denúncias são constantemente enviadas à Funai e demais órgão do Estado, no entanto, a resposta é sempre a mesma: “os alimentos estão comprados, porém não tem transporte para trazê-los até aqui”. O que os indígenas não entendem é como tem centenas e centenas de caminhões carregados de soja passando por suas aldeias e não existe transporte para trazer a cesta básica.
ASSASSINATO DO CACIQUE VERON: O JULGAMENTO CONTINUA
Depois da celebração e alegria pela vinda de lideranças de várias aldeias para o grande encontro de socialização do julgamento havido em São Paulo, dias 21 a 25 de fevereiro, quando foi reconhecida a crueldade, tortura e a formação de quadrilha que praticou violência, ferimentos e morte do cacique Marcos Veron, foi o momento de fazer o “purahei” – ritual de homenagem e justiça, na sepultura do Cacique na aldeia de Takuara. Ao som dos mbarakás, das takuaras e os cânticos espirituais as lideranças seguiram para o barracão construído para a realização da “Aty Guasu”, pela justiça e memória dos que derramaram seu sangue na luta pela terra.
Na carta para as autoridades e amigos do mundo inteiro os participantes assim expressaram suas exigências:
Exigimos
O julgamento imediato do mandante do crime, Jacinto Honório da Silva Filho e do principal responsável pelo assassinado, Nivaldo Alves de Oliveira, que se encontra foragido. São ao todo 24 réus a serem julgados pela violência e morte do cacique Marcos Veron.
Que a polícia federal agilize a conclusão dos inquéritos de lideranças Kaiowá Guarani assassinados na luta pela terra, para que os responsáveis sejam julgados e punidos o quanto antes.
Que sejam concluídos e publicados com urgência os relatórios de identificação de todas as terras Kaiowá Guarani, que é indispensável para começar a reverter a situação de violência. Assim, as comunidades voltarão a viver em paz dentro de seus tekohá.
Continuaremos nos reunindo, fazendo as nossas rezas e discussões em nossas Jeroky Guasu e Aty Guasu. Esperamos continuar contando com a compreensão e apoio sempre maior de amigos e novos aliados no Brasil e no mundo”. (Aldeia Takuara, 13 de março de 2011, Juti – MS. – Carta dos nhanderu e lideranças Kaiowá Guarani)
Apesar de tudo a vida Guarani segue sua trajetória secular, de resistência e afirmação de sua cultura. Nos próximos dias acontecerá o segundo encontro dos Guarani da América do Sul, promovido pelos Ministérios da Cultura dos quatro países – Brasil, Paraguai, Argentina e Bolívia. São esperados em torno de mil Guarani na aldeia Jaguaty, no departamento de Amambay, no Paraguai.