O Planalto, seus caciques e a hidrelétrica
Representantes do Palácio do Planalto receberam, nesta terça (8), manifestantes contrários à construção da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, Estado do Pará. Trago um breve relato de como foi a audiência feito por pessoas que dela participaram. Vale pela curiosidade.
O secretário executivo da Secretaria Geral da Presidência, Rogério Sotilli, representou o governo em nome do titular da pasta, Gilberto Carvalho, que está no Fórum Social Mundial no Senegal. Ao todo, oito caciques e lideranças ribeirinhas da Bacia do Xingu levaram as 604.317 mil adesões de um abaixo-assinado contra Belo Monte, além de um documento com oito páginas de denúncia sobre os impactos sociais e ambientais trazidos pela obra e demandas por participação nas decisões da política energética nacional.
Raoni Metuktire fez um longo discurso em kayapó sobre o fato do governo mexer com o que não conhece e derrubar matas para depois ficar refém de ventos e chuvas que tudo inundam e com tudo acabam. O dedo de Raoni esteve por longos minutos no nariz de Sotilli.
“Fico triste em ouvir críticas aos governos Lula e Dilma”, disse Sottili. “Lula prometeu que não enfiaria Belo Monte goela abaixo das populações do Xingu. Sempre ouvi dizer que houve muito diálogo. Talvez, com o que vocês dizem agora, não foi tanto assim…” – ponderou. Prometeu que, a partir de agora, estarão garantidos os diálogos.
Mas depois adiantou o que esperar das conversas: “Dilma fará o que tem que ser feito” E: “Dilma tem que pensar o Brasil como um todo, atender todos os interesses, incluir toda a nação…” E mais ainda: “Garanto que vamos dialogar, mas claro, podemos não chegar a um consenso”.
Enquanto Sotilli prometia às populações do Xingu que o governo dialogaria, e que um relato fidedigno da audiência, mais documentos e assinaturas contra Belo Monte, seriam levados à presidenta pessoalmente, nos calabouços governamentais o ministro Edson Lobão (Minas e Energia) e o presidente da Empresa de Pesquisa Energética Maurício Tolmasquim afirmavam que, já na semana que vem, as máquinas estariam no Xingu para derrubar floresta e construir o canteiro de obra – cuja licença, expedida pelo Ibama, é contestada pelo Ministério Público Federal na Justiça. Apesar das promessas dos tão famosos diálogos.
Pouco depois, lá fora, no concreto da praça dos Três Poderes, debaixo de um sol de rachar, caciques e lideranças ribeirinhas prestaram contas aos manifestantes reunidos com faixas e cartazes. Algo do tipo: o povo do governo explicou que dialogar significa que a gente tem o direito de falar, eles vão ouvir mas, no final, a gente vai ter que sair das nossas terras de qualquer jeito.