Flechas envenenadas no ar!
O trigésimo segundo presidente da Funai, Marcio Meira, parece disposto a conquistar recordes no órgão indigenista oficial. Só está perdendo, em termos de tempo na presidência do órgão, para o general Ismarth Araújo de Oliveira, da década de setenta (
Luta inglória. Talvez. Afinal de contas a Funai sempre esteve com a ambígua e contraditória função de defender os índios sem contrariar os interesses econômicos e políticos. Ou seja, enquadrar os direitos indígenas dentro das estreitas margens da legalidade conveniente, sem ferir o sistema desenvolvimentista. E é aí que entra a semelhança com os generais da década de setenta. Demover os óbices, ou à força (repressão) ou pela força do diálogo. Em tempos passados se optou pelo primeiro método enquanto hoje se privilegia a segunda estratégia.
O sertanista Odenir Pinto, em carta indignada dirigida ao atual presidente da Funai, conclui dizendo: “E o dia em que você conceder a última, Licença de Operação, para UHE de Belo Monte, mais uma vez o Estado brasileiro, através do seu organismo oficial de indigenismo, estará, numa trajetória iniciada por Nobre da Veiga e Zanoni há vinte e oito anos, impedindo que os povos indígenas protagonizem seu destino e participem do destino do Brasil” (02/02/11).
Já num ensaio de foco para a mídia, um ex-presidente do órgão indigenista, se esmerou em tipificar os atuais indigenismos para, de alguma maneira, justificar seu indigenismo rondoniano integracionista e assimilacionista. Talvez pudéssemos acrescentar outros indigenismos como o tutelista e o mercenário, convivendo com o altruísta e o humanitário.
Por maldade ou desconhecimento, o ex-presidente da Funai que um dia declarou que “É terra demais. Até agora, não há limites para as reivindicações fundiárias” dos índios, procura juntar todo mundo num mesmo balaio, quando é público e notório o trabalho do Cimi, em quase quatro décadas, na perspectiva da autonomia e protagonismo dos povos indígenas neste país. Desde as assembléias indígenas, na década de setenta, até os recentes acampamentos Terra Livre na Esplanada dos Ministérios a partir do início deste século, tiveram o apoio incondicional do Cimi. Isso sem falar nas inúmeras lutas dos povos indígenas pelas suas terras, de norte a sul deste país, nas quais muitos missionários foram assassinados assim como inúmeras lideranças indígenas. O diálogo respeitoso com os povos, com a valorização de suas culturas e expressões religiosas tem norteado a presença solidária dos membros do Cimi junto aos povos indígenas deste país. Ocultar isso não é certamente ignorância, mas explícita má fé.