08/02/2011

Terras indígenas contribuem para amenizar impactos das mudanças climáticas

A XXXI Assembléia Regional do Cimi Norte I, realizada em Manaus, entre os dais 04 e 06 de fevereiro, teve como tema “Contribuição dos Povos Indígenas na Preservação do Meio Ambiente Frente ao Aquecimento Global”. Foi a Assembléia como maior número de participantes dos últimos anos, marcada por muita animação e homenagem a memória de missionários e missionárias falecidos recentemente, entre os quais Gunter Kroemer, Doroty Schwade e Cristophe Six.

 

“As terras indígenas tem um papel fundamental para frear o desmatamento. Temos observado vários trabalhos mostrando claramente que as terras indígenas tem uma capacidade efetiva de conter mais o avanço do desmatamento do que as próprias unidades de conservação e outras áreas protegidas dos governos estaduais e federal. Ou seja, são mais eficientes em manter a floresta e com isso já estão dando uma grande contribuição nas mudanças globais”, destacou Paulo Maurício Graça, pesquisador do Inpa durante a XXXI Assembléia Regional do Conselho Indigenista Missionário – Cimi, Regional Norte I (AM/RR), realizada em Manaus de 04 a 06 de fevereiro.

 

Embora sejam importantes para conter impactos das mudanças climáticas, elas serão também as mais vulneráveis caso o ritmo de desmatamento e degradação ambiental prossigam no ritmo acelerado em que se encontram atualmente. “Os impactos vão ser enormes e vão ser mais sentidos pelos povos indígenas porque eles dependem mais da floresta”, alerta Paulo Graça.  “Os povos indígenas dependem da floresta para sua caça, sua pesca, sua alimentação e moradia. Então, se há agravamento de secas ou secas entrando num ciclo vicioso com queimadas, eles vão sentir mais porque eles dependem mais da floresta do que as populações que vivem nas cidades”, acrescenta.

 

Segundo ele, não é possível afirmar com base em estudos científicos que os fenômenos de enchentes e vazantes extremas, como as acontecidas nos últimos anos na Amazônia, sejam consequência das mudanças climáticas. No entanto ele diz que “nos assusta a frequência com que isso está acontecendo” e pode ser uma evidência de que o clima está mudando em escala global.

 

Sendo ou não fenômenos decorrentes do câmbio climático, a enchente e vazantes extremas causaram muitos danos aos povos indígenas. Em vários municípios muitas comunidades ficaram sem água potável e sem condições de prover a alimentação baseada na caça, pesca e coleta de produtos diretamente da floresta. No município de Lábrea (AM), os indígenas da comundiade de Idecorá foram duramente afetados pela estiagem e pelas queimadas, segundo relatou o Apurinã José Raimundo Pereira Lima (Zé Bajaga). “O rio vazou muito, desde maio, ficando um pouco mais de meio metro de água que só era possível passar canoa pequena. Barco, nem pensar. Nunca ficou assim”, diz o coordenador da Focimp. “Se a cheia não atingir os níveis normais logo, vai faltar alimento tanto para os indígenas quanto para os não indígenas”, adverte.

 

Além da seca do rio Ituxi, alfuente o rio Purus, causa preocupação aos moradores da comudidade Idecorá as queimadas verificadas nas cabeceiras do rio. Por causa do desmatamento, diz José Raimundo, tem aparecido bancos de areia no meio do rio. Ele verificou que as praias do Purus, numa extensão muito grande, estão pela metade em lugares onde deveria estar cheio nesta época do ano. “As pessoas da região ficaram alarmadas a tal ponto de acreditar que estamos perto do fim do mundo”, conta ele.

 

As 52 famílias da comunidade Porto Praia de Baixo, localizada a cerca de dez quilômetros da cidade de Tefé, na região do médio Solimões (AM), ficaram isoladas por causa da estiagem. “ ficou um deserto de areia. Da comunidade para a margem do rio Solimões ficou uma área de quatro quilômetros”, descreve Francisco dos Santos Amaral, integrante da equipe do Cimi. “O rio encheu pouco até agora. As pessoas de lá dizem que foi a maior seca na região de Tefé”, conta Amaral.

 

Uma das consequências da vazante deste ano foi a dificuldade de comercialização dos produtos dos indígenas na feira da cidade de Tefé. “Tinha muitas hortaliças mas perdia-se muitas na hora de vender porque os indígenas tinham que sair muito cedo – devido a dificuldade de transporte-, e, por causa disso, a produção se estragava e as pesoas não compravam”, conta ele. Entre outubro e novembro os indígenas tiveram que comprar farinha na cidade porque ficaram sem condições de produzir. Eles também ficaram vários meses consumindo água de má qualidade, retirada, muitas vezes, de cacimbas construídas próximas a igarapés cobertos por vegetação que tornava a água imprópria para consumo humano.

 

Cobrança a Dilma

 

Intensificar os debates sobre as mudanças climáticas e solicitar audiência com a presidenta da República, Dilma Roussef, para discutir a situação da hdrelétrica de Belo Monte são algumas das metas da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Braasileira – Coiab, nos próximos meses. Conforme revelou Marcos Aputinã, coordenador dessa organização, o tema das mudanças climáticas interessa aos povos indígenas e tem de ter participação destes no planos elaborados pelos órgãos governamentais.

 

Durante a assembléia do Cimi Norte I ele disse que 2010 foi um ano de intensas discussões sobre todos os temas de interesse do movimento indígenas e 2011 será para implementar ações e políticas públicas demandadas pelos indígenas. “Nós consideramos que houveram avanços importantes, como a criação da Comissão Nacional de Política Indigenista – CNPI, Secretaria Especial de Saúde Indígena – Sesai e a restruturação da Funai. Não foi como nós queríamos, mas estamos interferindo para fazer os ajustes devidos para atender aos pleitos dos indígenas de todo o Brasil”, disse Marcos Apurinã. “No caso da Sesai –  diz ele – houve uma discusão muito intensa, passaram-se vários anos, agora estão aparecendo percalços porque ainda é a Funasa que está fazendo o “meio de campo”.

 

J. Rosha – Assessor de Comunicação do Cimi Norte I

Fonte: Cimi Regional Norte 1
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