07/12/2010

Cultura, contexto e mudanças climáticas

Por Marcelo Schneider

Assessoria de Comunicação do evento

 

Diferentes culturas têm diferentes relações com a natureza. Estas relações podem ser utilitaristas, de controle ou de harmonia. Os efeitos das mudanças climáticas no planeta, contudo, são sentidos de forma semelhante e direta nos mais diversos contextos. Esta realidade fez com que a Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) reunisse, em Brasília/DF, jovens representantes de projetos e grupos apoiados pela organização para debater e aprender sobre mudanças climáticas.

 

Entre estas crianças, está Naiara Sales Ferreira, que vive em Rio Pardo, Minas Gerais, tem 13 anos e está participando do encontro chamado “Mudanças Climáticas: nossa vida está em jogo!”, que acontece de 6 a 8 de dezembro. Em sua cidade natal, diariamente, Naiara vai à escola de ônibus e, durante os 40 minutos do trajeto, vai observando a paisagem ao seu redor se transformar lentamente. “A Vale do Rio Doce chegou aqui, comprou uma terra e instalou um acampamento para mineração. Os buracos que eles deixam são grandes e tem tóxico. Esse tóxico escorre para a água e contamina tudo. Além disso, tem eucalipto em toda parte. Isso não existia quando eu era pequena” afirma Naiara, que participa do projeto da CESE “Lançando Experiências” e foi escolhida para participar do evento na capital federal ao lado de outras crianças e adolescentes tocadas por outros projetos.  

 

Para Vera Catalão, uma das assessoras do encontro, professora na faculdade de educação da Universidade de Brasília, a riqueza do evento se evidencia também pelo seu potencial: “Hoje em dia, as crianças se mostram preocupadas com o tema da ecologia porque ouvem falar dos problemas ligados ao meio ambiente na televisão. Mas este é um tema que também precisa ser trabalhado nas escolas. Já existem experiências muito positivas neste sentido em alguns grandes centros urbanos. A CESE está reunindo aqui crianças de áreas mais isoladas, lugares que sofrem os efeitos das mudanças climáticas, mas que não têm acesso a informações. Esta é uma iniciativa de formação muito interessante. As crianças destes contextos têm uma capacidade de observação notável acerca dos efeitos das mudanças climáticas. Uma criança que mora no Xingu, por exemplo, tem uma percepção empírica muito aguçada que, ao lado do aprendizado que adquire num evento como este, acaba sendo um importante passo no desenvolvimento de futuras lideranças e formadores de consciência locais que irão atuar também além de seus próprios contextos”.

 

“Pegadas ecológicas”

 

Ao partilhar suas experiências locais em grupos divididos de acordo com seu contexto (indígenas, quilombolas, colônias de pescadores, populações do semi-árido), as crianças e adolescentes que participam do encontro passaram a perceber um fator importante na análise das mudanças climáticas no mundo de hoje: as conseqüências das pequenas atitudes de cada um/a geram impactos locais e globais em curto e médio prazo. Tais conseqüências são chamadas de pegadas ecológicas, que é a medida da demanda humana sobre os ecossistemas. Os/as participantes do encontro não só se deram conta de suas pegadas ecológicas como perceberam que também são afetados diretamente por pegadas ecológicas de outras pessoas, povos e grandes empresas. Nos relatos dos grupos, uma voz comum foi se formando em meio à diversidade de cores, ritmos e origens: as mudanças recentes do clima se percebem em toda parte e, muitas vezes, da mesma forma: aumento da temperatura, períodos de chuvas intensas seguidos de secas árduas.  

 

Em meio aos relatos das coisas belas de cada lugar, também houve espaço para partilha de lamentos e tristezas. Os/as moradores/as de comunidades de pescadores no litoral do Paraná falaram do avanço do mar e da crescente dificuldade de encontrar peixes diante de constante intervenção de grandes barcos pesqueiros em sua região. Lembraram também do desmatamento de grandes áreas para o plantio de pinheiros. Os/as indígenas falaram sobre as queimadas e de como esta prática agride a natureza do local onde vivem. Os/as quilombolas, por sua vez, falaram da falta de coleta de lixo em suas comunidades, da queima de árvores para a produção de carvão e da sua luta para não ceder à pressão da monocultura do eucalipto.

 

“Mudanças Climáticas: Nossa Vida está em Jogo!” acontece paralelamente à conferência climática (COP 16) de Cancun, México, de onde já se ouvem rumores sobre poucos avanços concretos ao final de mais uma rodada de diálogos. Um pouco mais ao Sul, em Brasília, 22 crianças ensaiam os primeiros passos de uma nova geração que, ao que tudo indica, receberá um planeta ainda mais danificado. O desenvolvimento de consciência destes jovens pode ser um passo importante na construção de uma geração que assuma a urgência das coisas inevitáveis e exija e trabalhe desde já por políticas públicas mais comprometidas com o meio ambiente, algo que os adultos de hoje ainda não conseguiram fazer a contento. As novas pegadas estão chegando. E são marcadas pela esperança de um mundo melhor.

 

O Encontro com crianças e adolescentes “Mudanças Climáticas: Nossa Vida está em Jogo!” acontece entre os dias 6 e 8 de dezembro de 2010 em Brasília/DF e é promovido pela Coordenaria Ecumênica de Serviço (CESE) em parceria com Act for Children  (Holanda, África do Sul, Índia e Quênia) e Campanha pela Educação (Brasil). A CESE é membro da ACT Aliança, que reúne 105 organizações ligadas a igrejas ao redor do mundo envolvidas no trabalho de ajuda humanitária e apoio do desenvolvimento e defesa de causa. www.actaliance.org A organização de ajuda humanitária é um esforço conjunto da Igreja Católica Apostólica Romana, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Igreja Episcopal Anglicana do Brasil, Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e Igreja Presbiteriana Independente do Brasil.

Fonte: Cimi
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