17/11/2010

Apreensão e alegria Kaiowá Guarani em Assunção

Por Egon Heck

Rosalino não consegue conter a emoção. Chora. A seu lado Rodolfo expressa um longo sorriso no rosto.  Elpidio se agita alegremente.  Palmas de todo o grupo de mais de quarenta Kaiowá Guarani presentes no III Encontro Continental Guarani , em Assunção, Paraguai.  O assessir jurídico do Cimi , Rogério Batalha, olha atentamente a decisão do juiz desembargador Tribunal Regional Federal da 3ª região em São Paulo. “É isso mesmo”, afirma emocionado. Acaba de ser anunciada a revogação do despejo da comunidade Guarani do Ypo’i.  Confere mais uma vez, atentamente.  A comunidade tem mais um tempo para respirar. A decisão do juiz André Nabarrete, vice presidente do TRF3, que compreende os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, determina a suspensão da reintegração de posse, até que sejam concluídos os trabalhos de identificação da terra, realizado por um Grupo de Trabalho (GT) da Funai.

Há pouco, na primeira sessão do dia foram debatidos os principais problemas que hoje as comunidades Guarani enfrentam, nos quatro países, com relação às suas terras e territórios. Um Guarani Kaiowá do Mato Grosso do Sul havia colocado para a plenária a notícia do despejo anunciada para o dia de amanhã. Houve reações acaloradamente solidárias manifestadas por vários participantes. O povo Guarani não vai mais admitir que suas comunidades sejam vítimas de ações de violência e desrespeito a seus direitos fundamentais, garantidos nas leis e acordos nacionais e internacionais. Em função disso foi aprovado a elaboração de um documento para ser entregue ao governo e judiciário brasileiro exigindo respeito ao direito dos Guarani às suas terras e a suspensão de qualquer ação que viole esse direito.

Enquanto o documento estava sendo elaborado veio a boa notícia da suspensão da reintegração de posse. “O documento continua sendo importante, enquanto manifestação dos mais de 300 mil Guarani ali representados, pois a ação judicial continuará, até a decisão final sobre o mérito da ação”, informa o Rogério Batalha. Era visível a sensação de alívio.

Na carta de solidariedade dos Guarani do continente à comunidade do Ypo’i, que será divulgada hoje, fica expressa a decisão dos Guarani de lutarem unidos pelas terras e territórios de seus povos nos diversos países: “Nós, povos indígenas Guarani de Argentina, Bolívia, Brasil e Paraguay presentes no III Encontro Continental do Povo Guarani, realizado no Seminário Metropolitano de Asunción, PY, vimos pelo presente documento manifestar nossa dor e preocupação sobre o iminente despejo de nossos parentes Guarani do tekohá Y’poí, município de Paranhos, Mato Grosso do Sul, fronteira com o Paraguay, que há muito tempo estão sofrendo com ameaças e assassinatos de suas lideranças, que estão lutando por um pequeno pedaço de terra para poderem sobreviver com dignidade e sustentabilidade… Acreditamos muito na solidariedade e apoio de todas as pessoas de bem para com os povos Kaiowá e Guarani de Mato Grosso do Sul que vêm historicamente sofrendo com o desrespeito aos seus direitos e que amarguram na miséria e violência, mas que somente querem ter uma vida digna com terra, alimento e paz”. (Povos Guarani da America do Sul em Solidariedade à Ypo’i).

O segundo dia do Encontro Continental Guarani terminou com apresentações de rezas e danças dos Povos Guarani e um guachiré de agradecimento a Deus e a todas as pessoas solidarias pela suspensão do despejo de Ypo’i.

Fonte: Cimi Regional Mato Grosso do Sul
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