08/11/2010

Reivindicações do Povo Guajajara resulta em confronto na Terra Indígena Canabrava (MA)

Desde a última quinta-feira (4), circulavam informações nas emissoras de rádio em Barra do Corda (MA), de que indígenas do Povo Guajajara, que vivem às margens da BR 226, estariam ameaçando interditar a rodovia como protesto pelo não recebimento do valor destinado ao transporte e merenda escolar indígena. O valor em questão deveria ter sido pago em junho deste ano, quando o governo do Maranhão assinou um Termo de Ajuste de Conduta (TAC), contudo não honrou o compromisso.

 

Por volta das 17h de ontem (7), os indígenas iniciaram o protesto e bloquearam parte da BR 226. Durante o bloqueio, o delegado regional de Barra do Corda, Edmar Cavalcanti, que durante o final de semana havia prestado serviço na delegacia da Polícia Civil em Grajaú, retornava para Barra do Corda. Cavalcanti, que viaja sozinho, conduzia uma motocicleta e estava à paisana. De acordo com relatos, ao chegar ao local do protesto, ele tentou convencer os indígenas para que o deixassem passar.

 

De acordo com o delegado, o grupo não permitiu sua passagem e deu início a uma série de agressões. Cavalcanti teve ferimentos na mão esquerda e parte de um dedo decepado. Segundo ele, após sofrer tais agressões sacou o revolver e começou a atirar na direção dos indígenas. Vários indígenas ficaram feridos e revidaram com tiros de espingarda, dos quais alguns projéteis atingiram Cavalcanti.

 

No momento do conflito, dois caminhoneiros que seguiam de Grajaú para Barra do Corda, se aproximaram do grupo. De acordo com relatos, eles perceberam a situação, manobraram o caminhão e prestaram socorro ao delegado, levando-o de volta a Grajaú, aonde recebeu os primeiros atendimentos médicos. Na madrugada de hoje, Cavalcanti foi transferido para o Hospital São Rafael, em Imperatriz.

 

Versões

 

Um detalhe chama a atenção: na versão do delegado, foram os indígenas que iniciaram o confronto, ferindo-lhe a mão onde um dedo foi decepado… Uma versão estranha, pois o corte teria sido “a causa justa” que fez com que o policial sacasse sua arma e atirasse contra os indígenas. E na delegacia de Grajaú os policiais informaram que fora o próprio delegado que contou que os indígenas usaram arma de fogo depois que ele já havia atirado nos indígenas.  

 

Não se sabe como nem quem socorreu os indígenas, que além de feridos estão presos. Segundo Erismar Timbira, membro da Equipe de Coordenação Técnica da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Barra do Corda, dois indígenas foram presos e levados à delegacia da cidade. Na manhã de hoje, um deles foi liberado.  O outro continua preso, porém com um grave ferimento na perna provocado pelas balas deferidas pelo policial. É urgente que ele receba atendimento médico necessário para não vir a perder a perna. Três indígenas, em estado mais grave, foram presos e levados, em seguida, para o Socorrão de Presidente Dutra, dois em estado grave.

 

Erismar Timbira informou também que os indígenas não procuraram a Funai para comunicar sua intenção e nem buscaram acercarem-se de algumas medidas de segurança. Contudo, ao saberem da intenção dos indígenas, de forma não oficial, tentaram convencê-los a buscar outra solução indo até São Luis para negociarem diretamente com os órgãos estaduais.  

 

No momento, a rodovia naquela área continua sem movimentação de veículos. No entanto, não se sabe se está interditada pelos indígenas, ou se são os viajantes que estão cautelosos e inseguros de trafegarem pelo local após o conflito.

 

Este estado de coisas acontece exatamente após as eleições, quando a governadora Roseana Sarney anuncia o corte dos gastos e alega não ter dinheiro para honrar seu compromisso com os indígenas. Mais uma vez a governadora mostra para que veio. Enquanto isso recai sobre os indígenas, em mais este triste episódio, as conseqüências: críticas infundadas da mídia regional, não contextualizando os fatos e acirrando o ódio da sociedade não índia, pois omite o real motivo do protesto dos indígenas.

 

Terra Indígena

 

A Terra Indígena Cana Brava, mais especificamente o trecho dos 22 km que passa por dentro da terra, tem sido nos últimos anos palco de conflitos entre indígenas e não indígenas. O certo é que a gravidade e conseqüência dos mesmos chamam a atenção. Na maioria dos conflitos ali ocorridos são os indígenas as maiores vitimas, feridos e assassinados.

 

Mais de oito mil indígenas Guajajara moram na terra indígena Canabrava. A MA 226 foi construída na década de 40 e corta a terra ao meio, sentido Peritoró a Porto Franco ou Barra do Corda a Grajaú.

 

Com informações de Ana Lucia Corbani

Pastoral Indigenista Grajaú/MA

Fonte: Cimi Regional Maranhão
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