21/10/2010

Ypo’i – Violência sem fim

Nota do Conselho Indigenista Missionário – Cimi – Mato Grosso do Sul

 

O Conselho Indigenista Missionário, Regional Mato Grosso do Sul, acompanha com extrema preocupação as agressões e violências que vem sofrendo a Comunidade Guarani do Ypo’i no município de Paranhos. A preocupação aumentou neste dia 20 de outubro quando a Juíza Federal Lisa Taubemblatt da 1º Vara Federal de Ponta Porã – MS, decidiu que a comunidade indígena deve deixar o local em que estão (tekoha Ypo’i) na então fazenda São Luiz, no prazo de 10 (dez) dias. Essa é mais uma decisão contrária aos direitos históricos e constitucionais dos povos indígenas e que acarreta um grave desrespeito a direitos humanos fundamentais. Essa decisão poderá designar mais um capítulo sangrento contra uma comunidade que apenas quer viver em paz em seu território tradicional e que já passaram por muito sofrimento desde a primeira tentativa de retomada em 28 de outubro de 2009.

 

As quatro lideranças da comunidade que participaram da audiência, dentre os quais os pais dos professores indígenas assassinados, esperavam poder contar à Juíza sua realidade, a história de ocupação daquela terra por seu povo. Isso infelizmente não aconteceu. Tiveram que ouvir por mais de quatro horas, falas contra o seu povo sem que pudessem dizer uma palavra. “Isso é um absurdo. Nós viemos aqui para falar, poder dizer nossa verdade e nosso sentimento”, desabafou uma das lideranças impedida de se manifestar.

 

Depois de serem expulsos de seu território tradicional na região do rio Ypo’i, há 27 anos, conforme afirmou o próprio fazendeiro, Sr. Firmino Escobar, na audiência e depois de terem trabalhado anos para o pai dele nessa mesma terra, a comunidade Guarani Nhandeva sente mais uma vez cair sobre suas cabeças às sentenças dos invasores.

 

Ao retornarem à seu tekohá no dia 28 de novembro do ano passado, permaneceram no local apenas três dias, quando foram, violenta e covardemente, atacados pelos fazendeiros e seus capangas fortemente armados. Na ocasião vários membros da comunidade foram feridos a bala e torturados. Os dois professores, Genivaldo Vera e Rolindo Vera, foram levados por eles e depois assassinados. O corpo de Rolindo até hoje, quase um ano depois, ainda não foi localizado. Inclusive este foi um dos motivos da família ter retornado ao local, no dia 18 de agosto de 2010. O retorno foi marcado pelo cerco violento que a comunidade vem sofrendo, racionamento de comida, assistência a saúde, trancados com cadeado. Uma centena de pessoas mantidas numa espécie de cativeiro privado.

 

Solidariedade e apoio urgente

 

Quando saíram da sessão em que foram comunicados que teriam dez dias para deixar a sua terra, as lideranças foram também comunicados pelo Ministério Público Federal e pela Procuradoria Federal da FUNAI, de que estes iriam recorrer da decisão. Um recurso de agravo seria interposto urgentemente para o Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em São Paulo.

 

Diante desta realidade, nos unimos ao clamor da comunidade que pede manifestações solidárias de todos os seus amigos, aliados e de todas as pessoas que buscam a justiça e defendem os direitos das minorias originárias desta terra.

 

Juntos, vamos cobrar do Governo Brasileiro e órgãos competentes ações de justiça e garantia de direito a terra, no sentido de evitar mais uma grave violação e agressão a uma comunidade indígena Guarani, pondo em risco sua sobrevivência física e cultural.

 

Campo Grande-MS, 21 de outubro de 2010.

 

Conselho Indigenista Missionário – Regional Mato Grosso do Sul

 

Fonte: Cimi - Regional Mato Grosso do Sul
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