Artigo – Povo Guarani Kaiowá: o clamor pela vida!
Na última segunda-feira (11), o jornal Correio Braziliense publicou em sua edição impressa o artigo “Povo Guarani Kaiowá: o clamor pela vida!” assinado por dom Erwin Kräutler, bispo da Prelazia do Xingu (PA) e presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi).
No texto, dom Erwin fala sobre a realidade de sofrimento e desespero, mas também esperança, em que vivem os indígenas Guarani Kaiowá, de Mato Grosso do Sul. No estado aonde vive a segunda maior população indígena do país, este povo sofre com as mais diversas formas de violência e preconceito. Entre eles têm sido seguidamente registrados os maiores índices de assassinatos, suicídios, mortalidade infantil e outras mortes por desassistência.
Diversas denúncias têm sido feitas ao governo brasileiro e organismos nacionais e internacionais que atuam em defesa da garantia dos direitos humanos. O Cimi juntamente com a Anistia Internacional lançou recentemente campanha pedindo às pessoas que enviem mensagens ao ministro da Justiça Luiz Paulo Barreto e também ao secretário Especial dos Direitos Humanos Paulo de Tarso Vannuchi denunciando a situação desoladora em que estes povos se encontram.
Mês passado, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) também emitiu nota em que condena as violências praticadas contra os Guarani Kaiowá, ao mesmo tempo em que solicita ao governo brasileiro a demarcação das terras tradicionalmente ocupadas por esses indígenas
No artigo, dom Erwin fala sobre episódios estarrecedores que têm marcado a vida dos Guarani Kaiowá, como o seqüestro e morte dos professores indígenas Rolindo Vera e Genivaldo Vera. Ele ainda afirma que cabe ao governo federal dar respostas a essas questões, bem como dar assistência aos povos indígenas.
Confira o artigo na íntegra:
Povo Guarani Kaiowá: o clamor pela vida!
Por dom Erwin Kräutler
Erwin Kräutler e menina Guarani Kaiowá
Dor, desespero, insegurança e absoluta descrença no poder público marcam a vida e a trajetória de milhares de famílias do povo Guarani Kaiowá,
De lá nos chegam todos os dias notícias sobre espancamentos e assassinatos de indígenas. As terras não foram demarcadas porque ao governo federal falta vontade de enfrentar os donos de latifúndios devido a pressões políticas. Usineiros escravocratas são tratados como se fossem heróis da pátria.
Assistimos estarrecidos à tragédia em que vive a comunidade Guarani Kaiowá Ypoí, sitiada em uma minúscula área, cercada por pistoleiros armados. Mesmo que atualmente essa informação venha sendo divulgada pela imprensa, nem a Funai, nem a Polícia Federal, nem o Ministério da Justiça, nem o presidente da República tem se pronunciado a respeito ou, pelo menos, esboçado uma ação para punir os criminosos.
A história de violências contra a comunidade de Ypoí é tão antiga quanto sua luta pela demarcação e garantia das terras, Em outubro de 2009 os indígenas foram atacados e expulsos de suas terras ancestrais. Na ocasião, os professores Genivaldo Vera e Rolindo Vera foram arrastados por homens armados. Dias depois, Genivaldo Vera foi encontrado morto, boiando em um riacho. O paradeiro de Rolindo vera é ignorado até hoje.
Como bispo do Xingu há trinta anos e presidente do Cimi em vários mandatos, tive a oportunidade de acompanhar as lutas dos povos indígenas pela defesa de seus direitos fundamentais, em especial à vida. Preocupa-me imensamente a situação de violação de direitos a que estão submetidos os Guarani Kaiowá. Só me resta exclamar: por que tanto despreza com os povos indígenas? Por que as 324 terras reivindicadas pelos povos indígenas do Brasil, a maioria
Cabe ao governo federal dar respostas a essas questões. É de sua responsabilidade prestar assistência aos povos indígenas, estruturar uma política que restabeleça as condições de segurança e de dignidade para esses povos, em particular aos Guarani Kaiowá. O governo tem obrigação constitucional de demarcar as terras e fiscalizá-las, assegurando o usufruto exclusivo aos indígenas, conforme determina nossa Carta Magna no artigo 231, parágrafos
Infelizmente, as respostas têm sido dadas apenas quando se estabelece o conflito e, ainda assim, mediante meros paliativos que nem de longe apontam para a definitiva solução: a garantia das terras indígenas. O governo, omisso e negligente, aparentemente não se deixa impressionar pela cruel situação dos Guarani Kaiowá. Fecha os olhos diante de mais um genocídio em curso que envergonha o Brasil e tapa os ouvidos diante dos gritos ensurdecedores desse povo. Para reverter essa situação calamitosa, urge uma grande mobilização nacional que possa contar também com o apoio de organizações internacionais dedicadas às causas democráticas e aos direitos humanos.