Missão e Povos Indígenas
Por Egon Heck
Cimi Regional Mato Grosso do Sul
Os povos indígenas não entraram pela porta dos fundos ou pela janela, neste 2º Congresso Missionário Regional Oeste 2 da CNBB, que se realizou
Na oficina “Missão e Povos Indígenas” eles protagonizaram momentos memoráveis ao manifestarem com convicção e clareza a dureza de suas vidas ameaçadas, suas terras negadas. Eles foram chegando com sua expressão simples, tranqüilos, recatados, mas também vistosos e paramentados com seus cocares, colares, vestimentas, mbaracás e takuara. Foram aos poucos conquistando a simpatia e ou curiosidade dos participantes. Muitos foram os que tiraram fotos com eles. Muitos também terão melhor conhecido e assumido sua causa, a luta pelos direitos desses povos.
No documento produzido na oficina, mais de 60 participantes de todas as dioceses do estado do Mato Grosso do Sul, expressaram seu ardente desejo de que os cristãos, desde os fiéis leigos, os sacerdotes, os religiosos e religiosas, até os bispos assumam com amor, ardor e profetismo a causa dos povos indígenas. Essa é uma causa do Evangélio, do Jesus da cruz, do conflito, que por causa de sua mensagem e testemunho de vida, foi assassinado. O assessor da oficina, teólogo Paulo Suess, que dias antes visitara vários acampamentos e aldeias Kaiowá Guarani da região, insistiu na importância de nós como cristãos, termos a coragem de assumir essa causa, que é a do Cristo da cruz e da ressurreição.
A questão indígena foi assumida pelos participantes do 2º Congresso. Quanto às injustiças contra os povos indígenas decidimos assumir a sua voz: "Não lutamos por qualquer terra, mas pelas nossas terras sagradas, tradicionais. Por isso, voltamos às terras donde fomos expulsos, onde estão enterrados nossos antepassados, onde podemos desenvolver nossa cultura, economia e espiritualidade". Também nos comprometemos com o resgate dos valores e a dignidade das populações afro-descendentes. Assumimos estes clamores como nos convida o documento de Aparecida: "O Santo Padre nos recorda que a Igreja está convocada a ser advogada da justiça e defensora dos pobres, diante das intoleráveis desigualdades sociais e econômicas que clamam ao céu".(DAp 395)
Padre Estevão, que fez uma reflexão sobre a missão hoje, se referiu à missão e causa indígena. “A metade dos assassinatos de indígenas no ano passado aconteceram aqui. E 100% dos suicídios de indígenas aconteceram aqui. Então como podemos celebrar a Eucaristia, diante dessa realidade.”
Em várias oficinas temáticas foi citada a questão indígena e sugerido que o Congresso assuma essa causa e se tomem medidas concretas a favor dos direitos desses nossos irmãos. A escolha concreta e decida da causa dos pobres e excluídos no regional, surgiu como exigência em vários relatórios, como das pastorais sociais, meio ambiente, pequenas comunidades, vida religiosa, povos indígenas e afrodescendentes.
Desafios e compromissos
Foram destacados como principais lacunas e desafios a questão da terra, da violência, da desinformação e má informação a respeito da questão indígena, isso tudo revelando a continuidade de uma mentalidade e sistema neocolonial, discriminatório e racista. “Em nossa sociedade continua predominando uma mentalidade neocolonial, em que os índios são considerados como impedimento do progresso, como realidade a ser superada, quer integrando-os no sistema produtivo ou tomando suas terras.”
Em relação ao trabalho missionário constatou-se a existência de trabalhos isolados, muitas vezes marcados pela pressa, falta de inculturação e conhecimento do povo (missionário tipo formula 1 que faz “pit stop” – parada rápida – nas aldeias).
Diante dessa realidade foi sugerida a formação de pastorais indigenistas em todas as dioceses. E que estas sejam críticas, dinâmicas, criativas e proféticas. Que a CNBB regional, juntamente com o Cimi e outras instâncias supra diocesanas, busquem trabalhar a diversidade das ações e presenças, numa unidade missionária.
Foi destacada a atitude da Conferência dos Religiosos no Brasil (CRB) regional MS, que assumiu a causa indígena como prioridade de sua ação e está ajudando viabilizar a presença e atuação de uma comunidade de irmãs junto aos povos indígenas no regional.
Faride Kaiowá, um dos caciques participantes do encontro, avaliou como muito importante o momento, pois puderam dizer o que vivem, sentem e por que lutam, inclusive fazendeiros.