Informe nº 932: Violências contra povo Guarani Kaiowá não param
Violências contra povo Guarani Kaiowá não param
Mais uma vez a atenção dos movimentos indígenas e sociais, bem como de entidades de direitos humanos e da grande imprensa se voltaram à situação de extrema violência e racismo a que estão submetidos os indígenas Guarani Kaiowá,
As comunidades Y’poí e Ita’y Ka’aguyrusu têm seu direito de ir e vir cerceados, estão sem acesso à água potável, a atendimento médico e, o mais grave, à alimentação. Diversas crianças estão doentes, desnutridas e assustadas com as ações de fazendeiros e seus seguranças particulares.
Por conta dessas violações de direitos, como as que levaram uma criança de apenas três anos da comunidade de Kurusu Ambá à morte ontem, a CNBB publicou uma nota em que condena tais violências e pede providências urgentes por parte do governo brasileiro para a dermacação das terras tradicionalmente ocupadas por este povo.
CNBB repudia violência contra os Guarani Kaiowá
Na semana em que novas agressões contra indígenas Guarani Kaiowá vieram a público, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) declarou seu apoio à luta pela garantia de direitos deste povo. Ontem (22) a entidade emitiu nota em que condena essas violências, ao mesmo tempo em que solicita ao governo brasileiro a demarcação das terras tradicionalmente ocupadas pelos indígenas
No documento, a Conferência repudia os casos de violência praticados contra as comunidades Y’poí, no município de Paranhos, e Ita’y Ka’aguyrusu,
Para a CNBB o que tem acontecido é caracterizado como “ataques à mão armada numa brutal intimidação aos habitantes dessas comunidades que se veem não só cerceados no seu direito de ir e vir como também privadas de bens essenciais à vida, como água, comida, educação e saúde”.
Fazendeiros atacam indígenas Guarani Kaiowá em Douradina
Na última terça-feira (21), um grupo de 86 famílias Guarani Kaiowá, do acampamento Ita’y Ka’aguyrusu no município de Douradina (MS), foi violentamente atacado por fazendeiros da região. Segundo Efigênia Guarani Kaiowá, professora da comunidade, os fazendeiros entraram, por volta das 7h30 da manhã, cortando galhos de árvores para bater nas crianças e nas mulheres. Além disso, soltaram fogos de artifício com pólvora para assustar e queimar os indígenas.
A comunidade ficou bastante assustada e tentou entrar em contato com a Polícia Federal no momento da invasão, mas não obteve êxito. Essa é a quarta vez que fazendeiros invadem a área, assustando e agredindo os indígenas. De acordo com Efigênia, numa das tentativas anteriores, uma mulher quebrou a perna depois de cair ao fugir dos tiros disparados em sua direção. Na terceira tentativa de expulsar o grupo do local, tentaram atropelar as pessoas, ao que os índios responderam com flechadas.
A equipe do Cimi em Dourados entrou em contato com a Fundação Nacional do Índio (Funai) na região e com o Ministério Público Federal em Dourados, para que alguma medida urgente seja tomada. Depois de algumas horas, o MPF do município juntamente com a Polícia Federal intercedeu para que houvesse um acordo e os fazendeiros saíram do local.
A situação no momento é aparentemente mais tranquila, embora o clima de apreensão e medo permaneça na comunidade já que em apenas 17 dias por quatro vezes foram surpreendidos com invasão de produtores rurais ao acampamento. De acordo com a comunidade, que realizou retomada da área em 4 de setembro, em todas as agressões, os fazendeiros estavam acompanhados de supostos seguranças e homens armados.
Campanha em favor da comunidade Y’poí
Cansados de esperar informações sobre a localização do corpo de Rolindo Vera e vendo os assassinos de Genivaldo circulando livremente na região, a comunidade Guarani Kaiowá de Ypo’i decidiu, no dia 17 de agosto, retornar a seu tekohá tradicional, de onde foram violentamente expulsos em outubro do ano passado.
Desde a retomada, as cercas de 80 famílias que vivem na área, localizada no município de Paranhos, na fronteira com o Paraguai, vivem cercadas por pistoleiros contratos por fazendeiros da região. Constantemente ameaçados, o grupo está impedido de sair da terra, o que lhes dificulta o acesso a alimentação, saúde e educação. Muitas pessoas em especial crianças, estão doentes.
Em um pedido urgente de socorro, a comunidade pede ao governo brasileiro e a sociedade, nacional e internacional que lhes garantam o direito a viver em paz em seu território tradicional. Eles chegaram a entregar pessoalmente ao presidente Lula, quando ele esteve no MS, um documento em que explicavam por que tinham voltado à sua terra para procurar o corpo de Rolindo e nela viver.
Diante de tal contexto, o Cimi e a Anistia Internacional elaboraram uma campanha pedindo à sociedade que se manifeste através de carta ao ministro da Justiça e ao secretário Especial de Direitos Humanos, solicitando providências urgentes para por fim à violência. A carta deve ser enviada até 22 de outubro.
Criança morre por falta de assistência
Esta semana, mais uma criança do povo Guarani Kaiowá morreu. De acordo com a comunidade a morte aconteceu por falta de assistência do orgão responsável pelo atendimento à saúde indígena, a Fundação Nacional do Índio (Funasa).
Em visita à comunidade de Kurusu Ambá, no município de Coronel Sapucaia, membros do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) foram informados que no local havia um menino de três anos de idade que estava muito doente. Em visita à casa da criança, estes a encontraram bastante debilitada, deitada em uma cama. Segundo a família, há vinte dias a criança apresentou os primeiros sintomas, não comia mais, não andava e tinha dificuldades para sentar.
Os membros do Cimi levaram então a criança, em companhia da mãe que carregava uma outra criança ainda de colo, à Casa de Saúde Indígena de Amambai, cidade a
De acordo com a comunidade por diversas vezes solicitaram atendimento à Funasa, mas esta alegava que não pode atuar na área por esta ser palco de conflito entre proprietários rurais e indígenas. Segundo Inocêncio, ele mesmo procurou a Fundação, mas nem mesmo conseguiu ser ouvido pelos funcionários do orgão.
Para o coordenador do Cimi Regional MS, Egon Heck, a morte da criança está diretamente relacionada à falta de alimentos e acesso a serviços básicos, como saúde. A comunidade está impedida de construir roças ou criar animais e depende de cestas básicas entregues pela Fundação Nacional do Índio (Funai). No entanto, essa entrega não é regular.