Visita à aldeia Passo Pirajú
Em preparação ao II Congresso Missionário da Diocese de Dourados/MS, nossa equipe do Cimi visitou ontem,
Existe um grande interesse econômico em relação às terras devido ao avanço das plantações de cana-de-açúcar. A comunidade, cujo território ainda não foi demarcado, sobrevive de cestas básicas. “Não é isso que queremos”, nos explica Valmir Rodrigues, liderança local e enfermeiro. “Queremos oportunidade para trabalhar, um serviço e uma escola de qualidade, e a liberdade de ir e vir”.
O processo contra Carlitos continua. Qualquer dia pode ser chamado para um júri popular. Na aldeia de Passo Pirajú não encontramos a alegria do acampamento Laranjeira Ñanderu, do dia anterior. A invasão da polícia e a passagem pela cadeia traumatizou o povo de Passo Pirajú. Procuro lembrar o cacique, que em Dourados existe também uma cadeia para prefeito e vereadores… Consigo arrancar um largo sorriso no rosto de Carlitos. Quem ri por último…
Autor: Paulo Suess
Escravidão sem demarcação
É de cortar a alma,
Ouvir o cacique
De Passo Piraju,
Falar da escravidão
Em que os Kaiowá
Vivem hoje,
E do massacre de ontem!
“Alívio pro meu coração
Só com a demarcação!”
Diz Carlitos
Nos olhos as lágrimas contidas. Gestos fortes, expressões cortantes. Hoje como dantes a dor sem limites. Rastros da maldade e destruição. “Onde está a floresta?” exclama o cacique Carlitos. Sua fé e crença inabalável, lhe dão forças para atravessar esse mar de sofrimento, de sentir e ver sua comunidade na cadeia. A privação da liberdade de se locomover é a dor maior. Espremido em poucos hectares entre a cana e o rio Dourados, ele clama por terra para seu povo acampado em casebres rústicos. “Já acabou nossa paciência. Passou de todos os limites e prazos. Queremos nossa terra, nossa liberdade”, afirma indignadamente outra liderança da comunidade. Por mais de uma hora historiam a trajetória da invasão, da expulsão, da destruição para chegar à escravidão atual. Passo Piraju é hoje a situação mais contundente da chaga aberta por uma sociedade racista, de exclusão, discriminação, ódio e acumulação. Os índios Kaiowá são o testemunho incomodo da trajetória de destruição da natureza, confinamento dos nativos e amplos espaços para o gado, a soja, a cana…
Autor: Egon Heck