Informe nº 931: Encontro sobre Povos Isolados constata que estes vivem em situação desesperadora
O evento organizado pelos regionais do Cimi na Amazônia faz parte do esforço para reunir e qualificar as informações sobre a existência destes povos, bem como para dar visibilidade a essa realidade
Terminou nesta quarta feira (15),
As situações mais dramáticas acompanham o chamado arco do desmatamento que vai do sul do estado do Amazonas ao Maranhão. A exploração madeireira e o desmatamento, seguida da ocupação da terra pelo gado e pelos monocultivos do agronegócio fazem desaparecer todo e qualquer vestígio da presença humana anteriormente verificada, bem como eliminam as provas de massacres recentemente praticados contra esses povos indígenas.
A volta dos grandes projetos de infraestrutura governamentais na Amazônia implementados através da Iniciativa de Integração da Infraestrutura Regional Sul Americana (IIRSA) e pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), para facilitar o acesso, uso e exploração dos recursos naturais da região associa-se à lógica predatória em curso, restringindo ainda mais os espaços de refúgio dos povos isolados. As licenças autorizando a construção das Usinas Hidrelétricas Santo Antônio e Jirau no rio Madeira e de Belo Monte no Xingu, simplesmente ignoraram a presença de grupos isolados nas suas áreas de impacto, reconhecida inclusive pela Funai.
No Maranhão os grupos Awá isolados perambulam por terras indígenas já demarcadas. Mesmo assim estão ameaçados de extinção devido a permanente e incontrolável invasão e exploração ilegal de madeira nessas terras. A atividade madeireira também ameaça os povos isolados na fronteira do Acre com o Peru, obrigando-os a disputar espaços territoriais com outros povos indígenas.
Os crimes de genocídio, que são aqueles praticados com a intenção de aniquilar um povo, são relativamente frequentes na Amazônia nas últimas décadas. Na região de Corumbiara, no sul de Rondônia, localizam-se os sobreviventes dos massacres praticados, na década de 1980, contra os povos Kanoê e Akuntsu contatados pela Funai em 1995, bem como o chamado “índio do buraco”, possivelmente a única pessoa viva de seu povo. Apesar dos fortes indícios sobre a autoria desses crimes, que apontam para fazendeiros e políticos da região que se apossaram das terras onde esses povos viviam, ninguém foi indiciado ou preso.
São muitas as situações em que as terras ocupadas até recentemente pelos povos isolados foram usurpadas. É o que pode ser constatado, por exemplo, no coração do território tradicional do povo Katawixi, no sul o estado do Amazonas, hoje tomado por fazendas, projetos de turismo e até mesmo por um assentamento do Incra; ou na região de Aripuanã, no norte do Mato Grosso, onde o grupo indígena isolado conhecido como “Baixinhos” foi expulso e teve que migrar para dentro da terra indígena Cinta Larga (onde continuam sendo acossado por madeireiros) e seu territorio tradicional completamente desmatado e tomado por fazendas e projetos de assentamento.
Constata-se que os índios vão desaparecendo das terras por eles ocupadas. Os novos donos, muitas vezes os seus assassinos, juram que jamais os viram nas terras que grilaram.
Analisando a mobilidade forçada dos grupos indígenas isolados, fica evidente que a conquista da Amazônia continua através de um violento e silencioso processo de expropriação de terras. Os povos indígenas isolados, as maiores vítimas, por motivos óbvios, não batem nas portas do Palácio do Planalto, do Judiciário, do Congresso Nacional, do MPF, e nem se fazem ouvir pelos meios de comunicação para denunciar os crimes de genocídio de que vêm sendo vítimas.
O encontro dos seus regionais na Amazônia faz parte do esforço do Cimi para reunir e qualificar as informações sobre a existência dos povos indígenas isolados, para dar visibilidade a essa realidade e para cobrar do poder público sua responsabilidade na proteção a vida e aos territórios desses povos.
Mulheres protestam contra Belo Monte em Altamira
Camponesas, ribeirinhas, trabalhadoras, professoras… Mais de 160 mulheres participam do encontro "Mulheres e Movimento na Amazônia", que começou hoje (16) na Casa da Cultura, em Altamira (PA) e segue até dia
De acordo com Antônia Pereira Martins, uma das lideranças que participam do evento, o objetivo é discutir estes grandes projetos e seus impactos na vida das mulheres, além da falta de políticas públicas nas áreas de saúde, educação, segurança pública e meio ambiente. "Os projetos desenvolvidos para a Amazônia nuca beneficiam o povo local! Sempre vai pra fora. Antes retiravam apenas ouro, madeira… E agora, além disso, querem acabar com a nossa água", constatou.
Para Antônia, as mulheres são as mais atingidas nestas questões. "Nós mulheres sempre somos as mais vulneráveis quando este tipo de desenvolvimento é imposto. Toda a sociedade tem uma dívida histórica com a mulher, que sofre violências desde o nosso período colonial".
Em relação a Belo Monte, ela destaca que a construção da usina fará com que a população de Altamira aumente demais e o município não conseguirá atender as demandas que já são grandes em relação à saúde, educação, moradia, segurança pública, etc. "São esperadas mais de 100 mil pessoas com o início das obras. Altamira não tem bases para suportar esse aumento; fora isso, construções deste modelo geralmente trazem o aumento da prostituição", afirmou.
As mulheres do encontro já estão, há algum tempo, discutindo estes temas e agora, durante o encontro também devem construir uma "plataforma feminista sócio-política-ambiental" para que estas discussões sejam ampliadas. "Nós mulheres é que vamos pautar o desenvolvimento que queremos para nossa região! Nós temos esta força!", declarou.
O encontro continua até sábado. Amanhã (17), às 19 horas, será realizada uma vigília em frente ao Rio Xingu, em protesto contra a sua destruição. Participam mulheres de 11 municípios da região do Xingu e Transamazônica, além de ativistas dos municípios de Santarém, Marabá, Belém e do estado de Roraima.