15/09/2010

Mandantes do assassinato de padre Josimo são julgados nesta quarta-feira, 15 de setembro

Está sendo realizado neste dia 15 de setembro, em Imperatriz (MA), o júri popular que irá julgar Osvaldino Teodoro da Silva e Nazaré Teodoro da Silva, acusados de serem os mandantes do assassinato de padre Josimo, em maio de 1986. O Júri está reunido no auditório da faculdade de Educação Santa Terezinha (FEST). Outros julgamentos foram realizados e alguns envolvidos foram condenados, entretanto, nenhum cumpriu pena.

Essa é mais uma tentativa de se fazer justiça àqueles que deram sua vida pela luta do povo do campo. Coordenador da CPT Araguaia-Tocantins, Josimo passou a denunciar os grileiros de terra, a opressão dos latifundiários contra os lavradores e a defender os direitos do povo, conscientizando-os sobre sua força. Em abril de 1986, sofreu um atentado, mas as balas não o atingiram. Consciente do risco que corria por defender seus ideais, escreveu um testamento onde reafirmou seus compromissos com o povo pobre. “A minha vida nada vale em vista da morte de tantos lavradores assassinados, violentados, despejados de suas terras, deixando mulheres e filhos abandonados, sem carinho, sem pão e sem lar", afirmou.

Um mês depois desse primeiro ataque, foi assassinado com dois tiros pelas costas quando subia as escadarias do prédio onde funcionava o escritório da CPT em Imperatriz (MA).

Situação atual dos envolvidos no assassinato

1. o pistoleiro: Geraldo Gomes da Costa, condenado a 18 anos e 6 meses de prisão pelo Tribunal de Júri (19/4/88). Já fugiu 3 vezes da penitenciária (última vez em 1996). Mesmo assim, cumprindo sua pena em regime aberto, aproveitou para sumir e está foragido. Como cúmplice do crime, o motorista Vilson Nunes Cardoso também foi condenado.

2. os mandantes: no dia 13 de março de 1991, foram indiciados em conexão com o caso do Padre Josimo: Geraldo Vieira (Nó), Adailson Vieira, Osmar Teodoro da Silva (Nenem), Guiomar Teodoro da Silva (Temtem), Nazaré Teodoro da Silva (Deca) e Oswaldo Teodoro da Silva (Mundico). Em 1998 foram julgados e condenados: Adailson Vieira (19 anos de prisão), Geraldo Paulo Vieira (pai do Adailson; 19 anos; morreu de doença alguns meses depois) e Guiomar Teodoro da Silva (14 anos e 3 meses). O Osmar Teodoro da Silva continuou foragido até o final de 2001 quando foi localizado e preso, depois da divulgação de seu retrato no programa Linha Direta. Em 16/09/2003 foi julgado e condenado a 19 anos de reclusão.

Osvaldo e Nazaré Teodoro da Silva conseguiram interpor recursos para protelar seu julgamento até 2004, quando foram absolvidos. O recurso da acusação foi aceito pelo TJ do Maranhão, levando os mesmos a novo julgamento com data ainda não definida.

3. outros envolvidos: já tendo cumprido sua pena, o Guiomar Teodoro da Silva, resolveu, em 24/3/2000, revelar os nomes de outros envolvidos no complô, entre eles um ex-juiz de Araguaína (TO) e possivelmente um ex-prefeito desta cidade. Esta “revelação” foi o motivo da abertura de novo inquérito para o qual o delegado de Imperatriz (MA), responsável pelo inquérito, resolveu na época oferecer o caso à TV Globo para o programa Linha Direta. Há risco sério destes acusados se beneficiarem com a prescrição (20 anos).

Padre Josimo
Por suas idéias e ações, Padre Josimo Morais Tavares, o padre preto de sandálias surradas, como era conhecido, causou ódio aos fazendeiros da região, passando a receber diversas ameaças de morte. Coordenador da CPT na região do Bico do Papagaio, Josimo passou a denunciar os grileiros de terra, a opressão dos latifundiários contra os lavradores e a defender os direitos do povo, conscientizando-os sobre sua força.

Seu testamento dizia:

"Tenho que assumir.
Estou empenhado na luta pela causa dos lavradores indefesos,
povo oprimido nas garras do latifúndio.
Se eu me calar, quem os defenderá?
Quem lutará em seu favor?
Eu, pelo menos, nada tenho a perder.
Não tenho mulher, filhos, riqueza…
Só tenho pena de uma coisa: de minha mãe, que só tem a mim
e ninguém mais por ela.
Pobre.
Viúva.
Mas vocês ficam aí e cuidam dela.
Nem o medo me detém.
É hora de assumir.
Morro por uma causa justa.
Agora, quero que vocês entendam o seguinte:
tudo isso que está acontecendo é uma consequência lógica do meu trabalho na luta e defesa dos pobres, em prol do Evangelho, que me levou a assumir essa luta até as últimas consequências.
A minha vida nada vale em vista da morte de tantos lavradores assassinados, violentados, despejados de suas terras, deixando mulheres e filhos abandonados, sem carinho, sem pão e sem lar".

Fonte: CPT Nacional
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