Novas violências contra os Kaiowá no Mato Grosso do Sul
Por Egon Heck/Cimi Regional MS
No último dia 4 de agosto, o grupo de famílias do tekoha Ytay Kaíaguy rusu, no município de Douradina (MS), voltou à sua terra tradicional, próximo aos limites da atual Terra Indígena Panambi, em Lagoa Rica. Essa terra indígena com 2.070 hectares, e uma população em torno de 700 pessoas, foi ocupada pelo agronegócio. Hoje usufruem apenas de uma pequena parte de sua terra, que está em revisão de limites. Em 2005 foi constituído um Grupo de Trabalho (GT) para um reestudo dos limites, mas até hoje, os trabalhos não foram concluídos.
Logo depois da volta ao tekoha, segundo o Kaiowá O.J., o grupo tentou diálogo com os produtores rurais, ao que não houve possibilidade de um entendimento, pelo contrário, foi-se aumentando a tensão. No dia 6 à tarde chegou ao local a Polícia Federal. Após algumas conversações, parecia que seria respeitado a não agressão por parte dos seguranças e produtores. Porém logo após a saída da PF, houve um avanço sobre os índios, com tiros para o alto, fogos, derrubada e queima dos mais de 20 barracos que haviam sido construídos, conforme informa uma professora que estava com o grupo. Houve muita correria de mulheres, crianças, com muitos gritos e gente chorando. Alguns, como O.J., tiveram todos os documentos queimados juntamente com o barraco.
Os índios que sofreram mais essa agressão e violência não desistiram de sua terra, e no dia 7 voltaram ao local, apesar das ameaças que os colonos fizeram de que desta vez vão matar alguns índios. “Essa terra é nossa. Foi demarcada pelo SPI. Nela vamos ficar”, afirma resoluta uma das lideranças do grupo. Também esteve no local a nova administradora da Funai em Dourados, juntamente com a imprensa. O que os Guarani Kaiowá esperam é que a promessa do presidente Lula feita a eles em recente visita a Dourados seja cumprida, e que os Grupos de Trabalho de identificação das terras indígenas voltem à área para concluir os trabalhos o quanto antes.
Enquanto isso Dourados tem um desfile de Sete de Setembro um tanto inusitado, com várias de suas autoridades na cadeia. Sobressaiu mais o grito do que a marcha. O protesto e a indignação falaram mais do que do que palavras ufanistas. Os princípios da pátria foram violados por escandalosa corrupção e usurpação do dinheiro do povo.
A pátria Livre
Sonhamos com uma pátria livre. Livre do latifúndio. Livre da corrupção. Livre da fome e da injustiça. Enquanto isso vamos lutando pelos direitos de milhões de famílias sem terra, pela terra dos povos indígenas e quilombolas, pelo limite da propriedade. Tivemos mais um momento importante para dizer que é mais concebível um país com uma reforma agrária ao avesso, onde ao invés de socializar a terra, ela vem sendo concentrada cada vez mais em menos mãos, continue negando o acesso à mãe terra a seus primeiros habitantes.
Neste dia em que se comemora um momento importante da luta pela independência do nosso país, é importante lembrar que para os povos indígenas, para as populações afro descendentes a independência significa um reconhecimento de seus direitos históricos e constitucionais a terra, o reconhecimento de suas culturas, organização social e valores. Não se tornará realidade a independência e continuará sendo uma ficção e uma utopia, bem como não existirá a verdadeira democracia enquanto não formos capazes de reconhecer e integrar em nossas políticas o respeito a essa diversidade e pluralidade do nosso país.