03/09/2010

“Restaurante canibal”

Por Cimi Regional Rondônia/Equipe Guajará-Mirim

 

O Conselho Indigenista Missionário de Guajará-Mirim vem a público denunciar os autores do vídeo “restaurante canibal” que circula na internet desde o dia 27 de agosto, gerando um impacto na mídea internacional que está denegrindo a imagem dos Povos indígenas de Guajará-Mirim, do estado de Rondônia e de todo o Brasil.

 

As autoridades brasileiras desmentiram os fatos colocados no vídeo e o prefeito de Guajará-Mirim afirmou que irá abrir um processo por difamação.

 

Quanto aos povos indigenas, a ofensa é bem maior pelo fato do vídeo referir-se a uma “culinária wari” e desse modo, denegrir a imagem de um ritual religioso do referido povo, realizado no passado.

 

Os povos indígenas continuam a ser discriminados diariamente no Brasil e a serem vistos como impecilhos ao “progresso” por não concordar em transformar as suas florestas em pastos, cultivo de cana de açucar, soja ou café. Para os indígenas a terra é vida, não tem dinheiro que a compre, ela não é uma mercadoria, a terra é mãe. Eles entraram no sistema de mercado, mas a prioridade não é acumular bens, e sim a subsistência de sua família, a partilha, o respeito à natureza, o “viver bem juntos”. A forma que os povos indigenas têm de se relacionar com a terra, com a natureza e com as pessoas e os seus valores não combinam e contrastam com o modelo de “sociedade canibal” que o neoliberalismo vem impondo como um rolo compressor. Exemplo disso são as obras do PAC e a construção das barragens no rio Madeira.

 

Há preconceitos fortemente enraizados na mentalidade e no inconciente dos não-indigenas que se deve à informações distorcidas nos livros de história e reportagens na mídia que quase sempre apresentam o indígena como primitivo e folclórico.

 

Na história do Brasil, o conceito de “índio brabo”, “selvagem” ou “antropófago” justificou os massacres e a escravização dos índígenas. O Serviço de Proteção ao Indio (SPI), criado há 100 anos atrás pelo Marechal Candido Rondon, nem sequer conseguiu parar os crimes de genocídeo movidos pela ganância dos ditos “civilizados”. Em Rondônia, nas décadas de 40 e 50 do século XX, aldeias inteiras do povo wari foram dizimadas por seringalistas, como se fossem “bichos do mato”. Depois do contato pacífico, que ocorreu entre os anos 1957 e 1969, os massacres terminaram, mas não as agressões na violação de seus territórios, na falta de assistência à saúde, à educação escolar indígena, ao transporte nas aldeias,… sendo que a maior  agressão é o preconceito que infelizmente a referida matéria vem exacerbar.

 

Contamos com a justiça para que os responsáveis de tais difamações sejam processados e punidos.

Fonte: Cimi Regional Rondônia/Equipe Guajará-Mirim
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