Documento Final da XXV Assembléia do Cimi Regional Rondônia
Nós, membros do Conselho Indigenista Missionário – Regional Rondônia, estivemos reunidos
Inspirados pelo tema “A Boa Nova”: construindo o diálogo inter-cultural e inter-religioso com as diferentes culturas”, realizamos uma análise da conjuntura sociopolítica e religiosa de nosso estado e do país, no momento da disputa eleitoral por parte dos pretendentes a ocupar cargos nos poderes executivo e legislativo na esfera estadual e federal. Tal realidade, impõe a todos nós o imperativo de aprimorar nossa capacidade de “saber ler os sinais dos tempos”. Para tanto, dedicamos um bom tempo ao aprofundamento de nossa espiritualidade missionária. A partir de reflexões bíblicas, confrontando historiografia e narrativas mitológicas, fizemos uma imersão em textos antigos de povos do Oriente e socializamos experiências da cosmologia ameríndia dos povos com os quais convivemos.
Conhecedores do processo de ocupação histórica do estado de Rondônia que resultou na extinção de vários povos indígenas e consolidou a atual estrutura fundiária que privilegia o latifúndio e a concentração de terras, passamos a analisar os grandes desafios da atualidade. O governo federal intensificou sua política desenvolvimentista através do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento e agora com o PAC II com forte componente energético ancorado na construção de usinas hidroelétricas. Mais uma vez, os povos indígenas e os demais grupos sociais afetados por estes empreendimentos são vítimas desse modelo de inspiração neoliberal, restando-lhes apenas a alternativa de decidir como irão compartilhar as migalhas “compensatórias”, resultantes dos programas de mitigação dos danos culturais, sociais e ambientais. Na prática, isso significa uma atualização das velhas formas de legitimação da usurpação dos territórios tradicionais e recursos naturais neles existentes.
Das 48 terras indígenas existentes no Estado de Rondônia apenas 21 estão demarcadas. Mesmo assim, por terem sido reduzidas durante o procedimento demarcatório, muitas delas precisam ser revistas. Dentre estas estão incluídos os territórios tradicionais de pelo menos 15 povos em situação de isolamento e risco de extinção.
As políticas de atenção à saúde e educação, alvo de críticas permanentes dos povos indígenas e seus apoiadores, permanecem inalteradas. Esperamos que a criação da Secretaria de Saúde Indígena, recentemente aprovada pelo Congresso Nacional, possa representar uma possibilidade de mudança na atual realidade caótica de atenção à saúde indígena sobre a qual há uma responsabilidade direta da FUNASA.
As políticas governamentais voltadas para a Amazônia têm por objetivo, quase que exclusivo, favorecer os grandes empreendimentos e a expansão do agronegócio, ampliando o desmatamento para a agropecuária e a plantação de soja, cana-de-açúcar, pino e eucalipto, ocasionando as invasões de terras tradicionalmente ocupadas. Os invasores perseguem e matam membros dos Povos Indígenas, numa evidente caracterização de ações genocidas. Os incentivos governamentais beneficiam as empreiteiras, as empresas de energia elétrica e madeireiros internacionais, privatizando e destinando a estes, florestas para exploração por períodos de até 40 anos, a exemplo da Floresta Nacional do Jamari.
Frente a esta realidade, cobramos dos órgãos competentes providências urgentes no sentido de que:
1. O Governo Brasileiro cumpra o dever constitucional de demarcar e proteger todas as terras Indígenas do estado, dedicando especial atenção aos territórios ocupados pelos povos indígenas em situação de isolamento e risco de extinção, as terras dos Povos Cujubim, Wayoro, Migueleno, Puruborá, Cassupá, Salamãi, Djeoromitxi, Sabanê; promova a regularização fundiária das Terras Indígenas Karitiana, Igarapé Lourdes, Rio Branco, Tubarão Latundê, Kwazá, Guaporé em Rondônia e Vale do Guaporé e Pirineu de Souza
3. O MEC e a Secretaria de Educação do Estado de Rondônia assegure sempre um processo amplo de escuta e participação de todos os povos indígenas na implementação de programas e políticas de atenção à educação escolar indígena, respeitando as deliberações das conferências estaduais e nacional.
4. O Ministério da Saúde promova ações emergenciais de prevenção e combate às endemias, a exemplo da Hepatite B, doença que tem vitimado centenas de pessoas nas comunidades indígenas, levando várias a óbito.
5. O Governo Federal respeite a Constituição Brasileira e a Convenção 169 da OIT, realizando a consulta prévia, livre e esclarecida às comunidades indígenas impactadas pelos grandes empreendimentos, respeitando suas vontades e evitando práticas autoritárias a exemplo da construção das UHEs do Madeira e do Machado, ambas integrantes do PAC, onde os povos indígenas afetados foram e estão totalmente desconsiderados.
Por fim, manifestamos nosso apoio solidário e reafirmamos nosso compromisso com os povos indígenas, e demais movimentos sociais organizados que lutam, no seu cotidiano pela construção de uma Amazônia para os amazônidas, e de um país onde sejam respeitadas as pessoas, o meio ambiente e a vida. Numa atitude profética, denunciamos as políticas públicas governamentais que patrocinam a morte e conclamamos a todos, lutadores e lutadoras do povo, para que intensamente defendamos a vida.
Porto Velho – Rondônia, 19 de agosto de 2010.