25/08/2010

Presidente Lula se reúne com povos indígenas no Mato Grosso do Sul

No palanque oficial e nas cerimônias de inauguração de estrada e da Universidade Federal da Grande Dourados – UFGD, Lula silenciou sobre a questão indígena. Apenas uma referência passageira a novos paradigmas, onde falou de um novo paradigma indígena. Porém, Lula se encontrou com os indígenas numa reunião reservada, que na imprensa local foi assim definido “Lula e índios discutem demarcação a portas fechadas”. (Campo Grande News). A matéria explicita que “A região Sul do Estado, principalmente a Grande Dourados, enfrenta uma guerra judicial por conta das demarcações de terras”.

 

Foi exatamente sobre a questão da demarcação, ou melhor, da não demarcação das terras, que girou a maior parte do tempo do encontro de Lula com 25 lideranças políticas e religiosas do povo Kaiowá Guarani e Terena.  Após o Ñaderu Kaiowá Guarani Getúlio colocar o cocar na cabeça do presidente, este ouviu atentamente o clamor de urgência da demarcação das terras indígenas no estado.  Foram apenas 20 minutos de conversa, na qual os indígenas expuseram rapidamente o grave momento por que passam as comunidades, privadas de suas terras e envoltas a uma situação de violência insuportável e sem precedentes. Diante do clamor ouviram do presidente da república sua palavra de sensibilidade pela realidade exposta e seu compromisso de se encontrar com o presidente da Funai ainda no dia da reunião para solicitar o acompanhamento da Polícia Federal aos Grupos de Trabalho de identificação das terras Kaiowá Guarani e Terena. No intuito de minorar a desgastante situação de denúncias contra os direitos humanos e étnicos dos Guarani, ele reafirmou sua vontade de comprar terras para os acampados desse povo, solução essa que já foi rejeitada pelas comunidades, pois não vem ao encontro de seus direitos a seus tekohá, suas terras tradicionais.

 

No decorrer do encontro, foram entregues ao presidente vários documentos dos quais destacamos a Carta do Povo Kaiowá Guarani ao Presidente Lula, Carta do Povo Terena, Documento da Aty Guasu de Kurusu Ambá, documento final do 7º Acampamento Terra Livre e documento da comunidade do Ypo’i, que teve dois de seus professores assassinados na retomada de suas terras. Na carta ao presidente Lula pedem: “Senhor Presidente, por favor, não prometa nada, mande apenas demarcar nossas terras. O resto, sabemos dos nossos direitos e vamos batalhar por eles. Já esperamos demais e toda nossa enorme paciência acabou. Só esperamos não precisar ir pelo mundo afora, na ONU e nos tribunais internacionais denunciar um governo em que tanto esperamos…Não fazemos pedidos, exigimos direitos. Demarcação de nossas terras com urgência para que nosso povo volte a viver em paz, com felicidade e dignidade.” (Conselho da Aty Guasu Kaiowá Guarani e Comissão de Professores Indígenas Kaiowá Guarani)

 

Na avaliação das lideranças que participaram, foi um momento importante que lhes dá a confiança de que o atual presidente ainda irá identificar as terras Kaiowá Guarani e fazer avançar o reconhecimento de outros processos em andamento, antes do final de seu mandato.

 

Ypo’i: Comunidade pede apoio de Lula

 

A comunidade que teve dois de seus professores, Jenivaldo e Rolindo, assassinados barbaramente em novembro  do ano passado, estão de volta a seu tekohá. Edson, irmão de Rolindo, esteve pessoalmente com Lula, ocasião em que entregou ao presidente carta da comunidade, em que pede justiça, com a punição rigorosa dos assassinos e a garantia de suas terras. Eles se encontram sitiados e constantemente ameaçados.  Lula disse se empenhar para que o caso não fique impune como tantos neste estado e que os grupos de trabalho irão agilizar identificação das terras Guarani. Mais de 200 membros da comunidade estão de volta ao tekohá Ypo’i em situação crítica, pois estão constantemente vigiados e ameaçados pelos pistoleiros do fazendeiro Aurélio Escobar.

 

Enquanto Lula falava destacando seus grandes feitos, especialmente na área de educação, acadêmicos presentes ao ato ostentavam cartaz clamando por justiça aos professores assassinados.

 

Os Guarani Ñandeva do Ypo’i esperam que a solidariedade que tem recebida no país e no mundo se amplie para que não sofram novas violências e possam encontrar o corpo de Rolindo, e viver em  paz em seu território tradicional.

 

Egon Heck

Fonte: Cimi Regional Mato Grosso do Sul
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