20/08/2010

Povo Pataxó comemora 11 anos de retomada do Monte Pascoal

"… conscientes de que o Parque Nacional está dentro dos limites de nossa terra, conforme a história de nossos anciãos, decidimos imediatamente RETOMAR o nosso território, neste dia 19 de agosto de 1999, protegidos pela memória dos antepassados, protegidos pelo direito constitucional […] pretendemos transformar o que as autoridades chamam de Parque Nacional do Monte Pascoal em Parque Indígena, terra dos Pataxó, para preservá-lo e recuperá-lo da situação que hoje o governo deixou a nossa terra, depois de anos na mão do IBDF, atual Ibama, que nada fez a não ser reprimir os índios e desrespeitar nossos direitos. Queremos deixar claro para a sociedade brasileira, para os ambientalistas, para as demais autoridades que não somos destruidores da floresta, como tem sido proclamado […] Vamos celebrar os 500 anos em nossa terra, receberemos os nossos parentes de todo o Brasil aqui, no Monte Pascoal, único local possível para construirmos o futuro com dignidade. […] Mais uma vez pedimos o apoio de toda a sociedade brasileira” (Carta do Povo Pataxó, 1999). 

 

 

Neste dia 19 de agosto de 2010, aos pés do Monte Pascoal, na Praça da Resistência os Pataxó comemoram 11 anos desta conquista, representante das comunidades do Pé do Monte, Aldeia Nova, Corumbaozinho, Coroa Vermelha, Craveiro juntamente com agricultores e agricultoras das áreas de reforma agrária e agricultura familiar de cerca de 10 comunidades dos municípios de Itamarajú, Itahen, Prado, Jucuruçu, além dos parceiros e aliados, entre eles o Sindicato dos Bancários de Itamarajú, Centro   de Estudos e Desenvolvimento do Extremo Sul da Bahia (Cedepes), Religiosas da Missão Indígena do Monte Pascoal, Centro de Desenvolvimento Terra Viva, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Congregação dos Redentoristas,  Superintendência de Assuntos dos Povos Indígenas de Coroa Vermelha.

Os caciques Braga da Aldeia Pé do Monte Braga e Jovino da Aldeia Nova deram as boas vindas a todos e falaram rapidamente sobre o processo de luta dos Pataxó na reconquista do território, agradeceram a presença dos aliados e convidaram a todos a “subirem o Monte Pascoal”.

Antes da subida, Haroldo Heleno, da coordenação regional do Cimi Leste, falou da importância deste dia para a luta do povo Pataxó, e do significado histórico para a luta de todos povos indígenas do Brasil, lembrou que estar ali celebrando aquele momento, naquele espaço, tinha para o Cimi todo um simbolismo do compromisso da Entidade com a luta dos povos indígenas, sua caminhada e a sua história, e isto trazia toda uma emoção,  ressaltou ainda a resistência dos Pataxó, representada naquele monumento que eles estavam pisando e construído, hum ano e quatro meses depois da destruição do monumento à resistência indígena pela Polícia Militar na Aldeia de Coroa Vermelha. Instalaram aqui nesta praça a qual vocês denominaram de Praça da Resistência. A inauguração da obra, no dia 19 de agosto de 2001, coincidiu com a celebração de dois anos de retomada do Monte Pascoal e contou com a presença de entidades de apoio à causa indígena e parlamentares. Assim como no dia da inauguração deste monumento, hoje aqui estamos junto ao povo Pataxó para continuarmos afirmando: “Esta terra tem dono: O Povo Pataxó”.

Falaram ainda antes da subida ao Monte Pascoal, Ivonete pelo Cedepes e o João Climário pelo Sindicato dos Bancários e pelo Terra Viva, também reafirmando o compromissos e o apoio dos parceiros com a luta do Povo Pataxó.

Após a descida do Monte tivemos a oportunidade de compartilharmos de um delicioso almoço e em seguida voltamos a Praça de Resistência, onde diversas lideranças Pataxó relataram as dificuldades, os desafios, mas também as vitórias, os avanços e a convicção da necessidade da luta, solicitaram o apoio das Entidades presentes a sua luta, reivindicaram das autoridades os seus direitos. Lika a esposa do  cacique Jovino relembrou o  chuvoso dia 19 de agosto de 1999, quando eles retomaram o Parque, ela que tinha ganhando um dos seus filhos a poucos dias , estava ali ao lado do seu companheiros e de seus parentes, convicta que era necessário a união e a presença de todos, convicção esta que  permanece até hoje. Para alguém que teve que passar quatro anos vivendo em um curral com sua família a fala da liderança Lika demostra toda a força da mulher Pataxó, transmitida com emoção e clareza do caminho a trilhar. “Esta luta é por nossos Filhos, por aqueles que ainda virão, e para que eles não precisem passar o que nós passamos”.

O evento terminou com uma emocionante “auê”, com a presença de muitas crianças Pataxó e  como bem disse um professor de cultura do povo, que este “auê” possa significa um ritual para nos dá Paz, União, Força e Coragem.

 -O Povo Pataxó continua com seu exemplo e sua determinação convocando a todos nós: “Diga ao povo que avance”, que resposta daremos a esta convocação.

                                                                                                                                                   

Fonte: Haroldo Heleno - Cimi Regional Leste/Equipe Itabuna
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