Fórum Social das Américas: um fórum originário
Eles estão aí com suas múltiplas cores, línguas, artes, vestimentas, mostrando a bela diversidade do continente americano, Abya Yala. Os povos indígenas originários estão dando um tom todo especial ao Fórum Social das Américas. E o estão fazendo não mais com o assento na denúncia da dominação e massacre secular do projeto colonizador, mas a partir das propostas de vida emergidas de sua sabedoria milenar, de suas raízes profundas, de seus projetos de vida. Da resistência, das sementes lançadas nas brechas dos muros do sistema colonial, capitalista, neoliberal, nasce uma nova matriz civilizatória, o bem viver.
Num momento de profunda crise planetária, política, econômica, social e ambiental, a América Latina é o solo fecundo, de onde emerge e se gesta uma verdadeira revolução, uma nova matriz civilizatória vai sendo construída. Conforme diz Irene Leon “Isto é patente tanto nos enfoques de refundação sustentados em torno do Sumak Kawsay (Bem Viver) Suma Qamaña (Viver Bem), Ñandereko (Vida harmoniosa), como aqueles que se fazem em torno ao Socialismo Comunitário e do Século
O Bem Viver como Boa Notícia
Nesta verdadeira primavera latino-americana, no coração do continente – o Paraguai – se houve o grito plural de uma nova América. Abya Yala, não só possível, necessária e urgente, mas em construção, em caminho, aflorando das raízes indígenas originárias, afrodescendentes e campesinas deste continente. Recolhe, como as águas da resistência, das milhares de vidas ceifadas, dos heróis e mártires da justiça, dos ideários e testemunhos revolucionários, que passam por Marti, Che Guevara, Sepé Tiaraju e milhões de lutadores e guerreiros da justiça, da igualdade e da vida solidária e fraterna no continente latino-americano.
O Bem Viver, é mais do que uma inspiração, um novo paradigma de vida e sociedade. É uma raiz milenar e plural que torna as experiências históricas dos povos deste continente, suas cosmovisões, suas relações com a Pacha Mama(mãe terra), suas diversidades e a centralidade da vida, como base e inspiração para desconstruir o projeto colonial e atual modelo neoliberal, e construir novos projetos de sociedade, no inicio deste século XXI.
Nos vários espaços desse IV Fórum Social das Américas, pode-se sentir o pulsar forte do coração do continente em busca dos novos caminhos que vão sendo feitos, caminhando, debatendo, somando, sonhando, partilhando e construindo. A caminhada de abertura, por mais de três horas, pelas ruas de Assunción, simbolizou a determinação e necessidade de avançar na construção de redes dos movimentos sociais do continente, que sustentem e impulsionem a árdua luta contra o sistema necrófilo que celeremente destrói o planeta Terra e ameaça a sobrevivência da vida mesma dessa nossa casa comum. O caminho poderá ser duro, sofrido e longo, mas é urgente, desafia e convoca todos os povos para se unirem em torno desse grande mutirão da vida e nova civilização.
Os processos de mudanças no continente latino-americano são molas propulsoras da esperança. Não são apenas sonhos, mas são propostas sendo construídas, em meio a inúmeras contradições, avanços e recuos, mas com a firme determinação de enfrentar toda forma de imperialismo e dominação. E sentimos nesse pulsar o néctar do Bem Viver, como bem o define Rene Ramirez “um conceito complexo, não linear, historicamente construído e em constante resignificação…identifica como finalidades: a satisfação das necessidades, a conquista de uma qualidade de vida e morte digna, o amar e ser amado/a, o florescimento da saúde para todos e todas, em paz e harmonia com a natureza, e a prolongação indefinida de culturas, … o tempo livre para a contemplação e a emancipação, e que as liberdades e oportunidades, capacidades e potencialidades se ampliem e floresçam.” (Alai, julho 2010)
Um Fórum em Guarani
Os grandes anúncios do Fórum são também feitos em Guarani, uma das línguas oficiais do país anfitrião – ñane Amerika tee oñemongu’ehína! – nossa América está no caminho!
Porém, os povos Guarani presentes em cinco países deste continente, esperam que esse Fórum também seja um momento importante para ser não apenas conhecido seu idioma, sistema de vida e rica cultura, mas principalmente que haja um posicionamento quanto à urgente devolução de seus territórios tradicionais, condição indispensável para continuarem vivendo enquanto povos e contribuíram e continuarão contribuindo para a construção dessa nova América possível, necessária e urgente. Em vários momentos estarão sendo debatidas e apresentadas estas realidades do povo Guarani. Haverá uma palestra e debate sobre o Bem Viver do povo Guarani, apresentação e debate sobre o mapa Guarani Reta, debate sobre os impactos das grandes obras sobre esses povos, especialmente a construção de Itaipu, que inundou o território de 34 comunidades Guarani e até hoje não lhes restituiu as terras.
Ainda assim, nesses dias o povo Guarani no Paraguai teve uma pequena, mas significativa vitória. A comunidade de Cerro Puytã, depois de ficar acampada, com mais de cem pessoas numa das praças centrais da capital, teve finalmente conquistado o título de parte de sua terra. Os
Egon Heck