10/08/2010

Cacique Raoni declara apoio à luta contra Belo Monte

Liderança Kayapó de Mato Grosso participou na tarde de hoje (10) do acampamento Em Defesa do Xingu, contra Belo Monte!

Por Cleymenne Cerqueira

De Altamira (PA)

Na tarde de hoje (10) a liderança Kayapó de Mato Grosso, cacique Raoni, manifestou mais uma vez seu apoio as lutas contra Belo Monte. Em um ambiente cheio, com diversas lideranças de outros povos e representantes da comunidade local, ele resgatou um pouco da luta dos povos da região contra grandes projetos e cobrou da mídia apoio para mobilizar o movimento.

Para Raoni, essa briga não é só de um povo, de uma nação, mas da sociedade como um todo. "Nunca devemos desistir, temos que erguer a cabeça porque estamos brigando por um direito que é nosso. Temos que mostrar ao povo brasileiro que nossa luta é autêntica para que respeitem nossos direitos, nossas tradições", afirmou.


Dom Erwin com o cacique Raoni, que brada contra Belo Monte

Segundo ele, os povos indígenas não devem aceitar as imposições do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ou de qualquer outro que venha a governar o país. "Não temos que aceitar imposições de ninguém. Eu sou contra tudo que o governo está querendo colocar em nossas terras, BRs, barragens. Eu sempre lutei pelo meu povo, ao lado de vocês, e vou continuar lutando até o último dia da minha vida".

Raoni diz que os povos indígenas estão enfraquecidos com tanta interferência em suas culturas e convoca os parentes para reforçar a luta contra Belo Monte e os demais grandes projetos. "Toda vez que nos unimos reforçamos nosso movimento. Não devemos ter medo da polícia, do fazendeiro, de ninguém que está ameaçando nossa reserva, a natureza. Natureza é vida, ela nos sustenta até hoje, por isso, temos que defendê-la como pai e mãe que nos dá vida".

Ao final de sua fala, ele pergunta: É isso mesmo que nós queremos parentes? Estamos juntos contra Belo Monte? Ao que é respondido com uma afirmação em coro pelos presentes, seguido de aplausos.

Muito trabalho

O acampamento contra a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, montado na Orla do Cais do Porto de Altamira (PA), trouxe no dia de hoje um forte debate sobre os impactos dos grandes projetos do governo federal para as populações indígenas, ribeirinhas e rurais do país. Embora as discussões estejam focadas em Belo Monte, vale destacar que o encontro é um momento para as populações discutirem sobre as obras previstas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para todo o país.

Parte da tarde foi dedicada a trabalhos em grupos. Em um canto se reuniram os Kayapó, em outro os Xavante, em outros as lideranças representantes de diversos povos. Em um outro local ainda se reuniram os muitos ribeirinhos, pescadores e agricultores que participam da mobilização.

Durante todo o dia, especialistas, pesquisadores e membros de movimentos sociais e indigenistas que atuam na luta contra Belo Monte fizeram ponderações, apresentaram dados e estudos. Os cerca de 500 participantes do encontro também tiveram voz. Eles dividiram com os demais as experiências e dificuldades vividas ao longo dos anos pelas inúmeras obras do governo, como as hidrelétricas de Itaipu, de Estreito e de Tucuruí, entre outras.

Serão necessárias mais usinas Belo Monte

O histórico de lutas e resistências em relação a construção da hidrelétrica de Belo Monte retrata o apreço do governo federal para com os povos indígenas. Omissão, falta de diálogo e tropeços marcam as idas e vindas desse projeto planejado para ser construído no rio Xingu e que afetará milhares de famílias da região de Altamira, no Pará.

Diversos estudos e pareceres de especialistas já atestaram a não necessidade da obra e também suas consequências desastrosas para o meio ambiente, a cultura e as tradições das comunidades da região. No entanto, o Estado finge não ver essas informações e ignora as ações de diversos movimentos sociais contra o empreendimento.

"A grande crítica que se faz é que Belo Monte não será única. Pelo contrário, o governo continuará dizendo que mais e mais barragens serão necessárias para gerar energia para o país. Na verdade, o objetivo é transformar o Xingu em uma grande hidrovia, exterminando assim práticas de sobrevivência e geração de renda para diversas famílias, como a pesca", disse Guilherme de Carvalho, represetante da Federação de Orgãos para Assistência Social e Educacional (Fase).

Para ele, é importante destacar que a luta contra Belo Monte é a luta contra um bloco (governo, parlamento, alguns movimentos sociais, ONGs e lideranças) que apregoa o projeto desenvolvimentista do governo.

"Diante da negativa do governo, da grande mídia, de todo esse bloco, o que nos resta é nos reunir, mobilizar lideranças e exercer pressão social, que é justamente o que está acontecendo aqui. Não somos contra o desenvolvimento do país, somos contra esse modelo desenvolvimento que coloca nas mãos de poucos os muitos recursos naturais do país, que atropela os direitos humanos", afirmou Carvalho.

Ainda de acordo com o represetante não se pode confundir desenvolvimento com crescimento econômico, que são coisas bem diferentes. "O debate hoje é justamente sobre isso. Que tipo de desenvolvimento queremos, a que custo. Precisamos saber para que serve e de onde vem o crescimento econômico".

Xingu: o sangue da nossa sobrevivência

Aproveitando a concentração de diversos povos indígenas, ribeirinhos, pescadores e representantes de movimentos sociais, o Movimento de Atingidos por Barragens (MAB) lança o filme documentário "Xingu: o sangue da nossa sobrevivência" hoje a noite durante o acampamento montado em Altamira.

O vídeo produzido pelo MAB e lançado já em diversos eventos pelo país retrata a trajetória de luta e resistência dos povos do Xingu contra Belo Monte. A produção traz denuncia urgente sobre o uso da água e da energia enquanto mercadoria traçando paralelo com os direitos das populações em terem seus costumes, tradições terras respeitados.

Acesse o vídeo "Xingu: o sangue da nossa sobrevivência".

Fonte: Cimi
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