Prostituição ‘explode’ na maior vitrine do PAC
Um homem de calça jeans surrada, botinas sujas e camiseta preta se levanta da mesa. Tira do bolso uma nota amassada de R$ 2. Alisa a cédula com os dedos grossos e a coloca dentro de um “juke box”. Com cuidado, escolhe a música e, de repente, os clientes do lugar batem palmas. Na vitrola digital, um sucesso do tempo dos Lps. “Eu vou tirar você desse lugar…eu vou levar você pra ficar comigo…”.
A reportagem é do jornal A Crítica e reproduzida por Amazonia.org.br, 02-08-2010.
Em poucos lugares da Amazônia o “hit” de Odair José tem encontrado tantos fãs como
Jaci Paraná é um antigo vilarejo de pescadores a pouco mais de
Dezenas de bordéis de madeira foram erguidos à beira da BR-364, disputando espaço com farmácias, açougues e igrejas. “Isso aqui virou um inferno. As mulheres se vendem em plena luz do dia. Tenho uma filha e tento protegê-la do jeito que dá”, diz a agricultora Maria Martins, 49, mãe de uma adolescente de 12 anos.
Mercado
Que o diga Claudete, 23. Ela é uma das 15 mato-grossenses que trabalham em um bar na beira da BR e que vieram do Estado vizinho. “Num dia bom, a gente faz até sete programas. É muita gente nessas obras e tem muito dinheiro rolando por aqui”, diz a mulher com jeito de menina.
Claudete tem o rosto bonito e só. O corpo tem as marcas dos dois filhos que já teve e da vida sem horários e alimentação regrados. Mesmo acima do peso, é uma das preferidas no “bar das mato-grossenses”.
Claudete chegou a Jaci Paraná há um mês e meio. Deixou os filhos com o pai das crianças e foi em busca do “Eldorado” rondoniense. Uma amiga que já estava no local há seis meses lhe convidou a conhecer o lugar e, até agora, Claudete diz não se arrepender da viagem. “Eu morava em Lucas do Rio Verde (MT) e ela me disse que aqui o movimento era bom. Preciso de R$ 5 mil pra comprar minha casa e já consegui R$ 2 mil”, diz Claudete, que cobra R$ 65 por programa. “Mas se quiserem pagar mais, eu aceito”, brinca.
Exploração
Como a prostituição não é crime no Brasil, as autoridades de Rondônia tentam, com dificuldade, combater a exploração sexual na região. E
Claudete é um exemplo dessa prática. Dos R$ 65 que cobra por programa, dá R$ 15 à dona do bordel para pagar sua alimentação e estadia. “É como se eu fosse funcionária dela”, diz.
O delegado Sandro Alves é o titular da delegacia de Fiscalização de Jogos, Bares e Hotéis de Rondônia. Ele investiga um esquema complexo. Empresários da construção civil financiariam casas de prostituição em que garotas de programas são mantidas em cárcere privado. Noutra ponta, o valor dos programas feitos na casa são descontados no contra-cheques dos operários.
“Esses empresários colocam um testa-de-ferro no negócio que fica responsável pela contratação das meninas. Quando elas chegam, são obrigadas a dar parte do valor dos programas em troca de casa e comida. Muitas são identificadas por pulseiras plásticas. Cada cor equivale a um valor. Já os operários, quando chegam sem dinheiro, são obrigados a deixar os documentos no prostíbulo e só recebem quando a empresa paga a dívida ao bordel”, conta o delegado que não quis revelar mais detalhes da investigação.