26/07/2010

Nota pelo falecimento da anciã Suzana Laia Cujubim

Dona Suzana tinha mais de 80 anos e nos últimos dois anos sofreu várias crises de saúde, dentre elas um derrame em 2008 que a fragilizou completamente. Ela era a única falante da língua, partiu deixando para trás sua irmã Francisca com mais de 70 anos e que também fala um pouco a língua, porém com dificuldade para lembrar das palavras. Suzana tinha três filhas e um filho e vários netos e bisnetos.   Ela nasceu na maloca cujubim no Rio Cautário, hoje atual reserva extrativista. Após o contato e depois de ter casado foi morar e trabalhar com um seringalista na localidade de Porto Acre nas margens direita do rio Guaporé, logo acima da boca do rio Cautário, próximo ao Forte Príncipe da Beira, município de Costa Marques. O sobrenome Laia vem da família desse seringalista que registrou os dois, tanto ela como o seu marido dando-os nomes em português e o seu sobrenome Laia.

 

Com a desativação do seringal e após a morte de seu marido Pedro Laia Cujubim, ela teve que sair do local e passou a morar em Costa Marques com as filhas. Ora morava em Costa Marques ora em Guajará-Mirim, tendo que enfrentar ainda mais uma série de dificuldades. E somente no ano de 2002, com apoio do Cimi, o povo Cujubim conseguiu realizar a sua primeira assembléia, onde demonstraram a grande vontade em voltar para a sua terra tradicional: Onde meus filhos vão, eu vou.. Aqui (em Ricardo Franco) estou sozinha. Eu quero procurar um canto para morar com os meus filhos. Cansei de andar com o pai de meus filhos. Moramos em Ouro Fino, em Costa Marques, abaixo de Porto Acre (rio Guaporé), e depois na Baía das Onças onde um irmão meu morreu afogado.”  Depoimento de Francisca Cujubim(irmã da Suzana) em Ricardo Franco/nov. 98.

 

Das três irmãs anciãs em 2002, hoje resta apenas a dona Francisca para continuar motivando a luta de seu povo pela retomada da terra tradicional, onde nasceram e onde enterraram seus antepassados. Hoje os cujubim vivem espalhados em diversos municípios do Estado de Rondônia e alguns moram na Terra Indígena Guaporé juntamente com outros 9 povos. Dentre suas reivindicações o maior desafio está a demarcação de seu território.

 

Dona Suzana faleceu bem nos dias em que seu povo está se articulando para sua VII assembléia que se realizará nos dias 26 e 27 de julho. Para nós missionários do Cimi é muito triste ver essas pessoas lutadoras e esperançosas partirem sem ter a alegria de pisarem novamente em seu chão sagrado. E nos perguntamos:  até quando Meu Deus?

 

Porto Velho, 23 de julho de 2010.

Maria Petronila Neto

Pelo CIMI/RO

Fonte: Cimi Regional Rondônia
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