23/07/2010

XXXVI Assembléia do Cimi Regional Mato Grosso

Os missionários e missionárias do Cimi Regional Mato Grosso, reunidos por ocasião da Assembléia anual, de 19 a 23 de julho de 2010, refletiram sobre o tema “Economias Indígenas frente aos Projetos Desenvolvimentistas” com a assessoria do sociólogo Ivo Polleto.

 

Os relatos das diversas equipes missionárias, a maioria com longa experiência junto aos povos indígenas de Mato Grosso, descreveram sistemas sócio-econômicos baseados na partilha e na reciprocidade que há milênios garantem a vida destes povos. Muitos alimentos que consumimos atualmente provêm de conhecimentos agrícolas acumulados por essas sociedades como o milho e a mandioca entre outros. As regras que organizam essas economias tradicionais permitem a igualdade social, uma vez que não propiciam a acumulação de bens e estão fundamentadas em princípios sagrados que visam o bem estar comum.

 

Por outro lado, constatamos com grande angústia, que os povos indígenas estão sendo intensamente atingidos e ou ameaçados pelos grandes projetos implementados pelo governo, especialmente as obras do PAC, como a construção de Usinas Hidrelétricas (Bororo e Xavante) e Pequenas Centrais Hidrelétricas – PCHs (Nambikwara, Enawene Nawe, Rikbaktsa, Cinta Larga, Myky, Paresi, Bororo e Iranxe); a Hidrovia do Araguaia (Karajá, Xavante, Kanela, Tapirapé) e as ferrovias planejadas para o Estado de Mato Grosso. Além desses grandes Projetos, persistem antigos problemas como a exploração ilegal de madeira em terras indígenas, arrendamento de terras indígenas para plantio de soja e criação de gado entre outros. As aldeias indígenas vem sofrendo as conseqüências de grandes quantidades de agrotóxicos utilizados nas atividades agrícolas do agronegócio e que vem causando sérias doenças e anomalias. Supostos planos de manejo tem sido utilizados para legalizar a retirada de madeira de terras indígenas ou de áreas reivindicadas por diversos povos sem que o IBAMA e a FUNAI tomem as devidas providências.

 

Toda essa problemática deriva, evidentemente, de um contexto macro-econômico em que o capital tem primazia, segundo os parâmetros neoliberais da sociedade ocidental. Entretanto, vivemos hoje uma crise planetária que questiona profundamente o atual modelo civilizatório pensado como único para todos os povos, a chamada globalização. Isto se manifesta em diversos aspectos como o econômico, o energético, o alimentar, do trabalho, o ético-cultural e, certamente, o mais gritante, a crise ecológica. A humanidade já utilizou um terço a mais dos recursos que a Terra pode nos oferecer. Caso esse tipo de exploração continue, em 50 anos o cenário será catastrófico. Já estamos assistindo aos sinais com que a Natureza está respondendo às agressões sofridas: grandes inundações, terremotos, tsunamis, secas prolongadas, furacões e tornados. A água potável está se tornando um bem cada vez mais escasso e a previsão é que parte considerável da humanidade já não disponha desse bem indispensável à Vida.

 

Este modelo predatório incide diretamente na vida dos povos indígenas e o modelo sócio-econômico-cultural que sempre os sustentou encontra-se fragilizado diante das enormes pressões enfrentadas por eles nos dias atuais. O governo federal tem tomado decisões autoritárias que atingem diretamente os povos indígenas. Os órgãos responsáveis pela defesa e implementação dos direitos indígenas – FUNAI, FUNASA, IBAMA – mostram-se omissos ou inoperantes frente às agressões provocadas pelos projetos desenvolvimentistas com sérias conseqüências para a saúde, a educação, a sustentabilidade e sobre os territórios.

 

O Cimi – Conselho Indigenista Missionário – Regional MT afirma, mais uma vez, seu compromisso com os projetos de Vida dos povos indígenas. Muito teríamos a aprender com eles se ousássemos pautar nossa sociedade pelos parâmetros de sabedoria desses povos, de modo especial, na sua relação amorosa com a Mãe Terra. Assumir seus ensinamentos certamente contribuirá para a recuperação do Planeta e a sobrevivência de todos nós, como já denunciou Davi Kopenawa, liderança Yanomami: “se o homem branco seguir assim e não mudar, não só vai destruir os Yanomami senão a todo o planeta”[i].

 

Portanto, é urgente uma escolha entre a Vida e a Morte: o respeito e a defesa do modo de ser dos povos indígenas poderá nos reconduzir ao caminho da Vida, como nos propõe a Boa Nova do Evangelho.

 

Casa Simão Bororo, Chapada dos Guimarães, 23 de julho de 2010.

 



[i] WWW.acercandoelmundo.com depoimento feito em 20.11.2007.

Fonte: Cimi Regional Mato Grosso
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