24/06/2010

Informe nº 919: Manifestações contra Belo Monte serão intensificadas por movimentos sociais

 

O início desta semana foi marcado por persistentes manifestações contra a visita do presidente Lula a Altamira (PA), região Norte do Brasil. Na última terça-feira (22), centenas de ribeirinhos, ambientalistas, membros de movimentos sociais, estudantes e demais atores sociais contrários à construção da hidrelétrica de Belo Monte se reuniram para manifestar descontentamento com a atitude "ditatorial" do presidente.

 

Foi um momento histórico na vida dos movimentos sociais de Altamira. Desde segunda-feira (14) até o dia 21 foram realizadas diversas reuniões com o objetivo de articular ações de protesto contra a construção da hidrelétrica. O momento foi mais que oportuno, já que Lula viria a Altamira falar de projetos como o Luz Para Todos, asfaltamento da Transamazônica, BR 163, mineração em Marabá, barragens no rio Tapajós e usina de Belo Monte.

 

Os movimentos contrários a tais obras propostas pelo governo federal sabem que a pauta principal da visita seria Belo Monte, um dos grandes motes do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que está sendo empurrado goela abaixo, como afirma o bispo da Prelazia do Xingu e presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), dom Erwin Kräutler.

 

Várias ações foram planejadas para receber o presidente e mostrar a ele todo o descontentamento em relação a Belo Monte. No dia 21, por volta das 5h, cerca de 400 manifestantes, entre moradores de Altamira, agricultores familiares, ribeirinhos e representantes de movimentos sociais, fecharam a rodovia Transamazônica na altura do km 18, trecho de Altamira a Marabá.

 

Durante o bloqueio diversas faixas acusavam o Estado de desrespeito aos povos indígenas do Xingu, ameaçados pelo crescimento da pobreza, violência e problemas ambientais. O protesto foi encerrado às 15h, após o grupo avaliar que o recado já havia sido dado e amplamente divulgado pela imprensa nacional e internacional.

 

Na manhã do dia 22, com carros de som e disposição para mais uma batalha, os manifestantes recomeçaram o grito contra a usina. O grupo se concentrou na Praça do Matias, na orla do cais de Altamira, de onde seguiu em passeata para o estádio Bandeirão, local em que o presidente estava para lançar a pedra fundamental dos projetos Luz para Todos e Belo Monte, bem como o asfaltamento da Transamazônica.

 

Infelizmente, o que se viu aí, novamente, foi o descaso do poder público com os interesses dos povos indígenas. Os manifestantes foram impedidos de entrar no estádio e se posicionar contra tais obras. “Essa atitude foi mais uma prova do governo ditatorial que temos que não escuta a população e privilegia interesses de poucos”, afirmou Michel Alves, do Movimento de Atingidos por Barragens (MAB).

 

Alguns manifestantes, no entanto, conseguiram furar o bloqueio dos seguranças e de todo o aparato policial. Eles entraram no estádio e se colocaram claramente contra Belo Monte, conseguindo em alguns momentos deixar o presidente irritado. O grupo, que era pequeno, apenas 20 pessoas, deu o recado com uma faixa onde se lia “Não queremos Belo Monte”.

 

Para Antônia Melo, do Movimento Xingu Vivo para Sempre, a ida de Lula a Altamira para oficializar a construção da usina foi um desacato. “Mais uma vez o presidente mostrou sua arrogância e prepotência ao lidar com as questões apontadas pelos povos indígenas e demais comunidades que serão atingidas pela obra”.

 

Forte esquema de segurança

 

O forte esquema de segurança montado para receber o presidente e demais agentes do poder público chamou atenção. Todo o aparelho de segurança do Pará estava destacado em Altamira – Polícia Federal, Força Nacional, Exército, polícias Militar e Civil e Guarda Municipal – sem mencionar o grande número de seguranças particulares que faziam cordão de isolamento para barrar a chegada dos manifestantes aos locais em que Lula passava.

 

“O que aconteceu foi um forte esquema de repressão contra nossa entrada. Revistaram nossas bolsas numa atitude autoritária e não nos deixaram entrar. Apenas 20 pessoas, de um grupo de 400, conseguiu acompanhar a fala do Lula. Nós éramos minoria lá dentro, mas fomos firmes e fortes e conseguimos dar o nosso recado: Não queremos Belo Monte”, afirmou Melo.

 

Não bastando a força policial, a visita ainda contou com a proteção de diversos militantes do Partido dos Trabalhadores (PT) e com um helicóptero que durante toda a manifestação sobrevoava o grupo com a intenção clara de intimidá-lo. O clima ficou tenso e em alguns momentos, houve inclusive bate boca entre tais militantes e os manifestantes.

 

Próximos passos

 

Ontem (23), os movimentos sociais, universitários, professores, comunidades indígenas e ribeirinhas se encontraram para avaliar as manifestações e traçar estratégias para as próximas ações contra a obra. Para Melo as ações dessa semana foram muito positivas. “Foi um passo a mais na luta contra Belo Monte. Sabemos que é uma batalha entre Davi e Golias, uma briga desigual, com o governo fazendo uso de estratégias sujas e desonestas, como cooptação, ameaças, perseguições e intimidações, mas não vamos desistir”.

 

O grupo vai intensificar a luta junto às comunidades, principalmente aquelas que serão atingidas. Nos próximos meses visitarão, de porta em porta, as famílias que vivem nesses locais para terem um retrato da real situação. Para os movimentos contrários a Belo Monte os dados apresentados pelo governo não correspondem à realidade.

 

“Nós dos movimentos sociais vamos continuar pressionando o governo e, principalmente, buscando apoio da sociedade. Continuamos na resistência, acionando a Justiça e os orgãos federais que estão sendo coniventes com tal obra, apoiando o governo Lula nesses crimes cometidos por meio da construção de Belo Monte”, declarou Melo.

 

 

 

Leia também:

 

Nota sobre a visita de Lula ao Pará

 

Belo Monte e a jactância autoritária de Lula, por Telma Monteiro

 

  

Fonte: Cimi
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