23/06/2010

Belo Monte e a jactância autoritária de Lula

Por Telma Monteiro

 

Lula esteve em Altamira para “lançar” Belo Monte. Foi acompanhado de autoridades e políticos em campanha. Políticos adoram grandes obras. Campanhas eleitorais no Brasil costumam receber apoio financeiro de empreiteiras e de concessionárias de serviços públicos. Em especial do setor energético onde se vê o desenvolvimento de grupos de poder nacionais e internacionais unidos aos partidos políticos para benefício mútuo.

 

Para Lula não passamos de medíocres e meia dúzia de jovens desinformados porque não conhecemos o projeto da hidrelétrica de Belo Monte. Compartilhando experiências, disse que quando jovem foi protestar contra a usina de Itaipu.  Na época ele acreditou que Itaipu iria alterar o clima da região, causar terremoto, que o peso da água mudaria o eixo da Terra e que a Argentina seria inundada. É bom esclarecer que tirando a história idiota da mudança do eixo da Terra, os demais impactos acontecem no caso de grandes hidrelétricas. Se ele considera fantasias é por pura falta de conhecimento e não de informações disponíveis.

 

Ao nos chamar de meia dúzia de jovens bem intencionados e mal informados esqueceu que entre esses [jovens] estão a equipe técnica do Ibama que analisou o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) de Belo Monte, os técnicos e procuradores do Ministério Público Federal (MPF) que se debruçaram por meses sobre o calhamaço de informações do processo, dos especialistas da academia que emitiram seus pareceres, do juiz da Vara de Altamira, Antonio Carlos Campelo, que acompanha o caso desde a primeira ação ajuizada, das organizações da sociedade civil que contam com pessoal habilitado em questões ambientais, dos movimentos sociais da região do Xingu que vivem o dia a dia do rio, dos indígenas que conhecem profundamente o comportamento do ecossistema do qual suas vidas dependem.

 

Mais uma vez a falta de conhecimento de Lula atrapalha seu discernimento. Quem não conhece o projeto de Belo Monte e não tem paciência para ouvir é ele, apesar de tudo o que já foi publicado e falado a respeito. Em Altamira ele se jactava. Jactou-se de histórias, pseudo-experiências e afirmações que empolgam uma platéia constituída de cabos eleitorais e bajuladores dele e da governadora do Pará. A retórica é o seu velho e gasto artifício utilizado quando precisa fazer cara de paisagem política.

 

Em se tratando de um presidente que se vangloria de ter chegado aonde chegou sem que fosse preciso ter estudado, não surpreende que tenha desprezado as conclusões de acadêmicos e especialistas.  Pensando bem, quando Lula nos chama de desinformados pode estar se referindo à falta de outras informações sobre Belo Monte, que não estão disponíveis. 

 

Nesse caso podemos mesmo estar desinformados.  Entre as informações que Lula diz que tem e afirma que não temos, pode estar a estratégia de utilização dos recursos de energia para aumentar sua influência na política regional. Ou a pretensão de ser lembrado no futuro como um estadista que encontrou o ideal da política energética com a exploração da Amazônia. Outra possibilidade seria a de que ele detém as últimas informações sobre áreas específicas de importância relativas ao objetivo de transformar o Brasil na quinta economia global.

 

O diálogo e o debate não são importantes para Lula e a prova está no seu discurso que ignorou completamente o resto da sociedade.  Embora o engajamento de Lula na construção de Belo Monte seja surpreendente, ele tem explicação. Um país rico em recursos naturais como o Brasil tem tudo a oferecer, hoje, ao mundo, para atrair a cobiça das grandes potências.

 

Por outro lado, o setor privado brasileiro não quer investir em obras com viabilidade econômica duvidosa, idealizadas por estatais hipertróficas, como se viu no imbróglio do leilão de Belo Monte. Não sendo possível obter taxas de retorno compatíveis com os altos custos sociais e ambientais, deixa-se o investimento, o financiamento e os riscos para o Estado que parece ser rico o suficiente.

 

O engajamento de Lula na campanha de exploração do potencial energético da Amazônia é uma espécie de espectro pairando entre dois extremos: o de nenhum governo e o de uma ditadura. Claramente esse presidente está incentivando falsas parcerias público-privadas, como no caso de Belo Monte, onde quem banca e corre riscos é só o Estado, com o fim de atingir objetivos políticos específicos e hegemônicos. Lula quer voltar em 2015 para continuar sua obra. Nada mais.

 

Fonte: Blog Telma Monteiro
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