19/05/2010

Diversidade ecumênico-cultural marcou ato de abertura do III Congresso da CPT

Uma mistura de cores, ritmos, crenças, sotaques e culturas se encontraram na celebração de abertura do III Congresso Nacional da Comissão  Pastoral da Terra, na noite da última segunda-feira (17/05), no Colégio São José, Marista, em Montes Claros (MG). O momento de acolhida celebrou as lutas, a preservação dos territórios e relembrou os Congressos da CPT, que buscaram, ao longo de sua história, defender a cultura camponesa. Sob o lema “No clamor dos povos da terra, a memória e a resistência em defesa da vida”, é chegado o momento de refletir sobre os novos desafios apontados por camponeses e camponesas para as ações e presença da CPT nos próximos anos.

 

Os trabalhadores rurais de Minas Gerais saudaram os participantes, destacando a importância do Congresso. A agricultora Laureci Ferreira Silva do assentamento 2 de Junho (Olhos D’água) destacou a presença expressiva  das mulheres e dos jovens que vão dar mais força aos trabalhos. Já Cristovino do assentamento Americano (Grão Mogol), fez questão de alertar sobre a preservação do meio ambiente. “A natureza não precisa de nós, é a gente que precisa dela!”, afirmou. Dom José Alberto Moura, bispo da Diocese de Montes Claros, destacou a alegria de receber pessoas de várias regiões, no momento em que a Arquidiocese está celebrando 100 anos de existência. O Presidente Nacional da CPT, Dom Ladislau Biernaski, oficializou a abertura das atividades. “Nosso Congresso quer ser de fato um espaço de comunhão, para refletir sobre propostas que defendam nossos biomas contra os que só pensam a terra para  a explorar e concentrar.”

 

Questão ambiental no centro do debate da conjuntura político-econômica

 

Os participantes do III Congresso Nacional da CPT passaram a manhã de ontem, dia 18, dedicados à análise da conjuntura sociopolítica e econômica brasileira, e à reflexão sobre os desafios para os camponeses e movimentos sociais do país. Contribuiu com a análise, o pesquisador César Sanson, do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores, CEPAT. O pesquisador destacou que ”os problemas ambientais enfrentados hoje pela humanidade são uma das mais graves consequências do modelo econômico hegemônico e expressam as contradições e a inviabilidade da continuação do modelo de produção existente hoje no Brasil e no mundo”.

 

Os trabalhadores e os movimentos sociais são hoje os principais protagonistas na construção de um projeto popular que se contraponha ao atual modelo de produção, destacou o pesquisador. Em depoimento durante a plenária, o quilombola Manoel Santana, da comunidade Charco, localizada no município de São Vicente Ferrer (MA) mostrou o exemplo de luta e resistência das comunidades tradicionais contra o atual modelo de produção. As 92 famílias da comunidade já garantiram o direito à terra, mas continuam tendo que resistir à pressão do agronegócio.     

 

Capitalismo desrespeita a natureza e o direito à vida

 

No início da tarde desta terça-feira, os participantes puderam refletir sobre a Conjuntura Ecológica, com a assessoria de Carlos Walter Porto-Gonçalves, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF). Sua fala reafirmou o que Cesar Sanson falara pela manhã. Destacou que o capitalismo é essencialmente antiecológico. Para isso, primeiro expulsou os deuses presentes na natureza na concepção das comunidades originárias, depois separou o homem da natureza e, como consequência, se deu a expulsão dos camponeses da terra, transformando-os em força de trabalho. O capitalismo se fortaleceu com a dominação da natureza, vista unicamente como mercadoria, e com a afirmação de que os recursos naturais são ilimitados. Esta visão, neste momento, está em crise diante das mudanças climáticas e do aquecimento global. O professor afirmou, ainda, que nos últimos 40 anos, a humanidade enfrentou o período mais devastador e ameaçador contra a biodiversidade e, ao mesmo tempo, foi o período em que mais se falou em defesa do meio ambiente. “O problema do aquecimento global não é uma falha do Capitalismo, é pior, é fruto do seu êxito! E se a gente quiser salvar a vida do planeta, tem que combater o capitalismo que quer se aproveitar da crise ambiental para aumentar seus lucros”, destacou.

 

Importância dos movimentos rurais

Para Carlos Walter, o movimento ambientalista não incorporou à defesa do meio ambiente a luta contra o avanço do capitalismo, que é essencialmente anti-ecológico. As contribuições mais expressivas neste embate vêm dos quilombolas, indígenas, ribeirinhos e a ação da CPT junto a esses povos é de suma importância. “Está faltando uma auto-organização dos movimentos, investir em encontros dos assentados e fortalecer ainda mais a luta’”, afirmou o pesquisador.

Fonte: CPT - assessoria de comunicação
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